O preocupante descontrole na condução da política econômica do país já vai provocando reflexos nas aplicações dos investidores de varejo. Desde o começo de agosto até o dia 18 de setembro, o total de cotistas com posições nos principais fundos cambiais oferecidos pelos bancos de rede subiu de 13 mil para 17 mil aplicadores.
BB, Caixa, Itaú e Santander lideram o segmento de carteiras indexadas ao dólar. Bradesco e Safra, assim como distribuidores independentes, tais como XP e Guide, também possuem produtos acessíveis aos pequenos poupadores.
O aumento do interesse dos investidores precisa ser avaliado em perspectiva. O maior fundo cambial, em quantidade de cotistas, é o Itaú Personnalité Cambial Dólar, com cerca de 6 mil aplicadores. O fundo DI mais popular do segmento Personnalité do Itaú reúne 110 mil cotistas.
A comparação sugere que, atualmente, apenas uma fração pequena dos clientes possui aplicações em fundos cambiais. Essa proporção é semelhante nas demais instituições.
A tendência dos números, entretanto, chama a atenção. O crescimento médio de 30% na quantidade de cotistas dos fundos cambiais em período tão curto não encontra paralelo em carteiras das demais categorias.
Mesmo com a alta expressiva nos últimos meses, os investidores continuam buscando ativamente proteção para a desvalorização do real. A decisão pode fazer sentido, visto que a perspectiva é que a oferta de dólares caia na contramão da demanda pela moeda.
A perda do grau de investimento do país tem o potencial de reduzir o fluxo de entrada de investimentos estrangeiros direto, já alertava o ministro Joaquim Levy em 29 de abril, em apresentação na Câmara dos Deputados. E a vigência da instrução CVM 555 a partir de outubro tende a facilitar o acesso dos brasileiros aos produtos oferecidos no mercado internacional.
Além disso, conforme mostrou o repórter Fernando Torres, do Valor, considerando a diferença histórica entre a inflação no Brasil e nos Estados Unidos desde outubro de 2002 – até então cotação recorde na história do Plano Real –, o dólar, em termos reais, equivaleria hoje a R$ 6,83 – o que significa que há espaço para valorizações adicionais.
A despeito da razão para o investimento em ativos atrelados ao dólar, é importante ter em conta que a aplicação oscila acentuadamente. Nos últimos 15 anos, a variação cambial ocorrida em intervalos móveis 12 meses foi sempre elevada. E em metade das vezes foi negativa.
O pior momento para investir em dólar ocorreu entre janeiro e dezembro de 2009, quando a moeda americana caiu 25% em relação ao real e a cotação diminuiu de R$ 2,32 para R$ 1,74. O dólar continuou em baixa até atingir a mínima de R$ 1,56 em julho de 2011. A partir de então a moeda começou a trajetória de alta, até atingir as máximas históricas recentes.
A alternativa para fugir da volatilidade do dólar é manter as aplicações vinculadas à variação do Certificado de Depósitos Interfinanceiro (CDI), que guarda estreita relação com a taxa Selic. A vantagem é que, com o histórico de juros elevados no Brasil, em poucas ocasiões a estratégia produz arrependimento.
O gráfico abaixo compara a diferença entre a variação cambial e o CDI em períodos móveis de 12 meses desde setembro de 2000. As barras azuis indicam os momentos em que a variação cambial superou o CDI. As barras vermelhas mostram quando a rentabilidade do dólar foi menor do que o indicador da renda fixa.
A quantidade de barras vermelhas é cerca de duas vezes superior ao número de barras azuis. Significa que, no passado, foi mais comum ganhar com a aplicação em CDI do que com o investimento em dólares.
Uma terceira opção é buscar o equilíbrio entre o custo de oportunidade do CDI e a proteção contra a desvalorização do real. A forma de implementar essa estratégia é por meio de operações estruturadas.
No atual ambiente de oscilações extremas do dólar, a oferta deste tipo de alternativa tem se multiplicado. O BNP Paribas, por exemplo, lançou recentemente o fundo Momentum FX Range.
O objetivo da aplicação é proporcionar uma remuneração de cerca de 160% da taxa prefixada desde que a cotação do dólar não ultrapasse um intervalo de aproximadamente 5% para cima ou para baixo em relação à data do início da operação.
Para cada dia em que a taxa de câmbio termine fora do patamar especificado, a rentabilidade do fundo cai. No pior cenário, o rendimento é nulo.
A XP, por sua vez, oferece aos clientes que já possuem dólares, e lucraram com a alta, a possibilidade de assegurar o ganho sem vender a moeda. Por meio de operações no mercado de derivativos, o objetivo da estratégia é comprar, sem custos, um seguro contra a queda do dólar. A contrapartida da estrutura é abrir mão de parte do ganho, caso a moeda estrangeira continue subindo.
Especialmente no momento atual, as decisões devem considerar os riscos e os objetivos do investimento. O maior impacto da crise que atravessamos é o aumento da complexidade dos fatores que precisam ser levados em conta antes de decidir pela melhor aplicação financeira.
O ponto positivo é que existem uma série de produtos financeiros disponíveis para a diversificação dos investimentos. Entretanto, uma avaliação criteriosa das alternativas é essencial para evitar decisões equivocadas.