Robôs ampliarão o alcance da assessoria financeira

No passado, investir em títulos atrelados à variação da taxa dos certificados de depósitos interfinanceiros (CDI) era algo relativamente complexo e caro. Hoje, graças à robustez dos códigos de computação e à proliferação de programas e aplicativos, basta um clique para que o negócio seja concretizado praticamente sem custos.

A edição de fevereiro e março da revista da Morningstar, uma provedora de serviços de informações sobre investimentos, discutiu o crescimento da utilização dos robôs no segmento de assessoria financeira.

Tradicionalmente, o objetivo da tecnologia no mercado de investimentos tem sido o de ampliar e tornar mais eficiente o processo de distribuição de produtos e serviços. Com o desenvolvimento da informática, em vez de depender de um profissional da linha de frente, o cliente passou a realizar suas operações diretamente por intermédio do computador, celular ou caixa eletrônico.

Isso ampliou a quantidade de transações executadas e proporcionou ganhos de escala às instituições financeiras. Parte do aumento da produtividade foi revertida para os clientes, por meio de custos mais baixos ou relatórios mais elaborados.

O passo seguinte foi o de aumentar o leque de informações sobre as alternativas de investimento disponíveis. Como consequência, diversos sites na internet passaram a oferecer ferramentas onde é possível selecionar ativos, comparar opções e simular resultados, além de realizar as aplicações.

A tendência mais recente é que robôs façam sugestões de alocação de recursos com base nas informações fornecidas pelo investidor sobre os objetivos da aplicação e da tolerância aos riscos de perda do capital. A partir daí o cliente pode decidir investir na carteira sugerida, que é reajustada periodicamente de maneira automática conforme mudem as condições de mercado.

Os modelos de construção de carteiras envolvem estimar o maior retorno possível para um determinado nível de risco. O gráfico abaixo indica a relação entre o ganho acumulado e a oscilação da rentabilidade desde janeiro de 2015 até abril de 2016 para os principais indicadores do mercado financeiro brasileiro.

CarteiraIdeal

A ideia é combinar os ativos de tal maneira a conseguir as ponderações mais eficientes, tendo em vista os objetivos que foram estipulados. O processo de assessoria financeira busca estabelecer parâmetros conforme as necessidades específicas de cada cliente.

Como em qualquer modelo, para tirar o máximo de proveito é preciso entender a lógica das premissas. Segundo os especialistas, existe um ciclo de aprendizagem.

Em um primeiro momento, nossa preferência é conversar com uma pessoa que possa nos explicar em detalhes as estratégias de investimento sugeridas. Depois, conforme vamos nos aprofundando a respeito do assunto, a tendência é ganharmos confiança para tomar decisões autônomas e executá-las via Internet.

Para Don Phillips, diretor executivo da Morningstar, a qualidade da assessoria financeira está em alta. Paradoxalmente existem hoje nos Estados Unidos menos assessores financeiros em relação ao que havia no passado. Entretanto, a demanda por serviços mais elaborados aumentou.

A tecnologia permite que os assessores financeiros adotem um tratamento mais amplo, o que no jargão de mercado é chamado de abordagem holística. Trata-se de um conceito teórico segundo o qual a totalidade dos fatores interagem, formando um todo que não pode ser entendido isoladamente.

No caso específico da assessoria financeira, para definir a composição mais eficiente da carteira é necessário conhecer em detalhes todas as necessidades do cliente. Muitas vezes, apenas com uma conversa pessoal é possível identificar os parâmetros relevantes para um planejamento abrangente.

A consequência prática da evolução tecnológica é uma mudança na forma de remuneração do trabalho dos prestadores de serviço. Em vez de as comissões estarem relacionadas com o valor do patrimônio dos investidores, cada vez mais o ganho dos assessores financeiros estará fundamentado no valor que o profissional puder agregar para seus clientes.

Os robôs estão se tornando uma plataforma importante para os assessores financeiros. Como a tecnologia ajuda a economizar tempo e aumentar a escala de prestação de serviços, torna-se possível atender mais clientes.

Fazendo uma analogia com o Uber, que estimulou o setor de serviços de transporte em carros particulares, graças aos robôs é possível imaginar uma expansão significativa do mercado de assessoria de investimentos.

O limite da paciência do investidor

Ações são para o longo prazo, mantenha a estratégia que foi decidida no planejamento original e evite negociar nos momentos de forte turbulência para reduzir as chances de prejuízos. Essas são algumas das recomendações mais frequentemente oferecidas aos investidores pelos profissionais da área financeira.

O problema é que, em muitas ocasiões, a calma excessiva pode ocasionar perdas. Ou fazer com que você deixe escapar oportunidades de lucro. Manter uma posição além do tempo ideal ou demorar para identificar uma reviravolta reduz a rentabilidade da carteira.

Em apresentação na conferência sobre investimentos promovida pela Morningstar, no fim de junho em Chicago, Jeremy Grantham, um dos fundadores da gestora de recursos GMO, explicou a maneira como o mercado dá voltas e como isso é capaz de afetar a estratégia do investidor.

Para Grantham, existe um ciclo que começa no momento em que é formado uma espécie de consenso sobre a direção futura do preço dos ativos. Nesse instante, mesmo que de forma inconsciente, os investidores passam a desenvolver um comportamento de manada.

Citando Keynes, o gestor explica que a sabedoria universal indica ser melhor para a reputação fracassar junto com o mercado do que vencer contra ele. Essa característica da psicologia dos aplicadores é tema de amplos estudos em finanças comportamentais. O prazer de evitar uma perda decorrente de uma aposta equivocada é grande. Mas a dor de não comprar a ação que dobrou de preço, quando você sabe que todos os seus conhecidos investiram, é maior.

Assim, é mais confortável manter em carteira um ativo que todos têm do que correr o risco de ficar fora de uma boa oportunidade. Na pior das hipóteses, se a aposta der errada, é cômodo saber que muitos estarão na mesma situação.

A consequência do comportamento de manada é a distorção do preço dos ativos, que passam a ficar acima (ou abaixo) do que seria considerado como o valor justo, levando-se em conta todos os aspectos teóricos e práticos que envolvem a avaliação dos negócios.

Oportunidades, então, começam a aparecer. Ao avaliar as ações de uma empresa após uma alta expressiva, um investidor mais detalhista poderia identificar que o valor de mercado da companhia passou a ser maior do que o custo de reposição de todos os ativos contabilizados no balanço.

Idealmente, existiria a possibilidade de o proprietário da empresa vender suas ações na bolsa e, com os recursos, construir uma nova fábrica para concorrer com a antiga empresa. Como prêmio adicional, embolsaria a diferença.

No jargão financeiro, a venda de um ativo em um mercado específico e a compra de bem igual ou semelhante em uma outra transação por preço mais baixo é chamado de arbitragem. Se o processo puder ser repetido inúmeras vezes, é uma fábrica de fazer dinheiro.

Os investidores estão sempre atrás de oportunidades de arbitragens. A mera constatação de que o valor de mercado de uma companhia está acima do custo de reposição é suficiente para desencadear um processo de queda dos preços.

O inverso também acontece. Se for mais vantajoso comprar as ações de uma empresa negociada em bolsa do que construir uma nova fábrica, os investimentos no setor produtivo tendem a secar e o preço dos papéis das companhias em operação podem subir.

Por trás do ajuste ocasionado pelas possibilidades de arbitragens está a noção de que é questão de tempo para que as cotações cheguem ao valor justo. A premissa é que, uma vez identificada uma tendência para o preço dos ativos, em algum momento o valor de mercado será corrigido.

Mas não há como estimar o prazo para o acerto dos desequilíbrios. As bolhas financeiras e os períodos de depressão podem durar mais do que o inicialmente esperado.

O principal desafio para os gestores profissionais, então, é administrar a paciência do investidor. Mesmo que as posições da carteira sejam solidamente justificadas pelas análises dos especialistas, a tolerância a perdas do aplicador costuma ser pequena.
  
Para os administradores de recursos, o temor é que a paciência dos clientes  atinja o limite antes da maturação das estratégias que foram colocadas em prática. Isso provocaria uma onda de saques dos fundos com desempenho ruim e forçaria muitos profissionais a abandonar a atividade de gestão de ativos.

Grantham chama essa possibilidade de “risco de carreira”. Cientes dessa possibilidade, os próprios gestores mudariam as aplicações das carteiras e contribuiriam para o recomeço do ciclo de comportamento de manada.

ArteCiclo

Para o investidor, é importante manter o equilíbrio entre a paciência e a agonia. Conhecer as estratégias de investimento que estão sendo adotadas pelos administradores da carteira é um primeiro passo para embasar as decisões de maneira mais rentável.

Conhecer o ciclo do mercado e tentar antecipar os prováveis desdobramentos também podem evitar surpresas desagradáveis. É fundamental ainda conferir se o desempenho do gestor está em linha com as decisões que foram informadas.

Esses cuidados do investidor são particularmente importantes nessa época de incertezas políticas e econômicas.

Quanto maior sua educação financeira, maior sua riqueza

Pessoas com mais conhecimento sobre finanças pessoais conseguem acumular mais riqueza ao longo da vida porque planejam melhor a aposentadoria e desenvolvem maior capacidade para escolher as aplicações financeiras mais rentáveis.

Essa é a essência de um estudo de três economistas que analisaram a riqueza das famílias holandesas, a partir de dados coletados pelo banco central daquele país.

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