Os incentivos para você cair numa pirâmide financeira

Se você quer aprender a investir na bolsa, que tal acompanhar os passos de uma jovem que ficou milionária aos 22 anos, partindo de uma modesta aplicação inicial quando era adolescente?

Ou então, para iniciar uma carreira bem sucedida como “trader”, a alternativa é ter acesso diário às melhores ideias de uma renomada equipe de analistas que se propõe a vasculhar o mercado em busca de oportunidades de curto prazo e com potencial de ganhos de pelo menos R$ 300 mil por ano.

Se você gostou das opções anteriores mas está sem tempo, uma solução é delegar a função de escolher as melhores oportunidades para o gerente de seu banco ou a um agente autônomo de investimento (AAI) bem informado. No limite, se você não quiser ter a chateação de acompanhar os detalhes das transações executadas, basta dar liberdade total ao seu corretor ou gestor de investimentos e combinar com ele que irá acompanhar os resultados obtidos apenas uma vez por mês.

A diferença entre as alternativas acima é o grau de risco que você pretende correr. E, nos casos extremos, o limite entre a informalidade e a legalidade.

Na prática, sua escolha acaba sendo determinada pelo quanto você é persuadido por cada oferta. Para o psicólogo social Robert Cialdini existem seis maneiras de exercer a influência sobre alguém.

A primeira é a reciprocidade. Se uma pessoa se dispõe a contar os segredos de como ficou milionária, a sua tendência é tentar retribuir de alguma forma, talvez consumindo os produtos e serviços que ela recomende.

A segunda forma é apelar para o seu compromisso e coerência. Se você foi suficientemente persistente para assistir integralmente a apresentação de um novo serviço, é quase uma obrigação fazer a contratação e partir para a ação.

A terceira é a prova social: se você tem interesse pelo mercado de ações, é natural que adote uma postura arrojada e busque retornos superiores às aplicações conservadoras. Afinal você faz parte de um grupo diferenciado.

A quarta é a simpatia. É difícil ignorar os conselhos de um jovem que se mostra genuinamente interessado pelo patrimônio que você irá usufruir na velhice.

A quinta é autoridade, que se manifesta quando um analista que aparenta ser altamente qualificado faz uma análise abrangente sobre o mercado e chega à conclusão de que você deve tomar uma determinada decisão de investimento.

A última maneira para exercer a persuasão é apelar para a escassez. Como as boas oportunidades invariavelmente acabam, é fundamental agir rapidamente.

Acompanhar o passo a passo de uma investidora bem sucedida parece ser uma atividade divertida e inocente. Já delegar a gestão de seu patrimônio para um AAI é altamente perigoso, além de ser ilegal.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é o órgão regulador do mercado brasileiro e tem uma clara implicância com o que é convencionalmente chamado de “marketing agressivo”. Um gestor de fundos de investimento, por exemplo, não pode fazer propaganda de sua performance caso a carteira tenha menos de seis meses de histórico. Prometer rendimento futuro está fora de questão.

A preocupação é que as ofertas mais persuasivas podem acabar pavimentando o caminho para golpes e pirâmides financeiras. De fato, a história mostra que diversos profissionais de sucesso acabaram trilhando o caminho da vigarice e terminaram lesando diversos investidores.

Os argumentos de venda podem estimular a auto confiança do investidor e minimizar a avaliação dos aspectos relacionados aos riscos. Entretanto, dependendo do produto ou serviço oferecido, a estratégia de divulgação bem humorada acaba não sendo um problema, desde que a prática esteja submetida a algum tipo de fiscalização externa.

Essa é a razão para a CVM tentar supervisionar todas as atividades relacionadas com a venda de produtos, serviços, informações e recomendações financeiras. Parece um excesso de burocracia e uma excessiva intervenção em assuntos privados, mas tem uma lógica de prevenção às fraudes.

Em muitos aspectos, a regulamentação governamental pode ser substituída por arranjos alternativos, sob a supervisão das associações profissionais ou de participantes do mercado. É consenso que alguns freios e o controle da alavancagem promovem a eficiência do sistema financeiro.

O fato é que se você contratar um bom assessor financeiro, que tenha efetivamente uma preocupação com sua saúde financeira, ele irá alertá-lo sobre os riscos e as oportunidades dos investimentos.

Mas se você for ganancioso e pouco criterioso, pode acabar nas garras de um especialista mal intencionado e cair numa pirâmide financeira.

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