Ninguém segura a poupança

Em janeiro de 2014, a captação líquida da caderneta de poupança caiu 24% em relação ao mesmo período do ano passado. E o número de dias que registraram resgates maiores do que aplicações foi duas vezes maior do que os dias com captação positiva, igualando o pior desempenho para o mês, ocorrido em 2012.

Mesmo assim, os dados apontam que o volume mensal de depósitos foi de R$ 128 bilhões, o que representa crescimento de 13% sobre janeiro de 2013. E o saldo da aplicação chegou a R$ 603 bilhões, aumentando 20% no período.

image

Com esses números iniciais e as turbulências do mercado, é possível que a poupança caminhe para um novo recorde de captação em 2014. Se é uma notícia boa ou ruim para o financiamento da dívida pública, ainda é um assunto em aberto.

Mas se os juros continuarem altos, os fundos DI devem superar o rendimento da caderneta, mesmo consideranddo o Imposto de Renda.

Poupança cresce sem taxas, IR ou marcação a mercado

Rentabilidade tabelada, simplicidade para movimentação e confiança nas regras do investimento são os ingredientes que vem fazendo a caderneta de poupança continuar batendo seguidos recordes de captação.

Este foi o melhor setembro da história. E, no acumulado de 2013, o volume de depósitos registra crescimento de quase 50% sobre o mesmo período do ano passado.

Ao que tudo indica, os grandes bancos desistiram de oferecer aos clientes de varejo outras modalidades de produtos financeiros. Os correntistas, por sua vez, demostram convicção em escolher a facilidade e segurança da tradicional caderneta.

O efeito da marcação a mercado sobre os títulos públicos de longo prazo mostrou aos aplicadores o risco envolvido nos investimentos de renda fixa. Tanto os títulos negociados no Tesouro Direto quanto a carteira dos planos de previdência do tipo PGBL ou VGBL foram duramente afetados nos últimos meses. A rentabilidade dessas modalidades foi pífia.

As regras complexas das demais aplicações financeiras também aumenta a competitividade relativa da poupança. Nos fundos de investimento e de previdência, por exemplo, são cobradas taxas de administração dos aplicadores. Além de elevadas, as justificativas para a cobrança das taxas são pouco claras.

É difícil compreender, por exemplo, por que o correntista – que já paga taxa de manutenção na conta corrente – é obrigado a arcar com custos equivalentes a até 30% da rentabilidade bruta se quiser aplicar pequeno montante de recursos em um fundo de investimento conservador. 

E o que é pior. O sistema de tributação pelo Imposto de Renda (IR) possui alíquotas que variam conforme o prazo da aplicação. Na prática, esse mecanismo inibe a competitividade entre as instituições. Para o investidor, o custo de mudar de aplicação acaba sendo muito alto.

Nesse contexto, não surpreende a preferência do investidor pela caderneta. E explica os seguidos recordes de captação da tradicional modalidade.

Paradoxalmente, o crescimento do volume de depósitos na poupança pode estar formando uma legião de investidores mais conscientes. Na atual conjuntura, para atrair os aplicadores para as demais alternativas, é essencial que as instituições financeiras expliquem em detalhes o funcionamento do produto, custos, riscos e o potencial de retorno.

Hoje, as oportunidades de ganho em alternativas além da caderneta de poupança estão restritas aos investidores mais bem informados e que sabem avaliar corretamente o potencial de cada aplicação financeira. Para os menos informados, é mais seguro e rentável continuar com os recursos na poupança.