Quase dois terços dos fundos de ações registraram rentabilidade acima do Ibovespa no período de janeiro a julho deste ano, conforme indicado pelos mais variados rankings.
A análise de uma amostra mais específica, reunindo 261 carteiras com um mínimo de 100 cotistas, patrimônio líquido acima de R$ 50 milhões e potencialmente acessíveis aos investidores, indica que a média de ganho dos fundos foi 2,7 pontos percentuais superior à variação do principal indicador da bolsa brasileira.
Apesar do excepcional desempenho obtido pelo conjunto de gestores, uma boa parte dos cotistas desses fundos não conseguiu os mesmos retornos listados nas tabelas de rentabilidade. De forma surpreendente, o ganho percebido por diversos investidores foi menor do que o apresentado pelas carteiras.
Do ponto de vista prático, quando analisaram os extratos dos investimentos, muitos perceberam que o desempenho das aplicações foi inferior ao que foi divulgado pelo fundo. A falta de entendimento sobre essa defasagem pode gerar insegurança a respeito da conveniência de manter a aplicação.
A explicação para a diferença de rendimentos está relacionada com o momento em que o investidor tomou a decisão de aplicar em determinada carteira. Como a rentabilidade passada é um forte chamariz para atrair mais investidores, um volume grande de aplicações tende a ocorrer após um período de maior rentabilidade do fundo.
Essa é a regra geral. Apesar de todas as ressalvas, o desempenho anterior estimula o aumento da captação de recursos para a carteira.
Imagine o caso prático de um fundo que teve excelente desempenho no primeiro trimestre do ano. Com o destaque conseguido em função da divulgação dos números de rentabilidade, o esperado é que ele atraia mais recursos nos períodos seguintes.
Entretanto, como o desempenho dos gestores tende a ser cíclico, é provável que a rentabilidade no restante do ano acabe sendo inferior àquela que foi obtida no primeiro trimestre, em termos relativos. Nesse caso, para o desconforto dos novos investidores, o pior desempenho acontece justamente durante os meses em que o fundo captou mais recursos.
Boa parte dos investidores fica, então, com a sensação de que tomou a decisão de aplicar no momento errado. Sem parâmetros e na falta de uma análise consistente, há o risco de escolhas erradas.
Existe um padrão para estimar o retorno do investidor em fundos de investimento. Segundo a metodologia usada pela Morningstar, o objetivo é calcular uma taxa de retorno que igualaria o patrimônio final do fundo conforme divulgado nas demonstrações contábeis, a partir do patrimônio inicial e considerando todos os fluxos de captação e resgates.
Feitas as contas para os fundos de ações integrantes da amostra anteriormente definida, constata-se que a diferença média entre o retorno do investidor e a rentabilidade dos fundos no período de janeiro a julho deste ano foi negativa. De fato, os fundos mais rentáveis atraíram mais recursos, mas não conseguiram manter o bom desempenho após o aumento do patrimônio.
A média da diferença entre o retorno do investidor e o ganho dos fundos foi de -3,9 pontos percentuais. A mediana, uma estatística que busca amenizar os efeitos extremos, foi de -2,1 pontos percentuais.
O fato de o retorno do investidor ser menor do que o desempenho do fundo no período completo não é, necessariamente, negativo. Desde que os ganhos totais do investidor superem os principais índices de referência do mercado, esse custo pode ser suportável.
Mas não foi o que aconteceu no período analisado. A diferença entre a média do retorno do investidor e a rentabilidade do Ibovespa foi de -1,2 pontos percentuais.
De forma intrigante, apesar da média do retorno dos fundos ter superado com folga o rendimento do Ibovespa, o retorno médio do investidor em fundos foi inferior ao indicador.
A maneira consistente de encarar a diferença entre o retorno do investidor e o ganho dos fundos é reavaliar periodicamente os objetivos do investimento. Além de escolher um bom fundo de um gestor confiável, é fundamental manter bem definido o motivo daquela aplicação financeira.
É natural que os fundos mais rentáveis acabem se destacando e chamando a atenção. Mas em vez de admirar a capacidade do gestor, mais importante é identificar como aquele fundo pode ser útil para compor a estratégia global da carteira.