Investimentos conservadores também exigem diversificação

Desemprego em baixa e renda em alta é uma combinação favorável para o país, porque aumenta o bem estar da população e o otimismo com a economia. No entanto, o excesso de consumo pode resultar, mais à frente, em problemas, devido à inflação maior e o déficit nas contas externas.

O cenário econômico, quase sempre, emite sinais contraditórios para os investidores. Muitas vezes, boas notícias podem significar o aumento da chance de prejuízos, mesmo se a carteira estiver concentrada nas modalidades mais conservadoras.

Dependendo da reação do governo aos indicadores, os papéis de renda fixa podem ter desempenhos significativamente diferentes.

Por exemplo, se o Banco Central avaliar que o desajuste entre o crescimento da demanda e da oferta é transitório, a opção é esperar o tempo necessário para a finalização dos novos empreendimentos que estão em curso. Após um breve período, a economia voltará ao equilíbrio.

Nas situações em que o governo resolve aguardar, as aplicações de renda fixa mais rentáveis são os títulos indexados à inflação, tais como as Notas do Tesouro Nacional da série B (NTN-B). Os papéis acabam tendo um duplo ganho, devido ao aumento transitório da inflação e a redução dos juros reais, a diferença entre a taxa nominal e a variação dos índices de preço.

Mas o BC pode resolver agir para reduzir o ritmo do crescimento do consumo. Nesse cenário, os juros de curto prazo tendem a subir e as alternativas mais rentáveis passam a ser os papéis atrelados à taxa Selic ou a variação dos Certificados de Depósitos Interfinanceiros (CDI).

A Letra Financeira do Tesouro (LFT) é o título público corrigido pela Selic e os títulos privados, tais como CDBs e debêntures, são indexados ao CDI. Não necessariamente os dois indicadores tem a mesma rentabilidade.

Como alternativa às medidas anteriores, o BC pode adotar deliberações mais intervencionistas, na forma de controle do volume dos empréstimos bancários ou nas posições em dólar detidas pelas instituições financeiras. Esse tipo de medida, conhecida como macroprudencial, tem o efeito de controlar a demanda sem aumentar a taxa de juro. Nesse ambiente, as aplicações prefixadas, como a Letra do Tesouro Nacional (LTN), tendem a ser as mais rentáveis.

Prever o comportamento da economia, a reação do governo e o desempenho dos títulos é sempre difícil. Assim, mesmo nas modalidades conservadoras, é mais seguro diversificar. E manter claro o objetivo do investimento.

Artigo originalmente publicado na Folha de São Paulo

Defasagem entre CDI e Selic afeta R$ 1,4 trilhão em ativos

Nos primeiros nove meses de 2013, a rentabilidade média diária do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) foi equivalente a 96,4% da meta para a taxa Selic. No passado, os dois indicadores eram quase equivalentes.

O CDI é a base para a remuneração de aproximadamente 80% dos títulos privados em circulação no mercado, um montante de cerca de R$ 1,4 trilhão. A estimativa foi feita a partir dos dados do boletim mensal de renda fixa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Aberto e de Capitais (Anbima).

Já faz algum tempo que o mercado interbancário com lastro em depósitos interfinanceiros perdeu a representatividade. Atualmente são realizadas apenas dez operações diárias e nada indica que o volume de negócios irá aumentar a curto prazo.

Paradoxalmente, a emissão de títulos privados com remuneração indexada ao CDI tem crescido. Isso aconteceu porque, entre outras razões, novos instrumentos tais como LCIs e LCAs ficaram mais acessíveis aos investidores.

Além disso, o mercado de contratos futuros de DI negociados na BM&FBovespa passou a ser um parâmetro relevante para as decisões de política monetária. O setor privado e as autoridades monitoram de perto as transações com os derivativos.

Um ambiente em que poucos negócios influenciam de forma desproporcional a remuneração de enorme volume de transações financeiras preocupa. Na pior das hipóteses, a estabilidade do mercado financeiro poderia ser abalada.

Na semana passada, a defasagem do CDI diminuiu. Nos dias 9, 10 e 11 de outubro a relação para a meta da taxa Selic ficou acima de 98%. No entanto, ainda não há explicações concretas para esse movimento, conforme apontaram Angela Bittencourt e Lucinda Pinto no blog Casa das Caldeiras.

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Do ponto de vista pragmático, é cedo para avaliar se a defasagem entre CDI e Selic vai ser reduzida. De qualquer maneira, é prudente que o investidor leve em consideração que existe essa diferença no momento de estimar os ganhos potenciais das aplicações.

Assumir, por exemplo, que um fundo de investimento conservador renderá Selic menos a taxa de administração é um excesso de simplificação. No atual ambiente, é fundamental conhecer a forma de gestão da carteira para avaliar os riscos e a adequação da aplicação.

Mesmo prejudicados pelo descolamento do CDI em relação à Selic, há fundos referenciados DI no mercado com boa rentabilidade e que conseguem superar a poupança. Em setembro, por exemplo, foram 76 dentre 175 carteiras não exclusivas, potencialmente disponíveis para aplicação, com patrimônio líquido maior que R$ 10 milhões e mais de 100 cotistas.

Apesar de não ser a única característica a ser levada em consideração, o patamar da taxa de administração é importante. No caso dos fundos DI com melhor desempenho, a taxa média era de 0,4% ao ano.

Poupança cresce sem taxas, IR ou marcação a mercado

Rentabilidade tabelada, simplicidade para movimentação e confiança nas regras do investimento são os ingredientes que vem fazendo a caderneta de poupança continuar batendo seguidos recordes de captação.

Este foi o melhor setembro da história. E, no acumulado de 2013, o volume de depósitos registra crescimento de quase 50% sobre o mesmo período do ano passado.

Ao que tudo indica, os grandes bancos desistiram de oferecer aos clientes de varejo outras modalidades de produtos financeiros. Os correntistas, por sua vez, demostram convicção em escolher a facilidade e segurança da tradicional caderneta.

O efeito da marcação a mercado sobre os títulos públicos de longo prazo mostrou aos aplicadores o risco envolvido nos investimentos de renda fixa. Tanto os títulos negociados no Tesouro Direto quanto a carteira dos planos de previdência do tipo PGBL ou VGBL foram duramente afetados nos últimos meses. A rentabilidade dessas modalidades foi pífia.

As regras complexas das demais aplicações financeiras também aumenta a competitividade relativa da poupança. Nos fundos de investimento e de previdência, por exemplo, são cobradas taxas de administração dos aplicadores. Além de elevadas, as justificativas para a cobrança das taxas são pouco claras.

É difícil compreender, por exemplo, por que o correntista – que já paga taxa de manutenção na conta corrente – é obrigado a arcar com custos equivalentes a até 30% da rentabilidade bruta se quiser aplicar pequeno montante de recursos em um fundo de investimento conservador. 

E o que é pior. O sistema de tributação pelo Imposto de Renda (IR) possui alíquotas que variam conforme o prazo da aplicação. Na prática, esse mecanismo inibe a competitividade entre as instituições. Para o investidor, o custo de mudar de aplicação acaba sendo muito alto.

Nesse contexto, não surpreende a preferência do investidor pela caderneta. E explica os seguidos recordes de captação da tradicional modalidade.

Paradoxalmente, o crescimento do volume de depósitos na poupança pode estar formando uma legião de investidores mais conscientes. Na atual conjuntura, para atrair os aplicadores para as demais alternativas, é essencial que as instituições financeiras expliquem em detalhes o funcionamento do produto, custos, riscos e o potencial de retorno.

Hoje, as oportunidades de ganho em alternativas além da caderneta de poupança estão restritas aos investidores mais bem informados e que sabem avaliar corretamente o potencial de cada aplicação financeira. Para os menos informados, é mais seguro e rentável continuar com os recursos na poupança.