Onde encontrar os melhores fundos de investimento?

Escala é um fator importante no negócio de gestão de recursos de clientes. Quanto maior o volume de ativos que uma empresa administra, menor tende a ser o custo dos produtos oferecidos como proporção dos ativos totais. A consequência para o investidor que aplica nos fundos daquela gestora é uma melhor relação entre risco e retorno para suas economias.

Isso acontece porque a estrutura necessária para administrar, por exemplo, R$ 1 bilhão não muda muito caso o montante aumente para R$ 5 bilhões.

Para entender o raciocínio, suponha que os custos anuais da gestora sejam de R$ 10 milhões. Se o volume total sob gestão for de R$ 1 bilhão, a taxa de administração de equilíbrio seria equivalente a 1% ao ano sobre o valor dos ativos.

Considere, agora, que o patrimônio do fundo aumentou para R$ 5 bilhões. Nesse caso a gestora poderia reduzir a taxa de administração para 0,25% ao ano e ainda assim aumentar em 25% os ganhos em relação à situação inicial.

ArquiteturaAberta

A redução dos custos cobrados pela gestão dos ativos tem impacto direto sobre a rentabilidade do investidor. Imagine um fundo que acompanhe um determinado indicador com expectativa de ganho de 10% no período de um ano. Com taxa de administração de 1% ao ano, o ganho do investidor será de 9%, equivalente a 90% da variação do índice de referência.

Mas se a taxa de administração do fundo cair para 0,25% ao ano, o ganho esperado será de 9,75%, equivalente a 97,5% do parâmetro. É uma diferença significativa.

No Brasil, cerca de 60% dos ativos aplicados em fundos de investimento estão nas mãos dos três maiores administradores: Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Bradesco. Nos Estados Unidos, os três maiores gestores possuem pouco menos de 40% de participação de mercado. Os dados são da Morningstar.

Apesar da maior concentração do mercado brasileiro, as taxas de administração dos fundos de investimento no país são maiores do que nos Estados Unidos. Especialmente para os investidores de varejo.

A justificativa dos grandes bancos é que o volume total de recursos no Brasil é significativamente menor do que o existente no mercado americano, o que reduziria os ganhos de escala. Além disso, os custos no país, representados por tributos, exigências da legislação e manutenção dos canais de distribuição são mais elevados. A comparação entre o mercado brasileiro e o americano, portanto, não seria justa.

Mais importante do que discutir a validade dos argumentos dos bancos é avaliar a evolução dos mercados aqui e lá fora. O Fórum Morningstar de abril, evento realizado periodicamente que reúne especialistas do setor, abordou as tendências na distribuição de fundos.

Existem duas formas de comercializar fundos de investimentos. Uma é por meio da arquitetura fechada, assim chamada porque nessa modalidade uma instituição oferece apenas as carteiras que ela própria administra.

A outra maneira é a arquitetura aberta, na qual diversos distribuidores comercializam uma gama variada de produtos financeiros administrados por várias instituições. O conceito é semelhante ao de um supermercado, onde o investidor pode encontrar em um único local todas as aplicações que está buscando.

Nas últimas décadas aconteceram mudanças drásticas na forma como os fundos são adquiridos pelos clientes nos EUA e Europa. No passado existia somente a arquitetura fechada. Hoje há a predominância da arquitetura aberta, com a participação expressiva de diversas corretoras “online” e cerca de 300 mil agentes autônomos de investimento interagindo com os clientes.

Além disso houve o crescimento da remuneração dos assessores de investimento diretamente pelos clientes com base em comissões sobre a prestação de serviços de consultoria, em oposição ao tradicional esquema de rebate de parcela da taxa de administração dos produtos comprados pelo investidor.

Com a evolução do mercado a regulamentação passou a dar mais ênfase na responsabilidade fiduciária dos assessores de investimento e demais profissionais envolvidos na assessoria de clientes.

O resultado foi uma mudança radical na relação dos maiores gestores. Da lista dos cinco maiores em 1986, apenas uma empresa, a Fidelity, continua no grupo em 2016. Essa mudança tende a se repetir no Brasil.

Hoje os grandes bancos de varejo já oferecem produtos de outros gestores em suas plataformas para clientes do private banking. Recentemente o Itaú começou a oferecer as mesmas facilidades para os clientes de alta renda.

A tendência é que em breve outros bancos de varejo sigam o exemplo e produtos de terceiros comecem a ser disponibilizados também no varejo. A arquitetura aberta será o padrão.

E para navegar com segurança nesse novo ambiente, o investidor irá demandar assessoria de qualidade, educação financeira e compreensão sobre o valor adicionado dos profissionais envolvidos na gestão de recursos.

Os cuidados para escolher um fundo de ações

Nos últimos 24 meses, de abril de 2015 até março de 2017, o rendimento do Ibovespa foi de 27%. No entanto, a trajetória do índice no período foi marcada por altos e baixos expressivos.

No pior momento, entre maio de 2015 e janeiro de 2016, o indicador chegou a registrar perdas de 28%. Depois, iniciou um intervalo de seis meses de ganhos até julho de 2016 que resultou na reversão dos prejuízos acumulados anteriormente. Desde então foram cinco meses de fechamento no território positivo e três no negativo.

ArteFortesOscilacoes

O investidor em fundos de ações também vivenciou essas mesmas oscilações, mas em graus diferentes conforme a estratégia de gestão de cada carteira. Numa situação ideal, o investidor deseja o maior retorno possível em relação ao Ibovespa, mas com o menor desvio em comparação ao indicador.

No jargão de mercado, a parcela do retorno do fundo que é superior ao Ibovespa é chamado de retorno excedente. E na terminologia em inglês, também usada como jargão, o desvio da rentabilidade do fundo em relação ao Ibovespa – ou outro parâmetro de referência – é chamado de “tracking error”. Esse cálculo é a diferença média entre a rentabilidade diária do fundo e o indicador de desempenho da carteira em determinado período de tempo.

Do ponto de vista pragmático, para manter uma carteira de ações atrelada ao Ibovespa basta ao gestor replicar o índice. Se a participação de cada título em relação ao patrimônio do fundo for exatamente igual à composição do indicador, a rentabilidade de ambos será a mesma. Os fundos indexados adotam esse tipo de gestão.

No entanto, a estratégia de replicar o Ibovespa tem o inconveniente de tornar difícil superar o indicador. O “tracking error” seria zero, mas o retorno excedente do fundo em relação ao Ibovespa também seria inexistente. Poderia até ser negativo, caso a taxa de administração fosse excessivamente alta.

No outro extremo, o gestor de um fundo ativo poderia apostar todas as fichas em uma única ação, que nem mesmo fizesse parte do Ibovespa, e esperar que aquela companhia tivesse desempenho acima do indicador. A despeito do resultado obtido, a contrapartida da estratégia é a concentração do risco. Como consequência, o desvio da rentabilidade do fundo em relação ao Ibovespa, medido pelo “tracking error”, será elevado.

A maioria dos fundos com gestão ativa opera num meio termo entre esses dois extremos. O objetivo é equilibrar a busca pelo máximo retorno excedente com o menor “tracking error” possível.

As estratégias de gestão ativa mais utilizadas, e de certa forma as mais sólidas, envolvem aumentar ou reduzir o peso de determinadas ações ou setores em relação ao índice de referência. Para definir as participações específicas das empresas na carteira do fundo, pode-se adotar métodos qualitativos ou quantitativos.

Nos métodos qualitativos, o comitê de investimento da empresa de gestão de recursos define uma alocação estratégica conforme a visão de consenso dos especialistas. A partir daí os gestores possuem a liberdade para executar as alocações táticas, pinçando os papéis potencialmente mais rentáveis conforme as oportunidades de mercado.

Já os métodos quantitativos envolvem a análise estatística do desempenho das ações e a decomposição do retorno esperado em diversos “fatores”. Os principais fatores usados são a qualidade da companhia, o valor relativo da empresa em relação aos concorrentes e o momento da cotação do papel em relação ao histórico de negócios.

O histórico de uma amostra de 258 fundos de ações entre os de maiores patrimônio e quantidade de cotistas obtida a partir do sistema Morningstar Direct revela que, no período de baixa do Ibovespa, entre maio de 2015 e janeiro de 2016, 50 carteiras tiveram perdas superiores ao indicador. E 208 conseguiram implantar uma estratégia que amenizasse os prejuízos e caíram menos do que o Ibovespa.

Mas nem a agressividade nem a cautela na gestão explicam o desempenho dos fundos no período completo de dois anos. Entre as 50 carteiras que tiveram queda mais acentuada que o Ibovespa no intervalo de baixa, dez superaram o Ibovespa no período total. E entre as 208 que tiveram queda menor que o indicador, 99 conseguiram reverter o conservadorismo e superaram o Ibovespa.

O que as análises indicam é que tão importante quanto avaliar o desempenho passado, é fundamental que o investidor entenda a estratégia de investimento do fundo de ações que escolheu e tenha confiança de que é consistente no longo prazo.