O efeito da persuasão nas propostas de investimentos

A alta recente do preço dos ativos brasileiros decorre da combinação de dois fatores. Por um lado, a esperança de uma eventual mudança no comando do governo que possa melhorar o atual ambiente econômico. E, por outro, um componente externo, representado pela valorização do petróleo no mercado internacional, que indicaria recuperação da economia mundial.

A consequência é que o investidor tem sido bombardeado com uma série de conselhos para aproveitar o momento da forma mais rentável possível. A recomendação padrão é aumentar o risco da carteira, investindo em bolsa e em títulos públicos de longo prazo.

Entretanto, é preciso cautela. O argumento de que o possível impeachment da presidente Dilma será uma ocasião única na história do país e, portanto, representará uma oportunidade rara para lucrar com determinadas posições no mercado financeiro parece exagerado.

O psicólogo social Robert B. Cialdini, autor de “O Poder da Persuasão”, estudou as ferramentas que podem ser utilizadas como armas de influência. Como regra geral, a persuasão é exercida por alguém interessado em vender um produto ou serviço.

Do ponto de vista pragmático, invariavelmente passamos por situações em que a sensação final foi a de termos comprado algo que, mais tarde, constatamos que não precisávamos. O objetivo da pesquisa de Cialdini foi tentar explicar as razões que nos levam a cair em algumas armadilhas.

Na definição do especialista, a influência acontece de seis maneiras diferentes: reciprocidade, compromisso e coerência, prova social, simpatia, autoridade e escassez. As técnicas de persuasão elencadas são usadas para concretizar a transação almejada. Conhecê-las ajuda a evitar arrependimentos.

A reciprocidade ocorre quando recebemos uma amostra de um produto e nos sentimos compelidos a comprá-lo. Pode acontecer no supermercado, quando degustamos um novo lançamento.

Compromisso e coerência são usados para vincular uma ação que praticamos regularmente com um determinado produto. Por exemplo, se viajamos de férias frequentemente, parece uma consequência natural participarmos de um programa de tempo compartilhado (“time sharing”) em hotéis.

A prova social está relacionada com a importância exercida sobre nossas decisões pelas preferências do grupo do qual fazemos parte. Por exemplo, se pessoas do nosso relacionamento recomendam um restaurante, fatalmente iremos visitá-lo.

O poder da simpatia pode ser sentido quando nos relacionamos com um bom vendedor. Uma pessoa que se coloca do nosso lado quando estamos negociando uma compra, barganhando descontos com seus superiores, será encarada de maneira positiva e nossa tendência é considerá-la como nossa parceira.

A autoridade se manifesta, sutilmente, quando uma celebridade indica que devemos adquirir certo produto. Ou quando seu chefe recomenda que você faça determinado curso de especialização.

Já a escassez ocorre quando sentimos que devemos aproveitar uma oportunidade única que está diante de nós. São ofertas do tipo é hoje ou nunca.

Especificamente no mercado financeiro, o risco de partir para estratégias de tudo ou nada para aproveitar oportunidades aparentemente históricas é perder boa parte da poupança acumulada ao longo de anos, caso o investimento dê errado. Isso sem contar com a possibilidade de cair em esquemas fraudulentos.

A melhor defesa, nesses casos, é avaliar as alternativas disponíveis de maneira fundamentada e buscar a diversificação das aplicações. O gráfico abaixo ilustra como é possível lucrar no ambiente atual, mantendo o risco controlado.

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A linha azul claro mostra a evolução mensal do cupom da Nota do Tesouro Nacional da série B Principal (NTNB-P) com vencimento em maio de 2019 negociada no Tesouro Direto, o sistema de venda de títulos públicos via internet administrado pelo Tesouro Nacional.

O cupom, nesse caso, é o ganho anual esperado, desde o momento da aquisição do título até o vencimento, que irá superar a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). É o juro real da aplicação.

Já a linha laranja indica a diferença entre a rentabilidade do certificado de depósito interfinanceiro (CDI) e a variação do IPCA no período móvel de 12 meses. É o ganho real efetivamente obtido no passado com uma aplicação indexada ao CDI.

A linha horizontal azul escuro mostra o ganho médio real anualizado do CDI no período entre janeiro de 2013 e fevereiro de 2016, que ficou em 2,4% ao ano.

Os dados mostram que existe uma perspectiva de rentabilidade maior com a aplicação na NTNB-P. Entretanto, o investimento no CDI não tem desapontado.

A despeito das potenciais oportunidades decorrentes da turbulência política e econômica, o investidor não deve se descuidar. Controlar os riscos e seguir um planejamento financeiro a longo prazo aumenta a probabilidade de obtenção de ganhos consistentes.

Mercado, agora, compra o discurso do BC

No começo do ano, a aposta predominante era que o Banco Central (BC) iria aumentar a taxa Selic para conter a inflação. Entretanto, na reunião do comitê de política monetária (Copom) de janeiro, a decisão foi manter os juros básicos inalterados.

Houve muitas críticas à atuação do BC. O reflexo foi sentido no aumento da taxa dos títulos prefixados de longo prazo. A expectativa era que a inflação fosse disparar, apesar da argumentação da maioria dos diretores do BC sobre os efeitos da recessão econômica no repasse de preços.

Agora no começo de março, ocorreu mais uma mudança. As taxas de todos os títulos prefixados emitidos pelo Tesouro estão em patamar abaixo do que estavam em janeiro. O gráfico abaixo ilustra esses três momentos.

Mudança de mão

Relação entre juros e prazo de vencimento das LTNs

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Fonte: Tesouro Nacional

A linha azul do gráfico mostra a curva de juros representada pelas taxas das Letras do Tesouro Nacional (LTN) com vencimento em 1/10/2016, 1/4/2018 e 1/1/2010 no dia 7 de janeiro deste ano.

A linha verde une os mesmos vencimentos de LTNs conforme as cotações do dia 21 de janeiro, um dia após a contestada decisão do BC. As taxas dos papéis com vencimento em abril de 2018 e janeiro de 2020 aumentaram. A taxa do título com prazo de outubro de 2016 caiu.

Já a linha vermelha indica as taxas praticadas no dia 3 de março, o dia seguinte da segunda reunião do Copom do ano. Todos os vencimentos estão com taxas mais baixas.

Para o investidor, a lição do episódio é que o mercado é volúvel. Portanto, opiniões embasadas apenas nas flutuações das cotações de mercado precisam ser encaradas com cautela.

O tamanho da recessão de 2015 atestada pelo Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE) já estava no radar do BC, conforme indicava o índice IBC-BR. Para frente, vale a pena levar em conta os argumentos do Copom.

Mesmo com riscos, LTN 2018 é opção

Entre 2000 e 2015, a dívida pública mobiliária federal interna do Tesouro Nacional somada com as operações de mercado aberto do Banco Central (BC) cresceu no ritmo de 13,9% ao ano. Em dezembro de 2000 o valor era de R$ 507 bilhões e subiu para R$ 3,5 trilhões no fim de 2015.

Esse é o montante de recursos que o Tesouro e o BC tomam emprestado no mercado financeiro nacional para financiar os gastos do governo. Quando há déficit orçamentário, a diferença entre receitas e despesas acaba sendo incorporada ao estoque da dívida, assim como a parcela de juros que foi refinanciada.

O Tesouro vende títulos em leilões periódicos. Já o BC capta via negociações de curto prazo com instituições financeiras, usando papéis emitidos pelo Tesouro como lastro das operações.

Os grandes investidores podem comprar diretamente os títulos públicos participando dos leilões ou por meio da intermediação de bancos e corretoras. Para o pequeno investidor, a alternativa mais acessível é o Tesouro Direto, o sistema de negociação de títulos públicos via internet.

Indiretamente, os investidores podem aplicar nos papéis do governo comprando cotas de fundos de investimento. Segundo a Anbima, a associação que representa o setor, 67% do patrimônio das carteiras está investido em papéis do Tesouro ou operações compromissadas.

Os títulos públicos também representam parcela significativa dos ativos dos bancos. Ao comprar um Certificado de Depósito Bancário (CDB), Letra Financeira (LF) ou Letra de Crédito Imobiliário (LCI), o investidor está, indiretamente, contribuindo para financiar o governo.

O Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que funciona como uma espécie de avalista em alguns casos de liquidação ou intervenção em bancos, aplica a maior parte das reservas em títulos públicos. Também seguem essa estratégia as seguradoras que atuam nos variados ramos, tais como automóveis, saúde, vida e previdência.

A possibilidade de ampla inadimplência no sistema financeiro é um evento extremo. No filme A Grande Aposta, vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado, o principal temor dos personagens era um calote generalizado ocasionado pelo excesso de títulos hipotecários podres no balanço dos bancos.

Por ser a alternativa mais segura, é natural que investidores e instituições financeiras concentrem as aplicações em títulos emitidos pelo Tesouro. Entretanto, os governos também precisam demonstrar que mantém contas organizadas.

Um indicador para medir a solvência de um país é a relação entre dívida total e o valor nominal do Produto Interno Bruto (PIB). A ideia é que as receitas do governo, e portanto sua capacidade de pagamento da dívida, acompanhem o tamanho da economia.

No Brasil, entre 2000 e 2015, o PIB aumentou 11,4% ao ano, o que significou uma defasagem de 2,3% ao ano em relação ao crescimento da dívida no mesmo período. Como consequência, o grau de endividamento do Brasil subiu de 41% para 60% do PIB, considerando apenas a dívida mobiliária e as operações do BC.

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Se o ritmo for mantido, em 5 anos o endividamento será de 67% do PIB. É um nível elevado para países emergentes, apesar de confortável para economias desenvolvidas.

Nos últimos dois anos a situação foi mais crítica. O endividamento cresceu 18% ao ano, enquanto o PIB aumentou 7% ao ano. Nesse passo, o endividamento atingiria 80% do PIB em três anos.

Conceitualmente, o déficit do governo pode fomentar o aumento da demanda e provocar crescimento da economia. Para que esse mecanismo funcione, no entanto, a percepção deve ser de que as contas públicas continuarão equilibradas.

Caso contrário, o déficit de hoje é encarado como indicação de mais impostos no futuro. Consumidores e empresários, então, antecipam esse ciclo e reduzem os gastos e investimentos imediatamente.

A falta de credibilidade do atual governo pode ter sido a razão para que, nos últimos dois anos, a economia brasileira tenha encolhido em termos reais, descontada a inflação. Isso ocorreu apesar do déficit fiscal expressivo.

Como a política econômica sinaliza que irá continuar na mesma toada, as projeções são de um ambiente muito ruim até meados de 2018, ano de uma nova disputa eleitoral.

Em um cenário de baixa atividade econômica, a inflação poderia cair, apesar do efeito negativo provocado pela indexação dos contratos. A aposta mais rentável, nesse ambiente, seria nos papéis prefixados.

Nos leilões recentes de títulos públicos, o destaque tem sido a Letra do Tesouro Nacional (LTN) com vencimento em abril de 2018. Em janeiro, a taxa média do papel estava acima de 16% ao ano. Em fevereiro, caiu para pouco menos de 15% ao ano.

É uma alternativa para quem acredita que o pior da crise tem prazo para terminar.