Possíveis consequências da baixa do preço do petróleo, efeitos da forte desvalorização da moeda da Rússia e impactos causados pela perspectiva do aumento dos juros pelo Fed, o banco central americano. Esses são os pilares para a construção dos diferentes cenários para os investimentos em 2015.
No mercado internacional, o leque de preocupações dos analistas é grande. E nos diversos eventos voltados para a comunidade de consultores financeiros, com o objetivo de discutir a alocação mais eficiente para as carteiras dos clientes, a recomendação é a diversificação.
Tendo em vista o atual volume de incertezas, em algumas situações pode ser fundamental partir da análise global das principais tendências sócio-econômicas para definir as melhores aplicações. Por exemplo, no seminário promovido pela Morningstar, uma provedora de serviços de análises de investimentos, a apresentação começou pela discussão de temas mais amplos.
Segundo os especialistas da empresa, a queda do ritmo de crescimento da população nos países desenvolvidos, a tendência de aumento do número de pessoas trabalhando em casa, o crescimento do comércio eletrônico e a desaceleração econômica da China são assuntos para ficar no radar dos investidores.
A premissa é que o aumento da população economicamente ativa é um fator fundamental para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB). Quando a quantidade de trabalhadores cresce menos, é preciso aumentar drasticamente a produtividade para manter o mesmo ritmo de incremento do PIB.
Pelo raciocínio, empresas mais eficientes e com atuação nos setores com maiores chances de desenvolver e incorporar os ganhos de produtividade ao processo produtivo tendem a ser mais rentáveis no longo prazo.
A tendência de aumento do trabalho em casa e a expansão do comércio eletrônico, por sua vez, podem ocasionar a diminuição da necessidade do espaço físico de escritórios, lojas e agências bancárias. Isso tende a gerar impactos no mercado imobiliário.
E a desaceleração do ritmo de crescimento da China pode significar a redução da taxa de aumento da demanda por commodities, com impacto nos preços. A eventual queda nas cotações dos produtos básicos traria consequências diferentes para as economias dos países produtores e consumidores de matéria prima.
Nesse último caso e avaliando os efeitos nos mercados emergentes, a gestora de recursos T. Rowe Price estima que Coréia, México e a própria China, por serem economias com características de prestação de serviço para os países desenvolvidos, tendem a ser favorecidos por um eventual ciclo de baixa no preço das commodities. Isso porque o custo das importações dos produtos básicos ficaria mais barato.
Em contrapartida, prossegue a avaliação, Brasil, Indonésia e Rússia, poderiam enfrentar dificuldades, já que a pauta de exportação é fundamentada em matérias primas.
Um tema comum que acompanha as diversas análises dos especialistas é a constatação de que, nos últimos anos, o desempenho do mercado de ações dos Estados Unidos tem sido muito superior ao dos demais países do mundo. Para a T. Rowe Price, a justificativa para a diferença de índices tais como o S&P 500 em relação aos similares em outros países é o melhor desempenho operacional das empresas americanas.
O argumento é que as companhias nos Estados Unidos registraram aumento de lucros nos anos recentes, o que explica os preços mais elevados que os investidores passaram a avaliar os papéis.
A comparação do desempenho do S&P 500 com o índice ACWI ex-US, que acompanha cerca de 6.000 ações negociadas em 22 países desenvolvidos (com a exceção dos Estados Unidos) e em 23 mercados emergentes dá uma dimensão do domínio do mercado americano. Desde 2010 a rentabilidade acumulada do S&P 500 foi de 15,7% ao ano, em comparação ao aumento de 4,9% ao ano do ACWI ex-US.
No entanto, a Bianco Research, casa independente de análise estratégica, aponta para fato curioso. Na média, o crescimento econômico mundial foi superior ao dos Estados Unidos naquele
período. O que justificaria, na verdade, o excelente desempenho do mercado americano teria sido a política monetária expansionista do Fed.
Portanto, com a esperada elevação dos juros nos Estados Unidos, é muito provável que ocorram ajustes nos preços dos ativos. Na renda fixa, o J.P. Morgan Asset Management estima impactos diferentes, conforme o prazo médio dos títulos em carteira, o risco de crédito e o setor de atuação da companhia emissora dos papéis.
Para os especialistas da empresa de gestão de recursos, o mais importante é os investidores evitarem operações “PIPO”. O acrônimo em inglês significa “pânico na entrada (“in”) e pânico na saída (“out”)”.
O conselho é controlar as emoções e evitar comprar em momentos de alta dos mercados e vender na baixa. Manter uma estratégia de longo prazo é fundamental para evitar as armadilhas comportamentais relacionadas ao sobe e desce das cotações.
Um aspecto relevante, especialmente para o investidor brasileiro, é a observação da T. Rowe Price sobre os momentos diferentes que vivem os bancos centrais dos diversos países.
Se, ao que tudo indica, o Fed parece estar próximo de iniciar um ciclo de alta que pode derrubar o valor dos títulos com determinados prazos de vencimento, em outros países, como o Brasil, a situação pode ser oposta. É importante observar que alguns bancos centrais estão em ciclos diferentes de ajuste da política monetária, com consequências distintas para o preço dos ativos financeiros.
Manter uma perspectiva internacional pode proporcionar aos investidores melhor alocação de recursos, mesmo considerando apenas as alternativas disponíveis no mercado brasileiro.