Caso Petrobras: desistir ou persistir?

Nos últimos cinco anos, o valor das ações da Petrobras caiu mais de 70%. O momento é de desistir do investimento na companhia, atolada em escândalos de corrupção e incapaz de divulgar sequer o balanço auditado, ou o mais sensato é persistir, apostando numa eventual recuperação?

No capítulo sobre a lógica do raciocínio humano no volume editado por G. J. Madden, intitulado “APA Handbook of Behavior Analysis”, E. Fantino e S. Stolarz-Fantino abordam as falhas mais frequentes nas decisões que tomamos no nosso dia a dia. Um dos temas é o “efeito dos custos perdidos” (“sunk-cost effect”).

Segundo os pesquisadores, quando as pessoas investem tempo ou dinheiro em determinadas atividades ou aplicações financeiras, ficam mais propensas a insistir naquele rumo estabelecido, mesmo que o resultado final esperado comece a se mostrar questionável.

A atitude contraria a noção, largamente incorporada ao comportamento humano racional, de que as escolhas devem ser feitas baseadas nos custos e benefícios previstos para o futuro. Nesse contexto, o passado é irrelevante.

Mais fácil pensar do que agir. Devido ao tamanho do comprometimento anterior, nossa tendência é de postergar ajustes. A correção de rota deixa de ser planejada, considerando a lógica das perspectivas. E aspectos emocionais passam a dominar as decisões.

Atualmente, os efeitos dos custos perdidos podem estar influenciando a avaliação de muitos investidores em ações da Petrobras. A empresa possui uma sólida base de aplicadores, muitos com posições mantidas há anos e que vivenciaram os melhores momentos da companhia. A esperança é de que os bons tempos possam voltar.

Chassi

Um fator adicional que potencializa os efeitos dos custos perdidos é a valorização da persistência em nossa sociedade. Atitudes perseverantes são vistas como fator fundamental para o exercício do autocontrole e uma forma de se evitar decisões impulsivas. Há inúmeros casos pessoais e empresariais de sucesso que foram alcançados após um longo período de dificuldades. Em outros contraexemplos, para ilustrar o valor da determinação, a desistência aconteceu muito perto de o objetivo ser atingido, provocando arrependimento.

Daniel Kahneman, prêmio Nobel de economia e estudioso do comportamento humano, avaliando os efeitos das escolhas, buscou entender o sentimento de incômodo que pode ser provocado quando decisões são tomadas. Segundo ele, sair de uma atitude padrão tem potencial muito maior de gerar arrependimento se o resultado final não for o esperado.

Por exemplo, a opção por se desfazer de uma aplicação deficitária, assumindo o prejuízo, e depois assistir à alta desse ativo provoca mais dor do que manter intocado o investimento e continuar contabilizando as perdas. Nessas situações é mais confortável emocionalmente persistir do que desistir.

Uma das principais contribuições dos pesquisadores no campo da análise comportamental é explicar a lógica das atitudes que parecem irracionais. Em relação aos efeitos dos custos perdidos especificamente, a distorção tende a acontecer em virtude da influência dos incentivos e da forma como as recompensas e reforços são percebidos.

Considere o caso das ações da Petrobras. Apesar da queda brutal do preço das ações desde 2010, houve pelo menos seis intervalos em que a valorização dos papéis foi de mais de 20% em curto espaço de tempo.

A estatal aumentou o faturamento em 43% entre 2010 e 2013, passando de R$ 213 bilhões para R$ 305 bilhões. Outros indicadores de desempenho foram igualmente positivos. Isso tudo sem falar do otimismo provocado pela descoberta do pré-sal.

Ocorre que o conjunto de informações acaba atrapalhando o processo de decisão do investidor. A dificuldade, cada vez mais esmiuçada pelos especialistas, é como selecionar os dados relevantes e interpretar os resultados corretamente, sem cair nas armadilhas dos chamados vieses comportamentais.

Hoje a Petrobras possui um problema concreto. A atual administração da companhia tem se mostrado incapaz de lidar com os problemas derivados das investigações de atos de corrupção na empresa.

Em contrapartida, o cenário futuro dos negócios parece promissor, se a direção for capaz de recolocar a gestão nos trilhos. Mas é impossível medir a chance de cada desdobramento.
Do ponto de vista dos incentivos recebidos pelos detentores de ações da Petrobras nos últimos anos, a atitude mais indicada é vender, aguardar a mudança dos administradores da empresa e esperar pela elaboração de um plano de negócios convincente.

No entanto, os especialistas na análise fundamentalista, que procura determinar o valor justo da empresa, podem ter recomendação diferente. É importante conhecer a opinião desses profissionais.

De qualquer forma, a vantagem da liquidez nas negociações no mercado acionário é a possibilidade de desistir e, depois de determinado tempo, voltar a persistir. O que acaba sendo muito mais fácil de se praticar quando a carteira é suficientemente diversificada.