Fase final da campanha, especulação com o ”kit eleições” e apostas buscando antecipar o resultado das pesquisas de intenção de voto podem justificar as atuais intervenções do Banco Central no mercado cambial.
A longo prazo, porém, a política de “swaps” para segurar a cotação do dólar não é sustentável.
A maior qualidade da política econômica do governo Dilma foi tentar corrigir a excessiva valorização do Real. Do ponto de vista financeiro, o efeito foi despertar, pela primeira vez em muitos anos, o interesse dos brasileiros por uma carteira de aplicações fora do país.
O padrão da política econômica nos anos anteriores era uma combinação de juros internos altos e taxa de câmbio baixa. Uma função importante dos juros era atrair capitais externos para financiar as compras realizadas pelos brasileiros no exterior.
O dólar barato proporcionava o aumento do poder de consumo e a sensação de bem estar. O que é sempre bom para a popularidade do governo.
Nesse ambiente, a principal justificativa para investir no exterior era evitar o risco da instabilidade econômica e política local. O custo de oportunidade era alto, porque a diferença de rendimentos podia ser extremamente elevada.
O ganho das aplicações financeiras varia conforme o risco. O gráfico abaixo mostra o retorno em períodos móveis de 48 meses de dois indicadores de renda fixa.
O “Barclays US Aggregate 5-7 Yr TR” mede o retorno total de uma carteira de títulos com prazo de 5 a 7 anos, emitidos em dólares por empresas de primeira linha ou pelo governo americano. O “Barclays EM USD Agg Brazil TR USD” acompanha a valorização de uma carteira de papéis brasileiros emitidos em dólares.
Na média, os papéis brasileiros renderam cerca de 2% ao ano acima dos títulos americanos. A contrapartida para o maior risco foi o retorno mais atrativo.
Investir fora do Brasil, no entanto, ainda é para poucos. As aplicações podem demandar elevado montante financeiro inicial ou as estruturas jurídicas e fiscais para viabilizar a remessa dos recursos podem custar caro.
Para o investidor brasileiro, o produto mais acessível são os fundos cambiais. O gráfico abaixo compara a rentabilidade média das carteiras com a variação do dólar, também em períodos móveis de 48 meses. O rendimento é em reais.
As linhas são praticamente coincidentes. Significa que, investindo nos fundos cambiais disponíveis no mercado local, o investidor brasileiro deixa de ganhar a remuneração dos títulos emitidos no exterior. Em compensação, consegue economizar os custos que envolvem a transferência de recursos para fora do país.
Outro ponto que chama a atenção no gráfico é a oscilação do rendimento. No período entre agosto de 2008 e julho de 2012, por exemplo, os fundos cambiais renderam quase 8% ao ano.
No entanto, no período entre março de 2009 e fevereiro de 2013 o rendimento foi negativo, de -4% ao ano. Já nos períodos de 48 meses encerrados desde julho de 2013 até agosto de 2014, o rendimento médio dos fundos cambiais tem ficado em aproximadamente 6% ao ano.
Os dados históricos mostram que as aplicações indexadas ao dólar possuem grandes variações. Em contrapartida, a análise prospectiva parece indicar que a margem do governo de usar o câmbio valorizado para administrar a política econômica chegou ao limite.
Nesse ambiente, convém ficar atento. Novos produtos financeiros indexados ao dólar e fundos de investimento com estratégias mais elaboradas podem ficar mais acessíveis ao investidor.