No ambiente atual, nem as LFTs são à prova de risco

Nos últimos meses, os aplicadores em Letras Financeiras do Tesouro (LFT) tiveram rendimento diferente conforme o prazo de vencimento que escolheram investir. O título é atrelado à taxa Selic e considerado como sendo o de menor risco de mercado.

No ano, as LFTs com resgate estipulado para datas mais distantes registram ganhos inferiores ao dos papéis que vencem em períodos mais próximos. A conta considera tanto os juros acumulados no período quanto o ganho de capital e a diferença entre as taxas de compra e venda.

No Tesouro Direto, o sistema de comercialização de títulos públicos administrado pelo Tesouro Nacional, a LFT é chamada de Tesouro Selic. O relatório do Tesouro Direto indica que a rentabilidade acumulada no ano até o dia 20 de maio do papel com vencimento em 2021 foi de 4,77%. A LFT com resgate programado para 2017 rendeu 5,11%.

A rentabilidade de ambas ficou menor do que a variação da taxa Selic e do certificado de depósitos interfinanceiros (CDI) no mesmo intervalo. O ganho acumulado dos indicadores foi de 5,17% e 5,16%, respectivamente.

Esse comportamento não é comum e a explicação parece ser a preferência dos investidores por reduzir o tempo até o resgate das aplicações. Por essa razão, os títulos de curto prazo ficaram mais valiosos em relação aos de longo prazo.

Mesmo com a correção diária de acordo com os juros que foram acordados – a taxa Selic no caso das LFTs –, os papéis de renda fixa possuem comportamento semelhante ao de qualquer ativo.

Significa que se houver aumento da demanda, o preço do título sobe e, como consequência, a rentabilidade dos detentores do papel comprado em momento anterior é maior. O oposto acontece no caso de queda da procura, com a consequente perda do valor de mercado.

Atualmente, apenas a opção com vencimento em março de 2021 está disponível para compra no Tesouro Direto. O investidor não pode adquirir a LFT com resgate em 2017 no sistema. Ambos os títulos podem ser vendidos normalmente, sem restrições.

O histórico da cotação das taxas de compra e venda mostra a mudança de preferência dos aplicadores. No começo do ano a taxa de compra da LFT com vencimento em 2021 era 0%. Isso significa que o investidor conseguia remuneração equivalente à taxa Selic.

A taxa de venda era de 0,04%. Quer dizer que para se desfazer do papel o investidor era obrigado a conceder um desconto no preço do título de tal forma que o Tesouro recebesse uma remuneração equivalente à taxa Selic mais 0,04% ao ano.

Mais recentemente, as taxas de compra e venda subiram para 0,03% e 0,07%, respectivamente. Como resultado, a aplicação na LFT com vencimento em 2021 passou a render ao investidor a taxa Selic mais 0,03% ao ano.

Mas, para se desfazer do papel, quem comprou no começo do ano com a remuneração equivalente à taxa Selic é obrigado, agora, a aceitar um desconto no valor do título de tal forma que o rendimento suba para taxa Selic mais 0,07% ao ano. Esse ajuste explica a rentabilidade do papel inferior ao CDI em 2016.

Já a LFT com vencimento em 2017 tinha, no começo do ano, taxa de compra de 0% e venda de 0,02%. Agora, a taxa de compra continua em 0%, mas a taxa de venda recuou para 0,01%. A redução da diferença entre as taxas explica a maior rentabilidade do papel curto em relação ao longo.

As mudanças nos valores de mercado são pequenas, mas causam desconforto. Principalmente considerando que as LFTs são títulos usados para remunerar a sobra de caixa e administrar a liquidez.

Outro indicador relevante para acompanhar a temperatura do mercado de títulos públicos são as taxas de colocação nos leilões periódicos realizados pelo Tesouro Nacional.

Para financiar o déficit orçamentário – estimado em R$ 170 bilhões para este ano – e rolar a dívida pública, o governo capta recursos por meio da emissão de papéis. O Tesouro faz a administração desse fluxo.

Também nesse ambiente vale a regra geral de que a demanda menor implica desconto maior no valor de mercado dos títulos. O gráfico abaixo mostra a evolução da taxa de colocação de LFTs nos leilões periódicos realizados desde janeiro de 2011.

LFT

Os números mostram o aumento recente das taxas, indicando que o desconto sobre o valor de face dos papéis aumentou e justificando a cotação dos títulos no Tesouro Direto.

Dado o atual ambiente de incertezas, é importante acompanhar a evolução dos preços de mercado das LFTs para identificar possíveis tendências no mercado de títulos públicos. Descontos elevados nos títulos atrelados à taxa Selic podem significar problemas.

Robôs ampliarão o alcance da assessoria financeira

No passado, investir em títulos atrelados à variação da taxa dos certificados de depósitos interfinanceiros (CDI) era algo relativamente complexo e caro. Hoje, graças à robustez dos códigos de computação e à proliferação de programas e aplicativos, basta um clique para que o negócio seja concretizado praticamente sem custos.

A edição de fevereiro e março da revista da Morningstar, uma provedora de serviços de informações sobre investimentos, discutiu o crescimento da utilização dos robôs no segmento de assessoria financeira.

Tradicionalmente, o objetivo da tecnologia no mercado de investimentos tem sido o de ampliar e tornar mais eficiente o processo de distribuição de produtos e serviços. Com o desenvolvimento da informática, em vez de depender de um profissional da linha de frente, o cliente passou a realizar suas operações diretamente por intermédio do computador, celular ou caixa eletrônico.

Isso ampliou a quantidade de transações executadas e proporcionou ganhos de escala às instituições financeiras. Parte do aumento da produtividade foi revertida para os clientes, por meio de custos mais baixos ou relatórios mais elaborados.

O passo seguinte foi o de aumentar o leque de informações sobre as alternativas de investimento disponíveis. Como consequência, diversos sites na internet passaram a oferecer ferramentas onde é possível selecionar ativos, comparar opções e simular resultados, além de realizar as aplicações.

A tendência mais recente é que robôs façam sugestões de alocação de recursos com base nas informações fornecidas pelo investidor sobre os objetivos da aplicação e da tolerância aos riscos de perda do capital. A partir daí o cliente pode decidir investir na carteira sugerida, que é reajustada periodicamente de maneira automática conforme mudem as condições de mercado.

Os modelos de construção de carteiras envolvem estimar o maior retorno possível para um determinado nível de risco. O gráfico abaixo indica a relação entre o ganho acumulado e a oscilação da rentabilidade desde janeiro de 2015 até abril de 2016 para os principais indicadores do mercado financeiro brasileiro.

CarteiraIdeal

A ideia é combinar os ativos de tal maneira a conseguir as ponderações mais eficientes, tendo em vista os objetivos que foram estipulados. O processo de assessoria financeira busca estabelecer parâmetros conforme as necessidades específicas de cada cliente.

Como em qualquer modelo, para tirar o máximo de proveito é preciso entender a lógica das premissas. Segundo os especialistas, existe um ciclo de aprendizagem.

Em um primeiro momento, nossa preferência é conversar com uma pessoa que possa nos explicar em detalhes as estratégias de investimento sugeridas. Depois, conforme vamos nos aprofundando a respeito do assunto, a tendência é ganharmos confiança para tomar decisões autônomas e executá-las via Internet.

Para Don Phillips, diretor executivo da Morningstar, a qualidade da assessoria financeira está em alta. Paradoxalmente existem hoje nos Estados Unidos menos assessores financeiros em relação ao que havia no passado. Entretanto, a demanda por serviços mais elaborados aumentou.

A tecnologia permite que os assessores financeiros adotem um tratamento mais amplo, o que no jargão de mercado é chamado de abordagem holística. Trata-se de um conceito teórico segundo o qual a totalidade dos fatores interagem, formando um todo que não pode ser entendido isoladamente.

No caso específico da assessoria financeira, para definir a composição mais eficiente da carteira é necessário conhecer em detalhes todas as necessidades do cliente. Muitas vezes, apenas com uma conversa pessoal é possível identificar os parâmetros relevantes para um planejamento abrangente.

A consequência prática da evolução tecnológica é uma mudança na forma de remuneração do trabalho dos prestadores de serviço. Em vez de as comissões estarem relacionadas com o valor do patrimônio dos investidores, cada vez mais o ganho dos assessores financeiros estará fundamentado no valor que o profissional puder agregar para seus clientes.

Os robôs estão se tornando uma plataforma importante para os assessores financeiros. Como a tecnologia ajuda a economizar tempo e aumentar a escala de prestação de serviços, torna-se possível atender mais clientes.

Fazendo uma analogia com o Uber, que estimulou o setor de serviços de transporte em carros particulares, graças aos robôs é possível imaginar uma expansão significativa do mercado de assessoria de investimentos.

Recessão reduz expectativa de inflação e mercado reage

Os investidores com aplicações em títulos públicos com taxas prefixadas acumulam rendimento no ano ao redor de 8,57% até o dia 8 de abril de 2016. Esse é o ganho até o momento do IRF-M, índice que acompanha o desempenho de uma cesta de papéis prefixados emitidos pelo Tesouro Nacional.

No mesmo período, a variação acumulada das taxas dos Certificados de Depósitos Interfinanceiros (CDI) foi de 3,58%. Já a rentabilidade dos títulos públicos indexados ao IPCA foi de 5,61%, conforme o indicador IMA-B. O Ibovespa teve rendimento de 16,02% e o dólar registrou queda de 5,89%.

São números marcantes, pois o cenário base no começo do ano era de que o Banco Central (BC) iria continuar aumentando a taxa Selic para tentar reduzir a inflação. O aumento dos juros de curto prazo, na maior parte das vezes, implica prejuízo para os detentores de títulos prefixados de longo prazo.

Portanto, o maior rendimento das aplicações prefixadas surpreendeu, pois não era o que a maioria dos analistas e gestores de recursos projetava.

A deterioração da situação econômica brasileira, com queda acentuada da produção, redução do consumo e aumento rápido das taxas de desemprego foram os fatores que influenciaram o comportamento dos indicadores de mercado.

Em termos pragmáticos, houve diminuição da expectativa da inflação para 2016. O reflexo foi a interrupção dos reajustes para cima das projeções que vinham sendo feitas pelos analistas consultados pelo BC e divulgadas regularmente no boletim Focus.

Em agosto de 2015 a mediana das estimativas apontava que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficaria em 5,5% em 2016. No fim do ano, a projeção tinha aumentado para 6,8%.

Em fevereiro de 2016 ocorreu o ponto mais alto da série, quando a mediana das expectativas alcançou 7,62%. Desde então, em função do cenário ruim da economia, as projeções começaram a ser revistas e, hoje, apontam para inflação de 7,14% no ano.

Outra maneira de estimar a inflação futura é comparar a diferença entre as taxas de juros dos títulos prefixados com a parcela prefixada da remuneração dos papéis indexados ao IPCA.

No jargão do mercado brasileiro, o cálculo é chamado de inflação implícita. Para os operadores internacionais, o indicador é conhecido como ponto de equilíbrio da inflação.

O conceito parte da premissa de que os mercados são eficientes. Sendo assim, seria indiferente para o investidor aplicar no título prefixado ou no papel indexado à inflação, porque a remuneração final de ambos seria a mesma.

A explicação para o fato de a inflação implícita oscilar diariamente também é amparada por considerações teóricas. Isso ocorreria porque novas informações vão sendo incorporadas regularmente nas análises e, por isso, afetam as projeções de maneira constante.

Um exemplo prático pode ser obtido ao se contrapor a remuneração da Letra do Tesouro Nacional (LTN) com vencimento em janeiro de 2019 e os juros da Nota do Tesouro Nacional da série B – Principal (NTNB-P) com resgate em maio de 2019. Essa diferença está ilustrada pela linha laranja do gráfico.

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A mediana das expectativas de inflação para 2016, conforme divulgadas pelo BC está indicada pela linha azul. Os dados abrangem o período desde janeiro de 2016.

No começo de 2016, a remuneração da LTN era de 15,77% ao ano. O rendimento da NTNB-P era de IPCA + 7,23% ao ano. A diferença, em termos de juros compostos, entre a taxa da LTN e da NTNB-P era de 7,96% ao ano.

Teoricamente, os números significam que o IPCA no período deveria ser de 7,96% ao ano para que a aplicação na NTNB-P tivesse o mesmo rendimento do investimento na LTN.

Na mesma data, a projeção dos analistas para a inflação em 2016 era menor, de 6,92%. Significa, então, que a expectativa dos operadores de mercado dada pelo cálculo da inflação implícita indicava que a inflação iria aumentar nos anos de 2017 e 2018.

Mais recentemente houve uma inversão. Os cálculos, agora, apontam para inflação implícita média de 6,79% ao ano até 2018. Os analistas, por sua vez, projetam IPCA de 7,14% para 2016.

Se o cenário de mercado for confirmado, a inflação em 2017 e 2018 será mais baixa do que a atual. O que, estrategicamente, favorece as aplicações em títulos prefixados.

No entanto, dado o ambiente político, é importante agir com prudência. Os conceitos de mercados eficientes que embasam os cálculos consideram um mínimo de estabilidade na governabilidade do país.

O efeito da persuasão nas propostas de investimentos

A alta recente do preço dos ativos brasileiros decorre da combinação de dois fatores. Por um lado, a esperança de uma eventual mudança no comando do governo que possa melhorar o atual ambiente econômico. E, por outro, um componente externo, representado pela valorização do petróleo no mercado internacional, que indicaria recuperação da economia mundial.

A consequência é que o investidor tem sido bombardeado com uma série de conselhos para aproveitar o momento da forma mais rentável possível. A recomendação padrão é aumentar o risco da carteira, investindo em bolsa e em títulos públicos de longo prazo.

Entretanto, é preciso cautela. O argumento de que o possível impeachment da presidente Dilma será uma ocasião única na história do país e, portanto, representará uma oportunidade rara para lucrar com determinadas posições no mercado financeiro parece exagerado.

O psicólogo social Robert B. Cialdini, autor de “O Poder da Persuasão”, estudou as ferramentas que podem ser utilizadas como armas de influência. Como regra geral, a persuasão é exercida por alguém interessado em vender um produto ou serviço.

Do ponto de vista pragmático, invariavelmente passamos por situações em que a sensação final foi a de termos comprado algo que, mais tarde, constatamos que não precisávamos. O objetivo da pesquisa de Cialdini foi tentar explicar as razões que nos levam a cair em algumas armadilhas.

Na definição do especialista, a influência acontece de seis maneiras diferentes: reciprocidade, compromisso e coerência, prova social, simpatia, autoridade e escassez. As técnicas de persuasão elencadas são usadas para concretizar a transação almejada. Conhecê-las ajuda a evitar arrependimentos.

A reciprocidade ocorre quando recebemos uma amostra de um produto e nos sentimos compelidos a comprá-lo. Pode acontecer no supermercado, quando degustamos um novo lançamento.

Compromisso e coerência são usados para vincular uma ação que praticamos regularmente com um determinado produto. Por exemplo, se viajamos de férias frequentemente, parece uma consequência natural participarmos de um programa de tempo compartilhado (“time sharing”) em hotéis.

A prova social está relacionada com a importância exercida sobre nossas decisões pelas preferências do grupo do qual fazemos parte. Por exemplo, se pessoas do nosso relacionamento recomendam um restaurante, fatalmente iremos visitá-lo.

O poder da simpatia pode ser sentido quando nos relacionamos com um bom vendedor. Uma pessoa que se coloca do nosso lado quando estamos negociando uma compra, barganhando descontos com seus superiores, será encarada de maneira positiva e nossa tendência é considerá-la como nossa parceira.

A autoridade se manifesta, sutilmente, quando uma celebridade indica que devemos adquirir certo produto. Ou quando seu chefe recomenda que você faça determinado curso de especialização.

Já a escassez ocorre quando sentimos que devemos aproveitar uma oportunidade única que está diante de nós. São ofertas do tipo é hoje ou nunca.

Especificamente no mercado financeiro, o risco de partir para estratégias de tudo ou nada para aproveitar oportunidades aparentemente históricas é perder boa parte da poupança acumulada ao longo de anos, caso o investimento dê errado. Isso sem contar com a possibilidade de cair em esquemas fraudulentos.

A melhor defesa, nesses casos, é avaliar as alternativas disponíveis de maneira fundamentada e buscar a diversificação das aplicações. O gráfico abaixo ilustra como é possível lucrar no ambiente atual, mantendo o risco controlado.

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A linha azul claro mostra a evolução mensal do cupom da Nota do Tesouro Nacional da série B Principal (NTNB-P) com vencimento em maio de 2019 negociada no Tesouro Direto, o sistema de venda de títulos públicos via internet administrado pelo Tesouro Nacional.

O cupom, nesse caso, é o ganho anual esperado, desde o momento da aquisição do título até o vencimento, que irá superar a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). É o juro real da aplicação.

Já a linha laranja indica a diferença entre a rentabilidade do certificado de depósito interfinanceiro (CDI) e a variação do IPCA no período móvel de 12 meses. É o ganho real efetivamente obtido no passado com uma aplicação indexada ao CDI.

A linha horizontal azul escuro mostra o ganho médio real anualizado do CDI no período entre janeiro de 2013 e fevereiro de 2016, que ficou em 2,4% ao ano.

Os dados mostram que existe uma perspectiva de rentabilidade maior com a aplicação na NTNB-P. Entretanto, o investimento no CDI não tem desapontado.

A despeito das potenciais oportunidades decorrentes da turbulência política e econômica, o investidor não deve se descuidar. Controlar os riscos e seguir um planejamento financeiro a longo prazo aumenta a probabilidade de obtenção de ganhos consistentes.

Mercado, agora, compra o discurso do BC

No começo do ano, a aposta predominante era que o Banco Central (BC) iria aumentar a taxa Selic para conter a inflação. Entretanto, na reunião do comitê de política monetária (Copom) de janeiro, a decisão foi manter os juros básicos inalterados.

Houve muitas críticas à atuação do BC. O reflexo foi sentido no aumento da taxa dos títulos prefixados de longo prazo. A expectativa era que a inflação fosse disparar, apesar da argumentação da maioria dos diretores do BC sobre os efeitos da recessão econômica no repasse de preços.

Agora no começo de março, ocorreu mais uma mudança. As taxas de todos os títulos prefixados emitidos pelo Tesouro estão em patamar abaixo do que estavam em janeiro. O gráfico abaixo ilustra esses três momentos.

Mudança de mão

Relação entre juros e prazo de vencimento das LTNs

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Fonte: Tesouro Nacional

A linha azul do gráfico mostra a curva de juros representada pelas taxas das Letras do Tesouro Nacional (LTN) com vencimento em 1/10/2016, 1/4/2018 e 1/1/2010 no dia 7 de janeiro deste ano.

A linha verde une os mesmos vencimentos de LTNs conforme as cotações do dia 21 de janeiro, um dia após a contestada decisão do BC. As taxas dos papéis com vencimento em abril de 2018 e janeiro de 2020 aumentaram. A taxa do título com prazo de outubro de 2016 caiu.

Já a linha vermelha indica as taxas praticadas no dia 3 de março, o dia seguinte da segunda reunião do Copom do ano. Todos os vencimentos estão com taxas mais baixas.

Para o investidor, a lição do episódio é que o mercado é volúvel. Portanto, opiniões embasadas apenas nas flutuações das cotações de mercado precisam ser encaradas com cautela.

O tamanho da recessão de 2015 atestada pelo Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE) já estava no radar do BC, conforme indicava o índice IBC-BR. Para frente, vale a pena levar em conta os argumentos do Copom.

Mesmo com riscos, LTN 2018 é opção

Entre 2000 e 2015, a dívida pública mobiliária federal interna do Tesouro Nacional somada com as operações de mercado aberto do Banco Central (BC) cresceu no ritmo de 13,9% ao ano. Em dezembro de 2000 o valor era de R$ 507 bilhões e subiu para R$ 3,5 trilhões no fim de 2015.

Esse é o montante de recursos que o Tesouro e o BC tomam emprestado no mercado financeiro nacional para financiar os gastos do governo. Quando há déficit orçamentário, a diferença entre receitas e despesas acaba sendo incorporada ao estoque da dívida, assim como a parcela de juros que foi refinanciada.

O Tesouro vende títulos em leilões periódicos. Já o BC capta via negociações de curto prazo com instituições financeiras, usando papéis emitidos pelo Tesouro como lastro das operações.

Os grandes investidores podem comprar diretamente os títulos públicos participando dos leilões ou por meio da intermediação de bancos e corretoras. Para o pequeno investidor, a alternativa mais acessível é o Tesouro Direto, o sistema de negociação de títulos públicos via internet.

Indiretamente, os investidores podem aplicar nos papéis do governo comprando cotas de fundos de investimento. Segundo a Anbima, a associação que representa o setor, 67% do patrimônio das carteiras está investido em papéis do Tesouro ou operações compromissadas.

Os títulos públicos também representam parcela significativa dos ativos dos bancos. Ao comprar um Certificado de Depósito Bancário (CDB), Letra Financeira (LF) ou Letra de Crédito Imobiliário (LCI), o investidor está, indiretamente, contribuindo para financiar o governo.

O Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que funciona como uma espécie de avalista em alguns casos de liquidação ou intervenção em bancos, aplica a maior parte das reservas em títulos públicos. Também seguem essa estratégia as seguradoras que atuam nos variados ramos, tais como automóveis, saúde, vida e previdência.

A possibilidade de ampla inadimplência no sistema financeiro é um evento extremo. No filme A Grande Aposta, vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado, o principal temor dos personagens era um calote generalizado ocasionado pelo excesso de títulos hipotecários podres no balanço dos bancos.

Por ser a alternativa mais segura, é natural que investidores e instituições financeiras concentrem as aplicações em títulos emitidos pelo Tesouro. Entretanto, os governos também precisam demonstrar que mantém contas organizadas.

Um indicador para medir a solvência de um país é a relação entre dívida total e o valor nominal do Produto Interno Bruto (PIB). A ideia é que as receitas do governo, e portanto sua capacidade de pagamento da dívida, acompanhem o tamanho da economia.

No Brasil, entre 2000 e 2015, o PIB aumentou 11,4% ao ano, o que significou uma defasagem de 2,3% ao ano em relação ao crescimento da dívida no mesmo período. Como consequência, o grau de endividamento do Brasil subiu de 41% para 60% do PIB, considerando apenas a dívida mobiliária e as operações do BC.

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Se o ritmo for mantido, em 5 anos o endividamento será de 67% do PIB. É um nível elevado para países emergentes, apesar de confortável para economias desenvolvidas.

Nos últimos dois anos a situação foi mais crítica. O endividamento cresceu 18% ao ano, enquanto o PIB aumentou 7% ao ano. Nesse passo, o endividamento atingiria 80% do PIB em três anos.

Conceitualmente, o déficit do governo pode fomentar o aumento da demanda e provocar crescimento da economia. Para que esse mecanismo funcione, no entanto, a percepção deve ser de que as contas públicas continuarão equilibradas.

Caso contrário, o déficit de hoje é encarado como indicação de mais impostos no futuro. Consumidores e empresários, então, antecipam esse ciclo e reduzem os gastos e investimentos imediatamente.

A falta de credibilidade do atual governo pode ter sido a razão para que, nos últimos dois anos, a economia brasileira tenha encolhido em termos reais, descontada a inflação. Isso ocorreu apesar do déficit fiscal expressivo.

Como a política econômica sinaliza que irá continuar na mesma toada, as projeções são de um ambiente muito ruim até meados de 2018, ano de uma nova disputa eleitoral.

Em um cenário de baixa atividade econômica, a inflação poderia cair, apesar do efeito negativo provocado pela indexação dos contratos. A aposta mais rentável, nesse ambiente, seria nos papéis prefixados.

Nos leilões recentes de títulos públicos, o destaque tem sido a Letra do Tesouro Nacional (LTN) com vencimento em abril de 2018. Em janeiro, a taxa média do papel estava acima de 16% ao ano. Em fevereiro, caiu para pouco menos de 15% ao ano.

É uma alternativa para quem acredita que o pior da crise tem prazo para terminar.

As difíceis escolhas para o ano de 2016

O ano começou com queda no preço das commodities, dúvidas em relação ao crescimento das principais economias do mundo e aumento global do custo do crédito.

No Brasil, continuam as incertezas ocasionadas pela frágil situação política do governo, o desequilíbrio das contas públicas e as previsões de mais um ano de forte retração econômica. O cenário para as aplicações financeiras em 2016 é desanimador.

Nesse ambiente, parece natural a fuga e a consequente desvalorização das opções mais arriscadas. A preferência tem sido pelos investimentos de renda fixa indexados tanto aos juros de curto prazo quanto à inflação e ao dólar.

A demanda por papéis prefixados é baixa e o próprio Tesouro Nacional, sensível ao clima geral de aversão a riscos, adequou a estratégia nos leilões de títulos da dívida pública. Concretamente, houve um aumento da venda de Letras Financeiras do Tesouro (LFT), papéis vinculados à taxa básica de juros (Selic).

Na renda variável, a esperança é que a cotação das ações das companhias brasileiras tenham chegado a preços tão depreciados que justificariam compras especulativas. Entretanto, aceitar essa aposta implica conviver com variações extremas no valor de mercado do investimento.

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Para enfrentar a turbulência, as alternativas mais seguras continuam sendo os títulos públicos federais ou papéis emitidos por bancos de primeira linha. A contrapartida são os maiores custos e comissões, que acabam afetando a rentabilidade final da aplicação.

Investimentos em papéis de bancos de segunda linha, mesmo que dentro do limite de garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), devem ser encarados com cautela. O excesso de remuneração em relação às opções mais conservadoras pode não ser suficientemente elevado para compensar os riscos envolvidos.

Em relação aos indexadores, a escolha da variação do certificado de depósitos interfinanceiros (CDI) continua sendo a mais pragmática. Em que pese o encolhimento do mercado interbancário, o CDI ainda é o mais relevante índice de correção dos ativos financeiros.

A diferença entre o indexador e a Selic é acompanhada com lupa pelas autoridades e profissionais do mercado. Apesar de possível, não é provável que seja tolerado uma diferença muito grande entre as duas taxas sem que haja algum tipo de correção de rumo.

Uma opção a ser considerada é a indexação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial de inflação. Houve recentemente um aumento da demanda por esses títulos, que trouxe como reflexo a redução da parcela prefixada da taxa, o chamado cupom.

Para exemplificar, considere a Nota do Tesouro Nacional da série B (NTN-B) com vencimento em 15 de maio de 2019. O papel está disponível para compra no Tesouro Direto, o sistema de negociação de títulos públicos via internet administrado pelo Tesouro Nacional.

Em meados de dezembro do ano passado, o título era negociado com taxa de IPCA mais 7,6% ao ano. No fim de janeiro a taxa caiu para IPCA mais 6,2% ao ano.

O comportamento reflete a redução da diferença entre o CDI e a inflação. A expectativa anterior era de que o Banco Central continuaria subindo a taxa básica de juros para forçar uma queda mais acentuada dos índices de preço. A nova sinalização do Comitê de Política Econômica (Copom) é de que isso não irá acontecer.

A variação do CDI nos últimos 12 meses foi de 13,34%. Se nada mudar, a tendência é que a taxa se aproxime do patamar atual da Selic, congelada em 14,25% ao ano.

A inflação em 12 meses, por sua vez, está em 10,67%. A previsão atual dos analistas é de que caia para perto de 8% ao ano. O resultado é que a diferença esperada entre uma aplicação indexada ao CDI e a expectativa do IPCA é de 5,8% ao ano.

Ao escolher a NTN-B, o investidor garante remuneração da inflação e pouco mais de 6% ao ano. A contrapartida é a necessidade de alongar a aplicação até 2019.

Um risco pouco provável, mas que começa a preocupar certos investidores, é a possibilidade de algum tipo de alteração mais radical nas regras das aplicações financeiras. O argumento é que, para equilibrar as contas governamentais, será inevitável alguma espécie de redução compulsória no valor da dívida pública.

O fato de as estatísticas mais recentes apontarem para um crescimento expressivo da dívida bruta do setor público alimentam esse tipo de especulação. A esperança, no entanto, é que as autoridades tenham um mínimo de habilidade para encaminhar a resolução deste problema.

Por enquanto, o único consenso é que, fora os fundos de investimento que cobram mais de 4% ao ano de taxa de administração, a caderneta de poupança manterá o posto de pior aplicação na renda fixa.

Copom afeta estrutura de juros

Em termos concretos, a decisão do comitê de política monetária do Banco Central (Copom) de manter a taxa Selic em 14,25% ao ano ocasionou um aumento da diferença entre as taxas de juros de longo e curto prazo. No jargão, houve aumento da inclinação da curva de juros.

Para visualizar, considere o gráfico abaixo. Os três pontos assinalados na linha azul correspondem à taxa de juros (medida no eixo vertical) e o vencimento (medido no eixo horizontal) das LTNs vendidas pelo Tesouro Nacional no dia 10 de dezembro de 2015.

Os quadrados na linha vermelha do gráfico mostram as LTNs vendidas em 7 de janeiro de 2016. E as marcas na linha verde sinalizam as taxas do leilão do Tesouro ocorrido no dia 21 de janeiro de 2016, após o Copom.

É possível visualizar que a linha verde é mais inclinada, em relação ao eixo horizontal, do que a linha azul.

Inclinação da curva

Relação entre juros e prazo de vencimento das LTNs

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Fonte: Tesouro Nacional

Outra maneira de avaliar a inclinação da curva de juros é calcular a diferença entre a taxa da LTN mais longa e a da mais curta, conforme indicado no gráfico abaixo.

Tamanho da inclinação

Diferença de taxas entre vencimentos diferentes

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Fonte: Tesouro Nacional

No dia 21 de janeiro o rendimento da LTN mais longa era de 16,81% ao ano e a mais curta tinha taxa de 14,54% ao ano. No dia 10 de dezembro, a LTN longa rendia 15,96% ao ano e a curta 15,42% ao ano.

O fato em si de a curva de juros estar mais ou menos inclinada não tem tanta importância. O ruim são as alterações frequentes, porque implica perdas e ganhos elevados nas diferentes posições detidas pelos participantes do mercado financeiro.

O investidor deve interpretar a atual estrutura de juros como um aumento do risco. Apostar em papéis prefixados de longo prazo pode proporcionar ganhos maiores em relação aos de curto prazo. Mas é preciso que, de fato, a inflação convirja para a meta, conforme o esperado pelo Banco Central.

Inflação é uma grande preocupação em 2016

De acordo com os economistas de instituições financeiras, a inflação neste ano ficará perto dos 7%. Os especialistas são consultados regularmente e a média das previsões é divulgada toda segunda-feira no boletim Focus do Banco Central (BC).

Já para os consumidores entrevistados pela sondagem do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBRE), o aumento dos preços em 2016 será de 11%. A pesquisa abrange mais de 2.100 pessoas em sete das principais capitais do Brasil.

E para os operadores do mercado de renda fixa, a inflação média até 2020 será de 8,65% ao ano. Essa é a sinalização da diferença entre as taxas das Notas do Tesouro Nacional da classe F – prefixadas – e da classe B – indexadas ao IPCA –, com base nas cotações do fim da primeira semana de janeiro.

A discrepância dos números mostra que o BC terá um duro trabalho pela frente. Ancorar as expectativas e reduzir a inflação para perto do teto da meta exigirá habilidade e perseverança.

O investidor deve ficar atento aos movimentos e declarações da autoridade monetária, para, eventualmente, adequar a composição da carteira.

Segundo o economista Simon Porter, diretor do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) de Nova York, é importante que os bancos centrais capturem as diversas expectativas para a inflação. Visão semelhante foi dada por Rob Ranyard, da Leeds University Business School, em apresentação na conferência de educação financeira e comportamento do investidor promovida pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

De acordo com a escola econômica tradicional, estimar a variação dos preços em determinado período de tempo é tarefa relativamente simples. Basta reunir os números, desenvolver um modelo e fazer os cálculos. É assim que os economistas consultados pelo BC fazem as projeções.

O problema é que, cada vez mais, os estudos de economia comportamental vêm demonstrando que as pessoas não agem de maneira 100% racional. Na prática, para a formar as expectativas em relação ao aumento dos preços, outros fatores mais intuitivos são somados aos cálculos dos especialistas.

A percepção sobre o comportamento da inflação tem importância destacada para os não especialistas. Existem, basicamente, três componentes que influenciam essa intuição.

O primeiro é a experiência individual com o aumento de preços de produtos específicos. Para um motorista profissional, se o preço do combustível estiver constante, a percepção que ele tem a respeito da inflação tende a ser baixa. Já para o dono de uma pizzaria que vê o preço dos insumos subindo em ritmo elevado, a impressão é de inflação alta.

O segundo componente é a amplificação social da discussão sobre o aumento dos preços. No atual momento brasileiro, todas as atenções estão voltadas para o estouro da meta de inflação e as ações corretivas que serão tomadas pelo BC. Isso acaba chamando a atenção das pessoas para o problema, gerando um clima de apreensão.

O terceiro fator de impacto nas percepções é a inflação passada e, novamente, a atual situação brasileira serve de ilustração. Como a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi a maior em 13 anos, esse fato acaba contaminando as expectativas para o futuro.

Para complicar, o aumento dos preços de diferentes produtos raramente é equivalente, mesmo em períodos relativamente longos. Por exemplo, há pouco mais de oito anos, o preço do Big Mac era de R$ 6,40; o quilo do pão francês custava R$ 5,00; o litro da gasolina era vendido a R$ 2,43 e a tarifa do ônibus na cidade de São Paulo era de R$ 2,30.

Em termos percentuais, o aumento anualizado do Big Mac e do pão francês foi de 11% ao ano. A gasolina e a tarifa do ônibus subiram cerca de 6% ao ano.

De todo o modo, a inflação passada tem um impacto relevante sobre as expectativas para a inflação futura, especialmente entre o público em geral. O gráfico abaixo mostra a evolução da expectativa de inflação dos consumidores, conforme calculado pela FGV/IBRE, e a variação do IPCA nos 12 meses anteriores. As linhas são praticamente coincidentes.

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A inflação em si não é um problema, desde que os rendimentos acompanhem o ritmo de aumento dos preços. Isso tem acontecido com os salários e com os rendimentos das aplicações financeiras.

Os maiores prejudicados têm sido as atividades empresariais, que vêm sofrendo quedas expressivas no faturamento. A consequência têm sido a redução dos investimentos nas atividades produtivas e o aumento do desemprego.

A preocupação atual dos investidores é preservar as aplicações da corrosão ocasionada pela alta dos preços, sem correr riscos exagerados. E entender a estratégia do BC.

Exuberância nas orientações financeiras

Em tempos de incerteza na economia, a tendência é de aumento da convicção dos profissionais que oferecem conselhos financeiros. Mesmo com o cenário nebuloso, o investidor encontrará recomendações seguras para, por exemplo, comprar dólares, aplicar em ações, apostar no aumento da inflação ou buscar proteção nos ativos reais.

O paradoxo pode ser explicado pela psicologia econômica. O tema foi abordado nos dias 7 e 8 de dezembro na 3ª Conferência de Educação Financeira e Comportamento do Investidor, organizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Os especialistas se reuniram para discutir ações concretas no campo da educação financeira e estudos comportamentais. Uma apresentação particularmente interessante foi a de Bahador Bahrami, pesquisador do Instituto de Neurociência Cognitiva do University College London.

Imagine a situação em que uma avó pede orientações para dois netos sobre qual o novo modelo de telefone celular ela deve comprar. Um dos netos sempre foi o favorito, o outro considerado como preterido.

Nesse contexto, explica o professor Bahrami, a estratégia mais eficaz a ser seguida pelos dois netos é oposta.

A premissa do exemplo é que existe tamanha quantidade de modelos de telefone celular que acaba sendo virtualmente impossível escolher uma única opção que maximize a relação entre o preço do aparelho e a utilidade das funções para o usuário.

Por mais diligentes que sejam os dois netos em suas comparações, na prática a recomendação seria semelhante a escolher entre uma bola vermelha ou azul em um grande vaso com quantidades equivalentes de cada cor.

Os estudos psicológicos apontam que, nesse ambiente, a melhor estratégia de aconselhamento para o neto favorito é ser conservador. Selecionar alguns modelos, enfatizar os pontos positivos e negativos dos aparelhos e orientar a avó a fazer a escolha tendo em mente que existem diversos fatores imponderáveis.

Já para o preterido, a ação mais eficaz é mostrar confiança. Poupar a avó das incertezas e escolher um celular específico, recomendando a compra com convicção.

A razão para as orientações distintas está relacionada com a influência que os dois netos exercem sobre a avó. O favorito sabe que tem muito a perder caso seja excessivamente assertivo e o conselho acabe dando errado.

Já o preterido enxerga a situação como uma oportunidade de melhorar o conceito que tem junto à avó. É a chance de convencer que é capaz de resolver um problema complexo demonstrando segurança e controle.

Essa analogia pode ser aplicada ao universo dos assessores financeiros. Quanto menor a influência sobre o cliente, mais confiante tende a ser o profissional e menos hesitante a recomendação. A opção é justificada a partir do ponto de vista estratégico, conforme explicado pela psicologia.

A situação hipotética do estudo realça para o investidor que, em muitas ocasiões, a confiança da recomendação decorre de uma motivação do conselheiro, e não da certeza embasada exclusivamente pelas análises objetivas do problema.

Todavia, a habilidade do assessor importa. No exemplo, a hipótese foi a de que ambos os netos não eram especialistas em telefone celular. A situação mudaria se os dois fossem peritos no assunto e tivessem histórico verificável de recomendações certas e erradas.

Nesse novo contexto, o conselheiro com melhor índice de acertos teria razões concretas para ser o mais confiante. O menos eficiente reconheceria a menor competência e agiria de forma um pouco mais cautelosa nas indicações – o que, fatalmente, revelaria alguma insegurança para o cliente.

Exuberancia 

Como humildade é um artigo raro entre os profissionais do mercado financeiro, na prática o aplicador precisa administrar o excesso de confiança dos consultores nas orientações de investimento. E, na medida do possível, pinçar os melhores especialistas.

O excesso de confiança é um viés comportamental característico de todos. Para ilustrar, considere uma enquete entre um grupo de motoristas. Invariavelmente, o resultado mostrará que a maioria acredita que dirige melhor do que a média.

Além de uma impossibilidade estatística, a consequência tende a ser o aumento da imprudência no trânsito, o que exige da polícia maior fiscalização.

Nos investimentos pessoais, o desafio é identificar a origem do excesso de confiança do assessor financeiro. Pode decorrer tanto da falta de influência que ele exerce quanto da maior capacidade de acertos.