“Black Bank Friday”

Se pelo menos uma vez por ano todos pudessem ter um dia de folga para organizar a vida financeira, o conforto seria grande.

Pense na possibilidade de passar horas numa agência bancária, sem pressões ou culpa, e resolver todos os problemas que não são urgentes, mas exigem uma solução: encerrar contas inativas, cancelar cartões de crédito, negociar taxas de empréstimos mais favoráveis, abrir (ou fechar) uma caderneta de poupança ou fazer a portabilidade do plano de previdência.

Eventualmente o dia poderia se tornar realmente produtivo. Encontrar uma corretora com bons serviços e produtos ou descobrir um agente autônomo que dê acesso aos melhores fundos de investimentos teria o potencial de aumentar a rentabiliade das aplicações financeiras.

O momento poderia ser o ideal para reavaliar a carteira de investimentos e procurar novas oportunidades.  Por exemplo, ao conhecer os riscos e benefícios dos papéis isentos de Imposto de Renda ou organizar melhor a carteira de ações.

Também seria um dia para, finalmente, fazer as simulações e descobrir se a melhor opção no Tesouro Direto são os papéis indexados à inflação, prefixados ou atrelados à taxa Selic. Quem sabe sobrasse tempo para calcular se a alternativa mais indicada é comprar ou alugar um imóvel.

Dúvidas frequentes, tais como se é mais rentável comprar dólares hoje para garantir o custo da viagem de férias ou aplicar em um fundo cambial poderiam ser resolvidas. E, também, ponderar a decisão entre carregar um cartão de débito ou usar a praticidade o cartão de crédito nas viagens internacionais. Isso sem falar na decisão estratégica para utilização das milhas acumuladas.

Ainda estamos longe de esperar uma sexta-feira de desconto nas operações bancárias. Mas com o mínimo de dedicação já é possível reunir informações suficientes para negociar melhor as condições dos produtos e serviços financeiros. Os benefícios desse investimento são certos.

Por enquanto com Dilma, o melhor é dólar e consumo

É consenso que a condução da política macroeconômica no governo Dilma mudou em relação aos períodos anteriores. Além disso, houve reflexos internos das intervenções promovidas pelos bancos centrais dos países desenvolvidos, que fixou em praticamente zero as taxas de juros de curto prazo nas principais economias.

A consequência para o investidor brasileiro foi a alta dos ativos atrelados ao dólar e a valorização dos papéis de empresas do setor de consumo. Adicionalmente, o aplicador foi obrigado a conviver com grandes oscilações dos principais ativos financeiros.

No período entre 31 de dezembro de 2010 e 19 de novembro de 2013, o Ibovespa chegou a perder 37% entre máxima atingida em 12 de janeiro de 2011 e a mínima, no fechamento do mercado de 3 de julho de 2013. O indicador ainda acumula queda de mais de 20%.

O IMA Geral, indicador de renda fixa que mede a rentabilidade média de uma carteira diversificada de títulos públicos também disponíveis no Tesouro Direto, chegou a cair quase 6% entre 8 de maio e 16 de junho de 2013. No período total a valorização é de 31,26%, acima do CDI e da inflação.

image

A modalidade mais rentável no período foi a média dos Recibos de Depósitos Brasileiros – BDRs na sigla em inglês. São títulos negociados no Brasil vinculados a ações de companhias estrangeiras. Os papéis brasileiros que representam empresas estrangeiras valorizaram 96% no período.

O pior momento para os investidores em BDRs ocorreu entre 7 de janeiro e 2 de setembro de 2011, quando o indicador caiu 37%. No dia  7 de dezembro de 2011, no entanto, 208 dias úteis após o pico, a cotação recuperou o ponto máximo anterior.

O índice dos fundos imobiliários (IFIX) teve um desempenho razoável no período, apesar da queda de mais de 20% entre fevereiro e agosto de 2012. A alta total foi de 41%, mas quem investiu nas máximas do começo do ano ainda acumula prejuízos.

Os indicadores revelam o retrato de um período que acabou sendo altamente conturbado. Maior clareza para os investimentos dependerá das orientações da política econômica que será seguida no período final do governo Dilma.

Proteção difícil para a alta dos imóveis

O preço médio dos imóveis residenciais subiu 67,4% entre janeiro de 2010 e julho de 2013, de acordo com o índice IVG-R, calculado pelo Banco Central (BC). As aplicações financeiras renderam menos.

O IMA-G*, que mede os ganhos de uma carteira diversificada de títulos públicos – desconsiderando os papéis indexados ao IGPM – valorizou 47,6% no mesmo período. Já o IMA-S, que acompanha o desempenho das Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), indexadas à taxa Selic, rendeu 38,7%.

image

Entre os principais fatores que contribuíram para a alta dos imóveis residenciais estão o aumento da disponibilidade de financiamentos habitacionais, a redução das taxas de juros e o crescimento do poder de compra da população.

Para aqueles que planejam comprar a casa própria, a boa notícia é que o ritmo de aumento dos preços vem diminuindo. Nos 12 meses encerrados em janeiro de 2010, a alta dos imóveis residenciais havia sido de 25%. Mais recentemente, no perído de 12 meses terminado em julho de 2013, a alta foi de 10%.

image

A tendência é que ocorra uma convergência entre o ritmo de aumento de preços com a taxa de crescimento da economia e a remuneraçãoo das aplicações financeiras. Além disso, como a crise financeira internacional mostrou, também os preços dos imóveis podem oscilar para cima ou para baixo. O que acaba abrindo algumas oportunidades para aqueles que acompanham o mercado mais atentamente.

Pergunte ao JPM

Segundo reportagem do jornal econômico Financial Times, o banco JP Morgan iria fazer um evento de perguntas e respostas no Twitter, com a “hashtag” AskJPM.

Como a reputação das grandes instituições financeiras mundiais ainda está arranhada devido aos efeitos da crise de 2008, a iniciativa teve que ser cancelada porque começaram a pipocar perguntas desse tipo.

image

image

image

image

image

image

image

Na previdência, taxa baixa seduz

A queda da bolsa e a forte desvalorização dos títulos públicos indexados à inflação causaram estragos no ritmo de captação dos fundos de previdência neste ano. O ápice do pessimismo foi em julho, quando as carteiras chegaram a registrar resgates de R$ 381 milhões, de acordo com dados da Fenaprevi, a federação das empresas de previdência.

Nos últimos 45 dias os fundos voltaram a captar. No entanto, os investidores parecem mais seletivos, buscando pouco risco e custo baixo. Entre as dez carteiras com maiores entradas de recursos desde 30 de setembro, todas são de renda fixa e possuem taxa de administração variando entre 0,7% ao ano e 1,5% ao ano.

A tabela abaixo, a partir dos dados da Economatica, mostra que o fundo com maior captação foi o Itaú Flexprev Crédito Privado Ativo. A carteira mantém aproximadamente um terço das aplicações em títulos públicos e o restante em papéis de emissores privados, o que justifica a maior rentabilidade acumulada no ano.

image

O segundo fundo que mais captou, o Bradesco FIC VGBL F10, foi o terceiro mais rentável do grupo. Os fundos da Brasilprev, que no conjunto captaram R$ 1,8 bilhão, não tiveram boa rentabilidade. A razão foi a maior concentração em papéis públicos de longo prazo.

A possibilidade de acesso dos investidores aos melhores fundos oferecidos pelas seguradoras está aumentando. Planos de previdência com taxa de administração de até 3% ao ano, que praticamente consomem todo o ganho real (acima da inflação) do aplicador estão ficando para trás.

Entretanto, para ter acesso aos bons fundos é fundamental que o investidor dedique algum tempo para pesquisar os melhores planos de previdência. O trabalho tende a ser bem recompensado.

Bate-papo privilegiado

O Valor reproduziu uma intrigante reportagem do Wall Street Journal a respeito das salas de bate-papo (“chat”) usadas pelos profissionais do mercado financeiro nos centros mais desenvolvidos. As autoridades suspeitam do uso de informações privilegiadas.

Todo investidor, principalmente aqueles que operam nos mercados mais líquidos e com grandes oscilações no curto prazo, tais como bolsa ou “forex”, sente a necessidade de confirmar as intuições com a opinião de outros participantes. Daí o sucesso das salas de bate-papo e fóruns oferecidos pelas instituições financeiras.
   
Não importa tanto o embasamento das opiniões. O que mais interessa é a troca de impressões sobre o rumo do mercado. Discussões quase filosóficas tais como o quanto uma determinada ação pode subir ou o que o governo poderá fazer para controlar a alta do dólar são assuntos que atraem os investidores.

No mundo ideal, os “chats” seriam como as conversas na praça de uma cidade do interior. A ideia é que o aplicador mais atento poderia observar os argumentos dos demais participantes do debate para reunir informações importantes sobre o sentimento geral do mercado. Com isso, poderia montar posições mais lucrativas.

Na prática, o que as autoridades suspeitam e estão investigando, é que algumas salas de bate-papo mais exclusivas são pontos de encontro para o conluio e o acerto de posições.

Se a suspeita for confirmada, o investidor fica diante de um dilema: ou participa de salas de bate-papo que pouco acrescentam ao processo de escolha dos investimentos ou integra grupos suspeitos de realizar atividades ilegais e, portanto, sujeitos às sanções das autoridades.

Fica a lição de que é preciso, sempre, manter a cautela com com as opiniões que aparecem em “chats”, fóruns e blogs.

Fundos “Value” possuem desempenho desigual

O desempenho dos fundos de ações cujo objetivo é descobrir oportunidades por meio do investimento em papéis de companhias cotadas abaixo do valor potencial de mercado, chamados genericamente de fundos “Value”, oscilou este ano.

Reportagem de Luciana Seabra, do Valor, sobre o evento “Value Investing Brasil”, que aconteceu na semana passada, aponta as principais apostas futuras dos representantes de quatro gestoras: Edge, M Square, Apex Capital e Rio Bravo. Já os dados históricos podem ser avaliados a partir das informações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e reunidos pela Economatica.

Considerando o resultado de apenas um fundo “master” de cada uma das gestoras citadas, o período entre 31 de dezembro de 2012 e 7 de novembro de 2013 mostrou que o fundo com melhor rentabilidade foi o M Square Ações CSHG Master. O ganho acumulado atingiu de 12,95%.  

Em seguida veio o Apex Master FIA, com retorno de 9,04% no ano. Os fundos Edge Value e Rio Bravo Fundamental ficaram praticamente zerados no ano.

image

Como a principal característica dos fundos “Value” é concentrar as posições em papéis que os gestores julgam como os de maiores possibilidades de ganhos, o desempenho entre as carteiras é desigual. A composição dos parâmetros de referência do mercado, tais como o Ibovespa ou o IBRX, não são levados em consideração na construção da carteira.

E o desempenho passado mostra o resultado das decisões do gestor. No período avaliado, foram 15 papéis que tiveram a maior participação na carteira dos quatro fundos avaliados conjuntamente. A tabela abaixo mostra a rentabilidade de cada um deles no ano, a perda máxima no período e o tempo de recuperação das perdas. Muitos ainda não conseguiram voltar à cotação máxima atingida.

image

As ações da Kroton e da Brasken lideram os ganhos no ano e possuem participação relevante nas carteiras da M Square e da Apex, respectivamente. Os papéis da São Carlos é uma das apostas do gestor da Edge, assim como Cetip está na mira da Rio Bravo.

Para o investidor, além de avaliar a consistência do desempenho do gestor, é fundamental diversificar os riscos. Os montantes das perdas em determinados períodos podem ficar mais altos do que o suportável.

É difícil superar a Poupança

A captação líquida da caderneta de poupança continua batendo recordes e o comportamento dos aplicadores tem surpreendido, principalmente aqueles que possuem acesso a uma maior variedade de produtos financeiros. E muitos arriscam explicações para o fenômeno.

Parcela dos leitores do Valor, a julgar pelos comentários sobre as reportagens, acredita que o persistente interesse pela tradicional modalidade é resultado da baixa educação financeira. O argumento é que a popularidade da poupança não seria tão grande se as pessoas tivessem maior entendimento sobre as alternativas de investimento mais complexas.

Com base no diagnóstico, os leitores sugerem carteiras, com diferentes graus de risco, para quem quiser sair da caderneta e aumentar a rentabilidade dos investimentos. As opções incluem títulos do Tesouro Direto e ações.

No entanto, é preciso cautela. A análise mais detalhada dos números mostra que conseguir ganhos superiores à caderneta é tarefa tão simples.

Até outubro deste ano, por exemplo, a rentabilidade acumulada da poupança, de acordo com as novas regras de remuneração dos depósitos, foi de 4,80%. O certificado de depósito interfinanceiro (CDI) – o principal indexador das aplicações de renda fixa – rendeu 6,47% e a Letra Financeira do Tesouro (LFT), papel do governo atrelado à taxa Selic, subiu 6,49%.

A Nota do Tesouro Nacional da série B Principal (NTNB-Principal) – título público corrigido pela inflação – teve um momento ruim e acabou registrando prejuízo de 13,25% no período.

Os indicadores, porém, não levam em conta os custos operacionais das aplicações financeiras. Considerando despesas de 1% ao ano com taxas de administração ou corretagem e deduzindo o valor do Imposto de Renda (IR) sobre os rendimentos, nenhuma das aplicações mencionadas ganha da poupança. O rendimento líquido do papel indexado ao CDI cai para 4,51% e a LFT diminui para 4,53%.

Uma objeção a essa comparação é o prazo da análise, muito reduzido. Se for considerado um período um pouco mais longo, de quatro anos por exemplo, a rentabilidade da poupança atingiu 30,10% enquanto a aplicação atrelada ao CDI variou 33,36%, considerando custos administrativos e IR.

Os papéis públicos tiveram desempenho ainda melhor. A LFT rendeu 33,70% e a NTNB-Principal quase o dobro, com ganhos de 61,45%, ambos líquidos de custos.

Na época, no entanto, o patamar de juros era mais alto. Quanto maior a taxa Selic, menos vantajosa é a aplicação na caderneta.

Outra possibilidade é comparar o desempenho da poupança com uma carteira de ações concentrada, por exemplo, em oito empresas dos setores financeiro, de energia elétrica e minerais não metálicos. A ideia é selecionar uma boa combinação de papéis, correr mais risco e conseguir maior retorno.

Se os investimentos fossem igualmente distribuídos em papéis da AES Tietê, Cemig, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Pine, Cielo e Eternit, conforme sugestão de um leitor, essa carteira hipotética estaria contabilizando lucro bruto de 15,46% no ano. Em quatro anos, a rentabilidade bruta seria de 89%. Mesmo com custos, confortavelmente acima da poupança.

O problema é manter o sangue frio para administrar as perdas momentâneas, que podem ser altas. Olhando retrospectivamente, a situação é sempre mais confortável.

A tabela abaixo mostra o desempenho das ações mencionadas no período entre 31 de dezembro de 2012 a 31 de outubro de 2013. A AES Tietê ON, por exemplo, acumula rentabilidade de 2,43% no ano.

image

O pior momento do papel ocorreu entre os dias 2 de janeiro e 25 de março e 2013, quando caiu 16,5%. A recuperação para o preço de 2 de janeiro ocorreu apenas em 15 de maio, 90 dias úteis após o fundo do poço. 

Outro exemplo é BB ON, que tem valorização de 26,29% no ano. No pior momento, entre os dias 12 de abril e 3 de julho, o papel caiu 27,20% e somente recuperou o nível máximo anterior após 126 dias úteis. Ter a capacidade de manter o papel por todo esse período exige convicção e determinação.

No longo prazo as perdas máximas podem ser até maiores, como mostra o quadro a seguir.

image

Para ganhar da poupança em tempos de juros menores, é preciso acesso aos bons produtos de investimento, capacidade financeira para manter os recursos indisponíveis por certo tempo, convicção sobre as apostas e alguma dose de sorte. Além de um nível básico de educação financeira.

A falta de pelo menos um desses ingredientes talvez explique a opção pela caderneta e os sucessivos recordes de captação.