Dinheiro para nada

Um novo documentário sobre as causas e consequências da crise financeira mundial acaba de ser lançado nos Estados Unidos. “Money for Nothing” (Dinheiro para Nada, numa tradução livre) discute o funcionamento e os mecanismos de atuação do Fed, o banco central americano. E procura explicar os erros que foram cometidos.

A principal crítica, de acordo com as informações do site do documentário, gira em torno da incapacidade do Fed em antecipar uma crise de grandes proporções. Os juros baixos praticados por um longo período acabaram estimulando o excesso de financiamento, o que levou, entre outras coisas, a uma explosão no preço dos imóveis.

Diversas inovações financeiras com pouca regulamentação e baixa supervisão facilitaram a alavancagem das posições de bancos e demais participantes do mercado. A concessão de novos empréstimos cresceu de forma exponencial e, no fim, o sistema financeiro praticamente ruiu em 2008, quando a bolha estourou.

A linha do documentário parece semelhante a “Inside Job” (Trabalho Interno) que passou pela primeira vez no Brasil na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo do ano de 2010. Para os interessados em conhecer mais sobre as estratégias do Fed e o agora famoso “quantitative easing” (afrouxamento monetário), é torcer para que a organização da Mostra deste ano consiga exibir “Money for Nothing” agora em outubro. A conferir.

Por que saí do Goldman Sachs?

Em março de 2012, Greg Smith pediu demissão em grande estilo, ao publicar o artigo “Por que estou saindo do Goldman Sachs” no jornal “The New York Times”. A façanha rendeu enorme publicidade e Smith decidiu detalhar sua trajetória no mercado financeiro. Escreveu “Por que saí do Goldman Sachs – uma história de Wall Street”, lançado recentemente no Brasil.

O objetivo inicial de Smith era mostrar como o banco de investimentos ícone do mercado de capitais mundial foi capaz de mudar radicalmente a cultura centenária no curto espaço de 12 anos. Nesse período, coincidentemente, o autor começou sua carreira como estágiário no escritório de Nova York e atingiu o ápice com a promoção para liderar uma equipe de vendas de operações estruturadas com derivativos para clientes europeus, a partir de Londres.

Apesar de falhar na tarefa pretendida, Smith conseguiu escrever um guia para aspirantes que pretendem seguir carreira nos mais renomados bancos de investimento do mundo. Trabalho duro e auto-estima elevada são ingredientes essenciais para garantir retiradas anuais de pelo menos 500 mil dólares.

Além disso, é preciso certa habilidade política e uma boa dose de auto-engano para acreditar que o trabalho de preencher boletas e executar ordens de compra e venda de ações está sendo mal remunerado. Ambição e desenvoltura para reclamar dos bônus, qualquer que sejam os valores, é uma característica essencial para avançar na carreira.

O livro de Smith acaba sendo um guia atualizado do universo dos bancos de investimento, muitas vezes cruel e individualista. E onde o que conta é o quanto você produz e consegue levar para casa. É uma leitura reveladora.

O momento exato de investir em dólares

Desde o fim de junho até o início de setembro, a quantidade de cotistas com aplicações nos fundos cambiais oferecidos pelos principais bancos de varejo subiu 40%. No período, o dólar se valorizou 3% e atingiu o pico de R$ 2,45 no dia 22 de agosto. Pouco tempo depois, a cotação recuou para a faixa de R$ 2,30.

O dólar vem subindo desde julho de 2011, quando atingiu a mínima de R$ 1,53. Mas foi a alta recente que detonou a onda de interesse dos aplicadores de varejo por investimentos nos fundos cambiais.

ComprarErrado

Todo ano o Brasil gasta cerca de US$ 80 bilhões para fazer frente a compromissos externos com a importação de serviços e o pagamento de juros, lucros e dividendos. Esse déficit é financiado pelo saldo da balança comercial — a diferença entre as exportações e as importações de mercadorias — e com a entrada dos investimentos estrangeiros diretos, que contribuem para aumentar a capacidade produtiva.

Como nos últimos anos o país também tem captado recursos por meio de empréstimos contraídos no exterior e de investimentos em carteira — aplicações de estrangeiros em títulos e valores mobiliários brasileiros —, o saldo líquido das contas externas tem sido sistematicamente positivo.

Para tentar estabilizar a cotação do dólar devido à entrada significativa de divisas, o Banco Central comprou quantidade expressiva de moeda estrangeira. Como consequência, as reservas internacionais estão, hoje, ao redor de US$ 370 bilhões.

O comportamento das contas do balanço de pagamentos brasileiro é o pano de fundo para a trajetória da cotação do dólar. E a política econômica do país vai sendo adaptada para corrigir eventuais desequilíbrios entre oferta e demanda pela moeda estrangeira.

Nos períodos de entrada maciça de dólares, quando a cotação recua e o real fica mais forte, a tendência é que o Brasil pratique juros mais baixos e a inflação caia. O efeito positivo é o aumento do consumo, devido ao crescimento do poder de compra dos salários. O resultado mais visível dos períodos de bonança é o aumento da presença de bens de consumo importados nas lojas e o crescimento dos gastos com viagens internacionais.

Em épocas de saída de divisas, em contrapartida, a cotação do dólar aumenta, o poder de compra dos salários cai e, como consequência, o consumo diminui. Para evitar o repasse para os preços internos da alta do dólar, os juros tendem a subir, o que acaba esfriando ainda mais a economia.

A principal razão para a alta do dólar no período recente é a possibilidade de retirada dos estímulos monetários nos Estados Unidos. A perspectiva é que o banco central americano reduza o programa de recompra de títulos em poder das instituições financeiras.

Com menor oferta de dólares na maior economia do mundo, os investidores internacionais reduziriam o apetite para aplicações em países emergentes. Essa percepção é reforçada pelo fraco desempenho dos ativos financeiros dos países menos desenvolvidos.

O Ibovespa, por exemplo, caiu cerca de 5% desde janeiro de 2012 até 9 de setembro de 2013. Por sua vez, o indicador S&P 500, que mede o desempenho da bolsa americana, subiu cerca de 30% no mesmo período.

O trunfo atual do governo brasileiro para continuar atraindo dólares para o país é o programa de licitação para concessão de rodovias, ferrovias, aeroportos e portos. Segundo estimativas, a movimentação de recursos pode chegar a R$ 200 bilhões.

Se as autoridades conseguirem colocarem prática o programa, contornando as resistências políticas, a tendência é que a cotação do dólar volte a cair. Além disso, os benefícios concretos decorrentes do aumento da produtividade da economia tendem a ampliar o leque de opções para os investidores.

É possível, por exemplo, que diversas empresas decidam expandir as atividades. Para tanto, poderiam tentar acessar o mercado de capitais e emitir títulos de renda fixa e ações. Um ciclo favorável para o preço dos ativos financeiros brasileiros poderia ressurgir.

Em meados do ano passado, a credibilidade da condução da política econômica ficou abalada pela percepção de que houve aumento do intervencionismo. Na época, muitos investidores aproveitaram para diversificar os riscos e as aplicações financeiras no exterior apareceram como alternativa.

A diversificação das estratégias de investimento é sempre aconselhável. No entanto, é preciso evitar decisões que impliquem comprar quando os preços estão perto dos pontos máximos. É fundamental entender o cenário para minimizar os riscos.