Juros dos títulos de longo prazo em queda, crescimento econômico baixo, inflação próxima ao teto da meta e oportunidades de ganhos decorrentes das diferenças entre os rendimentos das aplicações financeiras em reais e nas moedas internacionais. O cenário atual da economia brasileira para as aplicações financeiras não é radiante, mas está longe de ser sombrio.
Os indicadores, porém, mostram que o risco é alto. A diferença entre a volatilidade do Ibovespa, que acompanha a cotação das principais companhias do país, e a do S&P 500, que mede o retorno das maiores empresas americanas, está perto da máxima atingida nos últimos quatro anos.
Quanto maior a variação diária da cotação dos ativos, mais incerta é a expectativa da rentabilidade do investimento no fim de determinado período. A previsão do rendimento de uma aplicação atrelada à taxa Selic com prazo de um ano, por exemplo, pode ser feita com muito mais segurança do que a de um fundo de ações que acompanhe o Ibovespa.
A oscilação das cotações implica aumento da taxa de desconto sobre o fluxo financeiro esperado do investimento. A razão é que para garantir um retorno mínimo num ambiente de incertezas, os investidores demandam preços mais baixos do que aqueles que seriam praticados caso o cenário fosse mais previsível.
Nos negócios com títulos de renda fixa esse mecanismo é mais evidente. Quando a inflação está alta e há dúvidas sobre a intenção do Banco Central (BC) a respeito do tamanho do aumento que será promovido na taxa Selic, o preço dos títulos de longo prazo cai.
Foi o que aconteceu em 2013 e trouxe como consequência prejuízos para os detentores de papéis do Tesouro. O interesse pelas aplicações diminuiu até que a atuação do BC ficasse mais clara.
Agora a sinalização é de que o juro permanecerá constante por um período razoavelmente longo. A demanda por títulos públicos voltou a subir e houve aumento dos preços.
O valor de mercado da Letra do Tesouro Nacional (LTN) com vencimento em janeiro de 2017, por exemplo, subiu 7,6% entre a cotação mínima, em 4 de fevereiro, e o preço de fechamento em 6 de junho deste ano. Os demais papéis tiveram recuperação semelhante.
Outra consequência do aumento da volatilidade é a busca por ganhos de curto prazo. Essa tendência é mais comum no mercado de ações.
Hoje, o maior fator de volatilidade do Ibovespa é a tentativa de estabelecer o preço para a possibilidade de reeleição da presidente Dilma. Em um mundo em que tudo parece estar à venda, como assinala Michael Sandel no livro “O que o dinheiro não compra”, é uma experiência compreensível, ainda que de resultado duvidoso.
A obra do filósofo americano é repleta de exemplos de como a lógica do mercado invadiu as relações sociais nas últimas décadas. Sandel esteve recentemente no Brasil para o ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento.
O caso mais provocador e que proporciona discussões acaloradas é a possibilidade de companhias fazerem seguro de vida para funcionários e elas serem as beneficiárias da apólice, no caso de morte do empregado.
A justificativa econômica do acordo é compensar as empresas pelos altos custos de treinamento e reposição da vaga deixada pelo falecido.
O mercado da morte é grande e possui derivados. Existem investidores especializados em antecipar o valor da apólice aos interessados em receber o seguro em vida. Dependendo do desconto negociado e do tempo até o falecimento, o resultado financeiro pode ser alto.
Diversos gestores de recursos, administradores de fundos de “private equity” e tesouraria dos grandes bancos de investimento são capazes de montar operações estruturadas para atender a demanda do mercado secundário para seguros de vida. E dar mais liquidez e transparência para o cálculo do valor presente das apólices, para quem queira negociá-las.
Nesse ambiente, a aposta na queda da presidente Dilma nas pesquisas de intenção de voto parece ser uma estratégia financeira como outra qualquer. Os especialistas procuram identificar a relação entre os números divulgados pelos institutos de pesquisa e a variação da bolsa.
Um ponto negativo dessa modalidade de investimento é que ela ainda não está suficientemente desenvolvida. Nenhuma seguradora conseguiu estipular o valor da apólice em caso de derrota do atual governo.
A expectativa é que os presidenciáveis da oposição sejam capazes de implantar uma política econômica que combine crescimento elevado com inflação baixa. Isso aumentaria a confiança dos consumidores e o lucro das empresas.
Um ponto obscuro é que, talvez, a própria presidente Dilma, num eventual segundo mandato, consiga entregar o resultado esperado pelo mercado para os candidatos da oposição. Nesse caso, a aposta na reeleição poderia significar ganhos para as ações e perdas para as posições vendidas.
O mais provável é que as apostas na valorização das ações sejam independentes do resultado das eleições. Se o próximo governo conseguir criar uma nova onda de otimismo, as cotações podem se recuperar.
Para o investidor que pretende atravessar o período eleitoral evitando a especulação, resta a alternativa mais tradicional: apostar na segurança da renda fixa e escolher uma carteira de ações de companhias com boas perspectivas de crescimento.