Temas econômicos das eleições impactam investimentos

Os principais temas econômicos das eleições deste ano são as ações necessárias para a retomada do crescimento, as formas para manter os negócios no Brasil atrativos junto aos investidores estrangeiros e os passos previstos para equilibrar as contas públicas com o objetivo de reduzir a dívida interna.

Se houver consenso da sociedade de como enfrentar esses três problemas, o impacto para os ativos financeiros será positivo. A tendência para o longo prazo será de alta da bolsa, queda do dólar e redução das taxas de juros.

A retomada do crescimento é fundamental para a diminuição do desemprego, aumento dos salários e elevação dos lucros das companhias. O maior dinamismo do mercado tende a gerar mais oportunidades de empreendimentos, elevação do volume das operações de crédito e novos investimentos.

A inserção do Brasil no mercado de capitais internacional, por sua vez, é importante para o aumento da produtividade. Economias não conectadas aos setores de ponta dos negócios globais tendem a ficar estagnadas.

E o controle das contas públicas é essencial para reduzir a parcela do orçamento que é gasta com o serviço da dívida. Com folga de caixa é possível reduzir os juros e planejar o direcionamento de recursos para serviços públicos e investimentos estatais.

Entretanto, no atual momento da campanha eleitoral, ainda estamos longe de encontrar a melhor forma de atuação para a resolução dos gargalos. Se a incerteza continuar, o potencial de valorização dos ativos continuará limitado.

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A consequência desta incerteza é o reverso da valorização esperada dos ativos financeiros, caso houvesse a determinação política para enfrentar os problemas econômicos do país.

De abril a agosto deste ano, o dólar subiu mais de 20% em relação ao real, a bolsa caiu quase 10% e o IMA-Geral, indicador que mede a rentabilidade de uma carteira diversificada de títulos públicos, rendeu menos de 20% da variação do Certificado de Depósitos Interfinanceiros (CDI).

A reação mais visível dos investidores no setor de fundos de investimento tem sido o aumento da procura por carteiras cambiais ou com aplicações no exterior.

O patrimônio líquido dos fundos cambiais, de aproximadamente R$ 5 bilhões, é relativamente modesto em relação ao total de R$ 4 trilhões do setor. Entretanto, o crescimento dos últimos meses do segmento tem sido expressivo.

Considerando apenas os fundos destinados aos investidores de varejo e de alta renda, entre abril e agosto houve incremento de 70% da quantidade de cotistas. Mais de 12 mil pessoas decidiram aplicar nas carteiras disponíveis nos bancos e plataformas de investimento.

O volume alocado nos fundos cambiais no período foi de aproximadamente R$ 1 bilhão, o que representa aumento expressivo em relação ao patrimônio atual.

Também relevante é o crescimento dos fundos das categorias multimercado e ações com investimento no exterior. Apesar de regulamentadas há algum tempo, o volume de aplicações em ativos negociados no mercado internacional a partir de carteiras constituídas no Brasil não era relevante.

O motivo para tanto eram as melhores oportunidades no mercado local em relação ao global. A diferença de juros entre o Brasil e o exterior era grande e as incertezas em relação ao crescimento das economias desenvolvidas desestimulava os investimentos em ativos de renda variável.

O cenário foi mudando gradualmente e hoje a confiança na solidez das principais economias do mundo é sensivelmente maior do que era há alguns anos. Adicionalmente, a recessão no Brasil derrubou as taxas de juros e a inflação, reduzindo a diferença da remuneração da renda fixa.

Segundo dados da Anbima, as carteiras multimercado e ações com investimento no exterior somam patrimônio de R$ 400 bilhões. Isso não significa que todo esse volume está investido fora do país, já que os administradores podem adotar a estratégia de classificar as carteiras dessa forma para aproveitarem eventuais oportunidades que apareçam.

De acordo com os dados da Morningstar, existem 1.939 fundos multimercado e ações com investimento no exterior. Desses, apenas 72 possuem mais de 50 cotistas e estão efetivamente disponíveis para investimentos de qualquer pessoa. O restante são carteiras exclusivas, algumas com volumes expressivos.

Ao contrário da última eleição presidencial, hoje existe mais incerteza em relação aos mercados emergentes do que aos desenvolvidos. Desde abril as ações nos Estados Unidos valorizaram 9%, os mercados globais subiram 6%, os emergentes recuaram 7% e o Brasil caiu 25%. Os índices são em dólares.

É importante encontrarmos nosso rumo para a economia.

Um passo além da “arquitetura aberta”

A possibilidade de o cliente de um banco comprar fundos de investimento sob gestão de um concorrente é chamada de “arquitetura aberta”. No mercado brasileiro, essa estrutura é um sucesso entre as carteiras classificadas na categoria multimercado.

Atualmente, a soma do patrimônio líquido dos fundos de investimento administrados por gestores independentes que são distribuídos pelos bancos de varejo já é maior do que o montante alocado nos fundos de ações sob gestão daquelas instituições.

Essa marca é significativa. Isso porque, de uma forma geral, os bancos de varejo preferem oferecer produtos mais simples em suas redes de distribuição.

Se o cliente tem interesse em arriscar mais para tentar conseguir maior retorno, tradicionalmente existiam duas opções nos bancos de varejo. Ou os fundos de ações indexados a algum indicador do mercado ou as carteiras compostas apenas por uma ação, como Petrobras ou Vale.

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A premissa por trás dessa estratégia de distribuição é a crença de que é mais simples explicar aos investidores as oscilações inerentes às aplicações mais agressivas se o fundo estiver atrelado a algum índice. Por exemplo, quando o investimento sobe ou cai na mesma proporção que o Ibovespa.

Como as variações dos indicadores de mercado são largamente noticiadas e avaliadas, o investidor pode contar com diversas análises de diferentes fontes para se sentir mais confortável com a aplicação. Esse é um fator que minimiza eventuais danos à reputação do banco.

A instituição quer evitar a imagem de que a recomendação para investir em determinado produto acabou levando o cliente a amargar perdas. Para minimizar esse risco, a solução conservadora é oferecer apenas aplicações indexadas.

Os gestores independentes, por sua vez, são empresas especializadas na administração recursos de clientes que demandam um estilo de gestão sofisticado e mais arriscado. Geralmente oferecem poucos fundos que, devido às características, são classificados nas categorias multimercado ou ações livre.

As carteiras podem investir em praticamente qualquer ativo, sem limites de alavancagem com relação à atuação nos mercado de derivativos e pouca restrição ao risco. Os limites de perdas são estabelecidos e alterados pelo próprio gestor.

Assim, o investimento pode ter boa rentabilidade mesmo quando os principais indicadores de mercado registram quedas. Ou exatamente o contrário, o que gera desconforto e prejuízos aos investidores.

Segundo dados da Anbima, a associação que representa as entidades do setor financeiro, o volume total de recursos aplicados em fundos de investimento no país alcança atualmente aproximados R$ 4 trilhões.

Nos rankings de administradores e de gestores de fundos de investimento elaborados pela associação, as cinco primeiras posições são ocupadas por Banco do Brasil (BB), Itaú Unibanco, Bradesco, Caixa e Santander. Somados, representam mais de 60% do patrimônio total do mercado.

A explicação para essa destacada liderança decorre, fundamentalmente, da capacidade de distribuição. A ampla rede de agências e a enorme gama de produtos e serviços oferecidos é uma vantagem competitiva.

De acordo com as informações do sistema Morningstar Direct, o volume total de recursos investidos nos fundos de investimento com mais de 250 cotistas dessas cinco instituições acumula cerca de R$ 1 trilhão.

Essa amostra captura as alternativas efetivamente disponíveis para os investidores, deixando de lado as carteiras destinadas aos grandes investidores institucionais.

Desse total, 90% do montante está aplicado em fundos de renda fixa, 8% em fundos multimercado e 2% em fundos de ações.

Praticamente a totalidade dos recursos investidos nas categorias renda fixa e ações é administrada pela gestora do próprio banco.

Mas na parcela de fundos multimercado, as carteiras com gestão da subsidiária do banco representam apenas 31% do total. Os fundos espelho, veículos que aplicam em outros fundos sob responsabilidade de gestores independentes, representam 21% do montante, os fundos multigestores, que investem de forma diversificada em várias carteiras de gestores independentes, somam o equivalente a 42% e 6% são carteiras que espelham fundos que investem no exterior.

O maior patrimônio das carteiras multimercado multigestores parece indicar que, mais importante do que o acesso a bons fundos por meio de uma “arquitetura aberta”, os investidores começam a demandar alternativas mais específicas, na forma de soluções estruturadas.

A conclusão é que um bom método para seleção de fundos é fundamental para atender a demanda dos clientes.