O risco da falta de credibilidade

Ministro da Fazenda demissionário e campanha política da atual presidente bombardeando a independência do Banco Central (BC) são os novos combustíveis para alimentar a oscilação do preço dos ativos financeiros.

O ambiente vai se tornando cada vez mais propício para especular com o “kit eleições”. Os fundos de ações locais não embarcaram na estratégia. E continuam mantendo as carteiras concentradas nas ações com melhores perspectivas a longo prazo.

O risco, no entanto, é que os grandes fundos multimercados e as tesourarias dos bancos comecem a montar posições para explorar as contradições do atual governo. Uma combinação de alta da inflação com subida do dólar é o resultado mais frequente quando ocorre uma perda de confiança generalizada na condução da política econômica.

Por enquanto, dois fatores impedem a deterioração mais acentuada do cenário. O primeiro é a perspectiva de que a candidata governista perca a eleição. O segundo é a maleabilidade das convicções políticas dos governantes quando estão no poder.

Como tem sido apontado, o presidente Lula, mentor da presidente Dilma, manteve Henrique Meirelles, banqueiro, no comando de um BC razoavelmente independente durante seus oito anos de mandato. Sinal de que o atual discurso contra a autonomia do BC pode ser apenas uma bravata.

O próximo governo terá que enfrentar as consequências do reajuste do preço dos combustíveis e do custo das passagens dos transportes urbanos. Para controlar a inflação será preciso disciplina fiscal e, eventualmente, aumentar os juros.

Adotar uma política conservadora depois de massacrar o “neoliberalismo da candidata ambientalista patrocinada por banqueiros” pode causar problemas de credibilidade para o novo governo da presidente Dilma. Postergar ainda mais os ajustes parece uma alternativa fora de questão.

O Brasil precisa administrar uma dívida interna de quase R$ 3 trilhões, sendo que aproximadamente R$ 700 bilhões são rolados no curto prazo pelo BC. Além disso, existe o desafio de financiar o déficit no balanço de transações correntes internacionais.

É compreensível que a estratégia eleitoral da presidente Dilma seja manter a preferência de quase 50% dos votos entre a faixa da população com renda familiar de até dois salários mínimos.

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O excesso de simplificação do discurso político, no entanto, pode provocar efeitos colaterais. O risco de perda de credibilidade pode ficar alto se o abuso de compromissos eleitorais atingir um ponto de difícil reversão.

Por enquanto, as promessas ainda estão dentro das margens de tolerância dos administradores de recursos.

A vingança do Ibovespa

A queda de Dilma Rousseff na corrida eleitoral foi favorável às ações que fazem parte do “kit eleições”: Petrobras, bancos e companhias do setor elétrico.

Em função da estratégia de investimento mais frequentemente adotada, foram poucos os fundos de ações que surfaram a onda de valorização dos papéis no período recente. E, ao que tudo indica, a facilidade que as carteiras tinham para superar o Ibovespa parece coisa do passado.

A reportagem “Fundos descolados” de Luciana Seabra, do Valor, explica a posição dos gestores de recursos. De maneira geral, a justificativa para o relativo mau desempenho dos fundos foi a concentração das posições em papéis de empresas avaliadas como sendo aquelas com melhores perspectivas de desempenho operacional.

Entre as companhias do “kit eleições”, apenas os bancos agradam aos gestores. As demais ações são vistas como excessivamente especulativas.

A estratégia fundamentalista deu bons resultados nos últimos anos. De 2010 a 2013, apenas os piores fundos de ações perderam para o Ibovespa. Mas em 2014, o cenário mudou.

O gráfico abaixo mostra o desempenho de um grupo selecionado de fundos de ações. A amostra inclui apenas as carteiras mais renomadas e potencialmente acessíveis aos investidores, excluindo os fundos setoriais. No total são 306 investimentos.

As barras azuis mostram o intervalo de rentabilidade anual dos fundos com desempenho mediano. Foram excluídos os 20% de pior desempenho e os 20% de melhor retorno.

Os triângulos vermelhos indicam a maior rentabilidade do grupo dos piores fundos. O losango verde mostra o retorno mínimo do fundo que ficou no grupo dos melhores. E a linha vermelha é o Ibovespa.

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A comparação mostra que, para superar o Ibovespa em 2014, foi preciso investir em um fundo que ficasse entre os 20% melhores. Muito diferente dos anos anteriores, quando bastava evitar um que estivesse entre os 20% piores.

A partir de agora passa a ser ainda mais importante acompanhar com detalhes a estratégia de investimento dos gestores. E controlar o risco das aplicações.

Assessoria financeira sofisticada é para poucos

O boletim Anbima sobre o mercado de “private banking” fornece algumas pistas para explicar a dificuldade que enfrentam muitos clientes de alta renda para conseguir bons conselhos de investimento.

O levantamento mostra que são 858 “bankers” (especialistas) e 1.168 assistentes e outros profissionais menos qualificados para atender o total de 55 mil contas. Considerando que a divisão do trabalho é feita de forma balanceada, a conclusão é que 60% dos clientes tem pouco contato com os melhores quadros das instituições financeiras.

Assumindo que cada profissional atende cerca de 27 contas, os 858 “bankers” assessoram regularmente o total de 23 mil clientes. Os demais 32 mil aplicadores mantém relacionamento com os assistentes.

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O detalhamento dos números da Anbima mostra uma situação ainda mais desconfortável para os investidores que buscam soluções mais sofisticadas para as aplicações. Somente metade dos “bankers” possui a certificação CFP, uma espécie de selo de qualidade para os especialistas da área.

Portanto, o fato de ser cliente do “private banking” não é garantia de que o atendimento oferecido ficará acima da média. Pragmaticamente, a solução é confrontar, sempre que possível, as opiniões e recomendações recebidas com outros profissionais e especialistas.

Um resumo das principais tendências para as aplicações financeiras dos clientes de alta renda, com comentários de profissionais de ponta, pode ser encontrado na reportagem As letras da fortuna, de Luciana Seabra, do Valor.

Possíveis rumos para a taxa Selic

O resultado da reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC) desta semana, o último encontro antes das eleições, não deverá causar surpresas. A previsão, praticamente unânime, é de manutenção da taxa Selic em 11% ao ano.

Sem pistas sobre as decisões do próximo governo a respeito da condução da política fiscal ou do ritmo de reajustes dos preços administrados, fica virtualmente impossível para o BC simular o comportamento da inflação.

Assim, qualquer decisão envolvendo alterações nos juros agora teria um forte componente especulativo. Por essa razão, os prognósticos apontam para estabilidade da Selic.

No entanto, mesmo considerando o atual cenário de incertezas, a aposta relevante para os investidores é tentar antecipar o comportamento dos juros nos próximos meses, após o resultado das eleições. Hoje, as avaliações são contraditórias.

As previsões variam conforme o peso que é dado a dois eventos possíveis, um internacional e outro local. Na frente externa, as análises partem das consequências da desvalorização do real devido ao aumento dos juros nos EUA. Na ênfase local, a questão está relacionada aos efeitos da continuidade da queda da atividade econômica no Brasil.

Se o Fed, banco central americano, der início à elevação dos juros nos próximos seis meses, é possível que haja uma interrupção do ingresso de capitais para o Brasil. Apesar do patamar recorde das reservas internacionais em moedas estrangeiras detidas pelo país, o equilíbrio do balanço de pagamentos é delicado.

O déficit das contas brasileiras com transações envolvendo os demais países do mundo nunca esteve tão elevado. A necessidade estrutural de divisas é da ordem de US$ 80 bilhões por ano.

Esse desequilíbrio tem sido confortavelmente financiado com a entrada de capitais no país. Tanto investimentos estrangeiros diretos em empresas quanto aplicações em carteiras formadas por títulos e valores mobiliários emitidos pelo governo e empresas brasileiras têm garantido o fechamento das contas externas.

Uma das principais razões para a atratividade dos investimentos no Brasil é a política monetária praticada nos Estados Unidos desde a crise financeira de 2009.

Para combater o fraco ritmo de criação de empregos na economia americana, o Fed vem mantendo os juros em patamar muito baixo. Além disso, a instituição possui um programa de recompra de títulos, o que injeta grande liquidez na economia mundial.

Com mais recursos líquidos disponíveis no mercado americano e remunerados com taxas extremamente baixas, a tendência é o aumento da procura por ativos com maior rendimento em outros lugares do globo. Os mercados emergentes, como o Brasil, têm atraído esses capitais.

Caso haja uma normalização da atuação do Fed, com a interrupção da recompra de títulos e o aumento dos juros, o temor é que o fluxo de recursos para os demais países do mundo possa ser interrompido. No Brasil, o efeito seria a elevação súbita do déficit externo, o que provocaria alta acentuada da cotação do dólar.

Nesse ambiente, o BC seria obrigado a elevar os juros para combater a inflação decorrente do repasse da desvalorização cambial para os preços internos. Além disso, a alta de juros teria por objetivo reduzir a demanda local por produtos estrangeiros.

O problema de apostar nessa visão é que a volta à normalidade da política monetária americana é uma pedra cantada há tempos, mas ainda sem perspectiva de se concretizar. Apesar do consenso de que os ajustes virão, o ritmo de criação de postos de trabalho nos Estados Unidos ainda continua lento e adia sistematicamente a decisão do Fed.

A visão alternativa é confiar na queda dos juros no Brasil devido a fatores locais. A economia brasileira caminha para a estagnação devido à percepção de que faltam oportunidades de investimentos rentáveis para o setor privado.

Além disso, o aumento do endividamento das famílias parece ter eliminado a possibilidade de crescimento via estímulo ao consumo. Neste ambiente, restaria pouco ao governo além de promover um equilíbrio das contas públicas para neutralizar as desconfianças e reduzir a inflação.

No atual debate político, as propostas para equilibrar os rumos da economia são imediatamente taxadas de neoliberais. Por essa razão, a explicação dos mecanismos que poderiam levar o Brasil a um patamar de crescimento mais sustentável com o ajuste das contas públicas não é suficientemente abordada.

É com essa incerteza que o investidor terá de conviver até o resultado das eleições.

Atualmente, os juros da Letra do Tesouro Nacional (LTN) com vencimento em janeiro de 2017 está em patamar acima da Selic. O papel tem taxa prefixada e está disponível para negociação no Tesouro Direto, sistema de venda de títulos públicos pela internet.

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Se o cenário difícil no caso de mudança na política do Fed se confirmar, o investimento na LTN terá resultado ruim. Mas se os ajustes na economia brasileira acontecerem, o papel dará bons lucros. O ganho atual das aplicações atreladas ao CDI, referência para as operações de renda fixa, está confortavelmente acima da inflação. Mas a possibilidade de ganhar mais estimula a diversificação.

A dificuldade para estabelecer cenários

A coluna da jornalista Claudia Safatle, do Valor, descreve a estratégia eleitoral da presidente Dilma. Em resumo, o objetivo da campanha é focar nas generalidades.

A ideia é carimbar de neoliberais as propostas de Aécio e taxar de preservacionistas as políticas de Marina. É uma postura que pode até ser eficiente para ganhar as eleições, mas deixa os investidores no escuro.

A economia brasileira dá sinais de que perdeu o dinamismo. O crescimento está zerado e a inflação é uma ameaça recorrente, devido à necessidade de reajuste dos preços de bens e serviços administrados pelo governo.

A consistência dos estímulos fiscais são invariavelmente questionados em função da falta de transparência das contas públicas. A contabilidade criativa impede a análise mais precisa dos efeitos das desonerações de tributos e empréstimos subsidiados.

O aumento do consumo das famílias devido à elevação da renda e do maior acesso ao crédito parece ter atingido um limite. E as medidas que poderiam aumentar a produtividade, visando manter a trajetória de crescimento dos salários, ficam distantes de qualquer debate.

O ponto positivo da atual política econômica é que a redução do crescimento pode implicar queda da inflação e, consequentemente, dos juros. Nesse ambiente, os títulos prefixados podem proporcionar bons ganhos.

Se o governo sinalizasse que decidiu enfrentar as consequências do reajuste dos preços administrados e assumisse o compromisso divulgar as contas públicas sem grandes malabarismos contábeis, o ganho de credibilidade seria alto. Haveria um otimismo que poderia impactar positivamente o preço dos ativos financeiros.

No mundo ideal, seria mais democrático que os assuntos espinhosos fossem debatidos abertamente. No mundo real, dominado por teorias conspiratórias, a desconfiança sobre o que o governo realmente poderá fazer acaba proporcionando todo tipo de especulação no mercado financeiro.

Contraditoriamente, a oscilação frenética do preço dos ativos financeiros pode ser favorável ao governo, do ponto de vista eleitoral. Entre as generalidades, uma imagem forte é atrelar a queda do preços das ações ao boicote dos ricos contra o governo Dilma.

Segundo o Datafolha, 44% dos eleitores possuem renda familiar de até dois salários mínimos. Nesse grupo, o apoio à presidente Dilma é de 43%.

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Nas próximas pesquisas eleitorais, será fundamental acompanhar as intenções de voto dos eleitores com renda familiar mais baixa. Se a presidente Dilma continuar em vantagem, a estratégia de debater generalidades será intensificada e traçar cenários financeiros ficará cada vez mais difícil. As decisões de investimento no momento não são simples.

Aposta de risco na vitória da oposição

Apostar na vitória da oposição para lucrar com a bolsa é uma estratégia arriscada. Desde 2006, existe uma marcante divisão da intenção de voto dos brasileiros de acordo com a faixa de renda do eleitor.

Segundo as pesquisas de opinião realizadas pelo Ibope, tanto em 2006 quanto em 2014 o candidato de oposição vence nos segmentos de renda mais alta, mas perde no grupo de menor poder aquisitivo. A popularidade do concorrente da terceira via não muda o quadro.

O gráfico abaixo compara as intenções de voto de quatro postulantes, em períodos diferentes, nas eleições de 2006 e 2014. Existe uma relação entre a renda familiar do eleitor (no eixo horizontal) e a popularidade do candidato (no eixo vertical).

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Tanto Alckmin em 2006 tanto Aécio em 2014 tinham mais votos do que Lula em 2006 e Dilma em 2014 entre os eleitores mais ricos. Na faixa de renda acima de cinco salários mínimos (SM), os oposicionistas possuíam 38%-41% de intenção de votos, contra 23%-29% dos governistas.

Quanto menor a renda do eleitor, maior a popularidade do candidato governista. No extremo oposto, entre os que ganham menos de um salário mínimo, Lula e Dilma marcavam 50%-53% das preferências, contra apenas 13%-17% de Alckmin e Aécio.

O levantamento de 2006 foi feito em setembro, na véspera do primeiro turno da eleição. Os números de 2014 são de agosto, antes do início da propaganda eleitoral gratuita.

A última pesquisa do Ibope aponta que 12% dos entrevistados possuem renda familiar acima de cinco salários mínimos, 35% entre dois até cinco, 33% entre um até dois e 14% ganham até um salário mínimo. Cerca de 6% não responderam.

Parece mais prudente apostar na alta da bolsa em razão dos fundamentos das empresas do que pela possibilidade de vitória da oposição.

Preço dos imóveis e bolhas financeiras

Mais linhas de crédito, queda dos juros e aumento da renda da população foram os fatores que impulsionaram a alta do preço dos imóveis no Brasil nos anos recentes.

O Boletim Regional do Banco Central (BC) de abril de 2014, ao analisar o mercado de São Paulo, comparou os índices gerais de valorização imobiliária com os indicadores que refletem o custo da construção. O resultado impressiona.

Em todos os anos entre 2006 e 2013, o IVG-R, parâmetro calculado pelo BC para medir o comportamento do valor de mercado dos imóveis, teve alta superior ao Índice Nacional de Custo da Construção (INCC). No total, a diferença foi grande.

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O aumento acumulado do IVG-R no período foi de 3,6 vezes. Já a variação do INCC não chegou a dobrar, limitando a valorização em 70% no intervalo.

Uma das conclusões implícitas nos números é que, na média, a prática de comprar um imóvel na planta, arcar com as despesas de construção e vender após algum tempo proporcionou bons lucros. A valorização do ativo compensou os gastos durante o período de obras.

A relativa facilidade com que essa estratégia de investimento pode ser posta em prática provoca, recorrentemente, a discussão sobre a possível existência de uma bolha no mercado imobiliário. E nos momentos em que os preços deixam de subir no ritmo que vinham aumentando, como agora, o desconforto se acentua.

O saldo da carteira de financiamento imobiliário das instituições financeiras brasileiras cresceu cerca de 50% ao ano desde 2007. É uma sinalização que muitos podem ter usado o bom momento do mercado para tentar alavancar os ganhos, contraindo empréstimos. Em vez de usar capital próprio para comprar um imóvel em construção, por exemplo, a alternativa seria completar o investimento por meio da contratação de um financiamento. Com mais recursos financeiros disponíveis, seria possível comprar dois ou três imóveis adicionais, elevando o potencial de lucro.

Além disso, os juros caíram acentuadamente no período. Significa que o custo financeiro diminuiu e, entre outras consequências, a opção de esperar pelo melhor momento para fazer uma venda ficou mais interessante. Um mercado nessas condições poderia sinalizar para a existência de uma bolha. Tudo funcionaria bem se os preços sempre continuassem subindo. Se recuassem, a estratégia inicialmente planejada teria que ser obrigatoriamente revista.

As bolhas financeiras, invariavelmente, estouram e provocam diversos efeitos nocivos. O BC está atento ao risco, especificamente no setor imobiliário. No Relatório de Estabilidade Financeira de março de 2014, um estudo buscou prever os efeitos de uma eventual queda do preço dos imóveis para o sistema financeiro e concluiu que os riscos são bem pequenos.

A premissa, justificada com diversas simulações, é que a relação entre o montante dos financiamentos habitacionais e o valor de mercado dos imóveis (LTV, na sigla em inglês) é baixa. Dessa forma, o risco de uma crise mais séria é muito reduzido. No caso de aumento generalizado da inadimplência, avalia o BC, as garantias bancárias seriam suficientes para cobrir prejuízos, mesmo com uma queda mais acentuada dos preços. Os bancos estariam seguros.

Outra razão para descartar a hipótese de bolha é o aumento da renda média da população. Os dados do BC apontam para o aumento sistemático da massa salarial desde 2006, sempre acima de 9% ao ano.

Ao avaliar os números, a interpretação é que a alta de preço dos imóveis refletiu uma mudança do padrão de desenvolvimento da economia brasileira. Com mais pessoas recebendo rendimentos maiores e o crédito mais fácil, o aumento dos preços teria sido uma consequência natural.

O processo de urbanização da população também justifica o crescimento da demanda por imóveis. O físico Geoffrey West, por exemplo, desenvolveu um modelo estatístico para prever o comportamento das cidades. Para o pesquisador, as grandes aglomerações urbanas acabam desenvolvendo uma dinâmica própria e, de maneira intrínseca, acabam atraindo populações cada vez maiores. O objetivo dos modelos é tentar descobrir o que rege essa dinâmica.

Talvez seja um uma explicação mais elaborada para o famoso mote dos corretores imobiliários que dizem que a localização é o aspecto mais importante para escolher um imóvel. De fato, algumas regiões concentram as transações mais valiosas.

Todas as análises sobre o mercado imobiliário, seja do ponto de vista financeiro quanto urbanístico, não apontam possíveis direções para o preço dos imóveis. Ainda que, como avalia o BC, estejamos longe de uma bolha, isso não significa que o ritmo recente do aumento dos preços irá continuar.

Houve, de fato, mudanças importantes no padrão da economia brasileira, com mais pessoas, agora com rendimentos maiores, podendo comprar um imóvel. Em contrapartida, a taxa de valorização dos preços acentuadamente maior do que a variação do custo da construção não parece ser sustentável – mesmo levando em conta o poder de atração das grandes cidades. O mais provável é que um novo ponto de equilíbrio seja alcançado.

Postalis: mais um esclarecimento

Nos último 13 meses, o Postalis, fundo de pensão dos funcionários dos Correios, publicou nove notas de esclarecimento a respeito de reportagens que trataram da carteira de investimentos da instituição.

As explicações abordaram temas como investimentos nos bancos BVA e Cruzeiro do Sul, participação no projeto de formação de uma nova bolsa, aplicações nas empresas do Grupo X, relacionamento com as empresas de gestão de recursos DTW e Atlântica e, mais recentemente, esclarecimentos sobre perdas com títulos da Argentina.

Seria um assunto restrito aos administradores do fundo e aos participantes do plano de previdência caso o benefício de aposentadoria dos funcionários não fosse garantido pelos Correios, uma empresa estatal. Na hipótese de os ativos do Postalis não serem suficientes para pagar as aposentadorias, a conta irá para o Tesouro Nacional.

Hoje, o fundo tem um déficit de cerca de R$ 1 bilhão. É a diferença entre o valor presente das obrigações futuras com o pagamento dos benefícios dos empregados e o valor de mercado das aplicações financeiras.

Segundo os esclarecimentos do Postalis, esse déficit não tem relação com os riscos dos investimentos discutidos nas reportagens.

Com a queda das taxas de juros reais (acima da inflação) no mercado local, o valor presente dos compromissos assumidos pelos fundos de pensão brasileiros subiu. A outra face da moeda é que a rentabilidade das aplicações financeiras caiu, em relação à inflação. Foi essa a razão do déficit.

É preciso, portanto, buscar uma solução para operar nesse novo ambiente econômico.

Talvez a diretoria do Postalis pudesse se inspirar nos ensinamentos de Warren Buffett, considerado o investidor mais bem sucedido do mundo.

Segundo o Buffett, a regra número um para ter sucesso na gestão de recursos financeiros é não perder dinheiro. E a regra número dois é sempre se lembrar da regra número um.

Agindo dessa forma, os administradores da Postalis poderiam, no mínimo, economizar nas notas de esclarecimento. E os contribuintes brasileiros poderiam dormir um pouco mais tranquilos, sabendo que os funcionários dos Correios estariam com as aposentadorias garantidas.

Juros: cortar, subir, manter

No espaço de pouco mais de uma semana, o Valor publicou, com destaque, três matérias explicando as razões para o Banco Central (BC) adotar diferentes estratégias para a taxa Selic.

Inicialmente, Cristiano Romero analisou o motivos que justificariam o corte dos juros. Depois, Claudia Safatle elencou os fatores que fundamentariam a alta. Finalmente, Alex Ribeiro, relatando entrevista com o diretor de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central Luiz Awazu, mostrou os argumentos para manter a Selic estável. Há tempo não se viam opiniões tão contraditórias.

A atual diretoria do BC possui um estilo que, no jargão dos administradores de recursos, poderia ser identificada como “gestão ativa”. O padrão é alterar frequentemente a taxa básica a cada reunião do Comitê de Política Monetária.

Também tem a reputação de não esperar a formação de consensos para tomar as decisões. A consequência é a surpresa com algumas deliberações, o que gera acalorados debates, além de lucros e prejuízos nas posições dos investidores mais agressivos.

O BC tem usado a flexibilidade do regime de metas de inflação a seu favor. Na gestão atual, nunca o IPCA acumulado no período móvel de 12 meses consecutivos foi igual ou menor do que 4,5%, o centro da meta.

Em contrapartida, nos anos de 2011, 2012 e 2013 a inflação fechou abaixo do teto anual estabelecido pelo governo, de 6,5%. E, ao que tudo indica, isso voltará a ocorrer em 2014.

Para o investidor em papéis de renda fixa, o cenário tem sido desafiador. Os títulos de longo prazo têm tido forte oscilação de rendimentos.

Como a aplicação em ativos prefixados envolve riscos, o ideal é que as taxas tenham alguma margem em relação à Selic. É o que tem acontecido desde que o BC começou a elevar os juros, conforme mostra o gráfico abaixo.

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A perspectiva de que o BC poderia reduzir a Selic mais cedo do que era originalmente estimado provocou efeitos. Na última semana houve reviravolta na tendência dos juros prefixados.

Depois de atingir a cotação mínima de 11,16% ao ano no dia 23 de julho, a taxa da Letra do Tesouro Nacional (LTN) com vencimento em janeiro de 2017, por exemplo, voltou a subir. Agora, com a possibilidade de a Selic ficar estável, a tendência é de mais oscilações no curto prazo.

Esse clima de incertezas pode proporcionar boas oportunidades, apesar dos riscos. O ideal é que o investidor permaneça atento às constantes mudanças de cenário e defina uma estratégia para guiar suas ações.

Um mau conselho de investimento

O jornalista Fernando Rodrigues, da Folha de São Paulo, se indignou com a análise do Banco Santander, distribuída para os clientes de alta renda da instituição, relacionando a alta da presidente Dilma nas pesquisas de intenção de voto com a queda na cotação das ações negociadas em bolsa.

Mas, em vez de simplesmente buscar outras fontes para conseguir recomendações mais embasadas para seus investimentos, sugeriu, na sua coluna no jornal, que o governo impusesse normas mais rígidas ao mercado financeiro.

Talvez o sentimento de decepção do jornalista justifique o clamor pela intervenção estatal. É sempre desapontador constatar que o aconselhamento oferecido pelas instituições financeiras que temos conta pode não estar alinhado com os interesses dos clientes.

No entanto, neste caso, mais normas não resolvem o problema. O mais eficaz é que o aplicador avalie criticamente as propostas dos especialistas. E, sempre que possível, busque outras opiniões.

O histórico de recomendações de investimento ruins em períodos eleitorais é grande. O recorde negativo, talvez, seja a indicação para investir no exterior nas vésperas das eleições de 2002, que elegeu o presidente Lula.

Um movimento especulativo levou o dólar ultrapassar a barreira de R$ 3,50. Depois disso, a cotação nunca mais se recuperou, conforme indica o gráfico.

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Assim como o sobe e desce das cotações, a opinião das instituições financeiras muda. Recentemente, o Brasil deixou o grupo dos países chamados de “os cinco frágeis” para entrar no time do “quarteto fantástico”.

Isso faz parte do jogo e nenhum investidor deve ficar surpreso com esse comportamento. O importante é ter uma estratégia de investimento para aproveitar as oscilações de curto prazo. Muitas vezes podem surgir oportunidades rentáveis.

Agora, justiça seja feita. Análises e recomendações ruins não são exclusividade das instituições financeiras. Analistas e empresas independentes também podem exagerar na emoção e cometer erros.