A caderneta de poupança registrou captação de R$ 17 bilhões em 2017, equivalente a 2,6% do saldo final que foi contabilizado em 31 de dezembro de 2016. Somando os rendimentos creditados no período, o total dos depósitos atingiu o montante de R$ 725 bilhões.
Já a rentabilidade acumulada no ano foi de 6,6%, considerando as contas com aniversário no primeiro dia do mês. Esse valor é igual a 67% da variação do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) no mesmo período. O CDI é o principal parâmetro de referência para os investimentos de renda fixa.
Uma aplicação num fundo de renda fixa atrelado ao CDI e com taxa de administração de 1,5% ao ano teria rendido em 2017 aproximadamente 8,5%. Descontando o imposto de renda de 20% sobre os rendimentos, o ganho líquido da aplicação seria de 6,8%, pouco mais do que a poupança.
Como atualmente é relativamente simples para o investidor ter acesso a fundos de investimento conservadores com taxas de administração de 1,5% ao ano ou menos, fica a dúvida sobre os motivos que justificam a atração pela poupança.
A caderneta tem a desvantagem de ter os rendimentos creditados apenas uma vez por mês. Os saques anteriores ao aniversário mensal não recebem a remuneração proporcional do período, ao contrário da maioria das demais alternativas.
Além disso, a fórmula de cálculo da rentabilidade da poupança é extremamente complexa. Envolve a média da remuneração dos certificados de depósitos bancários emitidos pelas instituições financeiras e um redutor arbitrado pelo Banco Central.
Essa falta de transparência contrasta com a legislação sobre os fundos de investimento, por exemplo. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) exige a divulgação diária das cotas refletindo o valor dos ativos da carteira, balanços auditados e regras para a publicação dos resultados passados, dentre outras obrigações.
Apesar de tudo, os dados do censo sobre créditos garantidos de junho de 2017, elaborado pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), mostra que existiam 61 milhões de clientes com saldo superior a R$ 100 na caderneta. É um número expressivo.
Não existem dados disponíveis sobre o número de investidores em fundos de investimento e de previdência, mas estimativas com base na quantidade de cotistas apontam para um número significativamente menor do que o de aplicadores na poupança.
A rentabilidade média da caderneta nos últimos dez anos foi de 68% da variação do CDI, com alguma oscilação de ano para ano. Mais relevante para o aplicador tradicional, de 2008 até 2017, com a exceção de 2015, o rendimento da poupança sempre superou a inflação do ano.
Mas o rendimento acima da inflação não explica a oscilação do fluxo de recursos direcionado para a caderneta. A correlação entre rentabilidade e captação em períodos anuais é zero.
A correlação é um indicador estatístico que varia de -1 até +1 e mede o quanto uma variável está atrelada ao desempenho de outra. Correlação igual a zero significa que as variáveis se comportam de maneira independente, quando comparadas linearmente.
Quando a correlação é igual a +1 significa que as variáveis se comportam na mesma direção de forma quase que previsível. E a correlação igual a -1 indica que as variáveis tomam caminhos opostos.
Dentre os diversos fatores capazes de justificar o comportamento da captação da caderneta, o mais promissor parece ser a variação do consumo das famílias, conforme calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Analisando os dados anuais dos últimos dez anos, verifica-se que correlação entre o consumo das famílias e o fluxo de recursos para a poupança é igual a 0,7. A interpretação para esse fato é que quando a renda das famílias aumenta, uma parte vai para o consumo e outra para a caderneta de poupança.
Os anos de 2015 e 2016 marcaram uma forte retração do consumo das famílias. Esse mesmo período coincidiu com resgates na poupança.
Com a recuperação econômica e a queda esperada do desemprego, a previsão é de recuperação do consumo das famílias nos próximos anos. A tendência, então, é de aumento da captação da caderneta.
O fato de existirem alternativas de investimento mais rentáveis e com maior liquidez do que a poupança não deve ser interpretado como sinal de que os investidores não sabem distinguir entre boas e más oportunidades.
Mas não deixa de ser intrigante o fato de que o total de contas de caderneta de poupança com saldo superior a R$ 500 mil ter aumentado 9% nos 12 meses encerrados em junho de 2017. Sinal de que a demanda por orientação financeira de qualidade e independente é alta.