No ambiente atual, nem as LFTs são à prova de risco

Nos últimos meses, os aplicadores em Letras Financeiras do Tesouro (LFT) tiveram rendimento diferente conforme o prazo de vencimento que escolheram investir. O título é atrelado à taxa Selic e considerado como sendo o de menor risco de mercado.

No ano, as LFTs com resgate estipulado para datas mais distantes registram ganhos inferiores ao dos papéis que vencem em períodos mais próximos. A conta considera tanto os juros acumulados no período quanto o ganho de capital e a diferença entre as taxas de compra e venda.

No Tesouro Direto, o sistema de comercialização de títulos públicos administrado pelo Tesouro Nacional, a LFT é chamada de Tesouro Selic. O relatório do Tesouro Direto indica que a rentabilidade acumulada no ano até o dia 20 de maio do papel com vencimento em 2021 foi de 4,77%. A LFT com resgate programado para 2017 rendeu 5,11%.

A rentabilidade de ambas ficou menor do que a variação da taxa Selic e do certificado de depósitos interfinanceiros (CDI) no mesmo intervalo. O ganho acumulado dos indicadores foi de 5,17% e 5,16%, respectivamente.

Esse comportamento não é comum e a explicação parece ser a preferência dos investidores por reduzir o tempo até o resgate das aplicações. Por essa razão, os títulos de curto prazo ficaram mais valiosos em relação aos de longo prazo.

Mesmo com a correção diária de acordo com os juros que foram acordados – a taxa Selic no caso das LFTs –, os papéis de renda fixa possuem comportamento semelhante ao de qualquer ativo.

Significa que se houver aumento da demanda, o preço do título sobe e, como consequência, a rentabilidade dos detentores do papel comprado em momento anterior é maior. O oposto acontece no caso de queda da procura, com a consequente perda do valor de mercado.

Atualmente, apenas a opção com vencimento em março de 2021 está disponível para compra no Tesouro Direto. O investidor não pode adquirir a LFT com resgate em 2017 no sistema. Ambos os títulos podem ser vendidos normalmente, sem restrições.

O histórico da cotação das taxas de compra e venda mostra a mudança de preferência dos aplicadores. No começo do ano a taxa de compra da LFT com vencimento em 2021 era 0%. Isso significa que o investidor conseguia remuneração equivalente à taxa Selic.

A taxa de venda era de 0,04%. Quer dizer que para se desfazer do papel o investidor era obrigado a conceder um desconto no preço do título de tal forma que o Tesouro recebesse uma remuneração equivalente à taxa Selic mais 0,04% ao ano.

Mais recentemente, as taxas de compra e venda subiram para 0,03% e 0,07%, respectivamente. Como resultado, a aplicação na LFT com vencimento em 2021 passou a render ao investidor a taxa Selic mais 0,03% ao ano.

Mas, para se desfazer do papel, quem comprou no começo do ano com a remuneração equivalente à taxa Selic é obrigado, agora, a aceitar um desconto no valor do título de tal forma que o rendimento suba para taxa Selic mais 0,07% ao ano. Esse ajuste explica a rentabilidade do papel inferior ao CDI em 2016.

Já a LFT com vencimento em 2017 tinha, no começo do ano, taxa de compra de 0% e venda de 0,02%. Agora, a taxa de compra continua em 0%, mas a taxa de venda recuou para 0,01%. A redução da diferença entre as taxas explica a maior rentabilidade do papel curto em relação ao longo.

As mudanças nos valores de mercado são pequenas, mas causam desconforto. Principalmente considerando que as LFTs são títulos usados para remunerar a sobra de caixa e administrar a liquidez.

Outro indicador relevante para acompanhar a temperatura do mercado de títulos públicos são as taxas de colocação nos leilões periódicos realizados pelo Tesouro Nacional.

Para financiar o déficit orçamentário – estimado em R$ 170 bilhões para este ano – e rolar a dívida pública, o governo capta recursos por meio da emissão de papéis. O Tesouro faz a administração desse fluxo.

Também nesse ambiente vale a regra geral de que a demanda menor implica desconto maior no valor de mercado dos títulos. O gráfico abaixo mostra a evolução da taxa de colocação de LFTs nos leilões periódicos realizados desde janeiro de 2011.

LFT

Os números mostram o aumento recente das taxas, indicando que o desconto sobre o valor de face dos papéis aumentou e justificando a cotação dos títulos no Tesouro Direto.

Dado o atual ambiente de incertezas, é importante acompanhar a evolução dos preços de mercado das LFTs para identificar possíveis tendências no mercado de títulos públicos. Descontos elevados nos títulos atrelados à taxa Selic podem significar problemas.

Robôs ampliarão o alcance da assessoria financeira

No passado, investir em títulos atrelados à variação da taxa dos certificados de depósitos interfinanceiros (CDI) era algo relativamente complexo e caro. Hoje, graças à robustez dos códigos de computação e à proliferação de programas e aplicativos, basta um clique para que o negócio seja concretizado praticamente sem custos.

A edição de fevereiro e março da revista da Morningstar, uma provedora de serviços de informações sobre investimentos, discutiu o crescimento da utilização dos robôs no segmento de assessoria financeira.

Tradicionalmente, o objetivo da tecnologia no mercado de investimentos tem sido o de ampliar e tornar mais eficiente o processo de distribuição de produtos e serviços. Com o desenvolvimento da informática, em vez de depender de um profissional da linha de frente, o cliente passou a realizar suas operações diretamente por intermédio do computador, celular ou caixa eletrônico.

Isso ampliou a quantidade de transações executadas e proporcionou ganhos de escala às instituições financeiras. Parte do aumento da produtividade foi revertida para os clientes, por meio de custos mais baixos ou relatórios mais elaborados.

O passo seguinte foi o de aumentar o leque de informações sobre as alternativas de investimento disponíveis. Como consequência, diversos sites na internet passaram a oferecer ferramentas onde é possível selecionar ativos, comparar opções e simular resultados, além de realizar as aplicações.

A tendência mais recente é que robôs façam sugestões de alocação de recursos com base nas informações fornecidas pelo investidor sobre os objetivos da aplicação e da tolerância aos riscos de perda do capital. A partir daí o cliente pode decidir investir na carteira sugerida, que é reajustada periodicamente de maneira automática conforme mudem as condições de mercado.

Os modelos de construção de carteiras envolvem estimar o maior retorno possível para um determinado nível de risco. O gráfico abaixo indica a relação entre o ganho acumulado e a oscilação da rentabilidade desde janeiro de 2015 até abril de 2016 para os principais indicadores do mercado financeiro brasileiro.

CarteiraIdeal

A ideia é combinar os ativos de tal maneira a conseguir as ponderações mais eficientes, tendo em vista os objetivos que foram estipulados. O processo de assessoria financeira busca estabelecer parâmetros conforme as necessidades específicas de cada cliente.

Como em qualquer modelo, para tirar o máximo de proveito é preciso entender a lógica das premissas. Segundo os especialistas, existe um ciclo de aprendizagem.

Em um primeiro momento, nossa preferência é conversar com uma pessoa que possa nos explicar em detalhes as estratégias de investimento sugeridas. Depois, conforme vamos nos aprofundando a respeito do assunto, a tendência é ganharmos confiança para tomar decisões autônomas e executá-las via Internet.

Para Don Phillips, diretor executivo da Morningstar, a qualidade da assessoria financeira está em alta. Paradoxalmente existem hoje nos Estados Unidos menos assessores financeiros em relação ao que havia no passado. Entretanto, a demanda por serviços mais elaborados aumentou.

A tecnologia permite que os assessores financeiros adotem um tratamento mais amplo, o que no jargão de mercado é chamado de abordagem holística. Trata-se de um conceito teórico segundo o qual a totalidade dos fatores interagem, formando um todo que não pode ser entendido isoladamente.

No caso específico da assessoria financeira, para definir a composição mais eficiente da carteira é necessário conhecer em detalhes todas as necessidades do cliente. Muitas vezes, apenas com uma conversa pessoal é possível identificar os parâmetros relevantes para um planejamento abrangente.

A consequência prática da evolução tecnológica é uma mudança na forma de remuneração do trabalho dos prestadores de serviço. Em vez de as comissões estarem relacionadas com o valor do patrimônio dos investidores, cada vez mais o ganho dos assessores financeiros estará fundamentado no valor que o profissional puder agregar para seus clientes.

Os robôs estão se tornando uma plataforma importante para os assessores financeiros. Como a tecnologia ajuda a economizar tempo e aumentar a escala de prestação de serviços, torna-se possível atender mais clientes.

Fazendo uma analogia com o Uber, que estimulou o setor de serviços de transporte em carros particulares, graças aos robôs é possível imaginar uma expansão significativa do mercado de assessoria de investimentos.