Jogando a rede no mercado financeiro

No mundo ideal, você contaria com um assessor financeiro capaz de avaliar seus investimentos de forma afinada com as suas necessidades. Como consequência, as recomendações do especialista levariam em conta apenas os objetivos que foram estabelecidos no seu planejamento pessoal.

Na prática, entretanto, essa situação é um luxo ao alcance de poucos. Na maioria das vezes, o investidor é obrigado a negociar solitariamente e enfrentar circunstâncias em que ocorrem conflitos de interesse.

Nas operações financeiras, de forma geral, quanto melhor para o cliente, pior para a instituição. Isso porque o padrão de remuneração é a diferença entre o custo do dinheiro e a taxa de repasse das operações. É o chamado “spread” bancário.

Por exemplo, considere a remuneração de um certificado de depósito bancário (CDB) que paga 97% da variação diária dos certificados de depósitos interfinanceiros (CDI). Se o banco conseguir repassar os recursos captados à taxa de 100% do CDI, terá lucro.

Se a remuneração do CDB for aumentada para 101% do CDI, o banco será obrigado a encontrar tomadores dispostos a pagar mais do que isso para ter ganho. Caso contrário, não haverá interesse em emitir o título.

Nos fundos de investimento, a remuneração do gestor está associada à taxa de administração da carteira e, nas corretoras, à taxa de corretagem para intermediação dos negócios. Também nesses casos, quanto maior o custo, pior para o investidor.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e demais órgãos reguladores buscam estabelecer padrões mínimos de conduta para evitar que o cliente seja prejudicado. A premissa é que na relação entre especialistas e investidores os últimos são a parte mais fraca em termos de capacidade de negociação.

As situações de conflito decorrentes das estruturas de remuneração dos produtos financeiros não são novidades. Além da proteção dos reguladores, o investidor tem a possibilidade de comparar alternativas para minimizar possíveis prejuízos.

Quanto mais amplo e transparente for o mercado, mais fácil será identificar boas oportunidades e evitar as armadilhas. No entanto, nem sempre as coisas funcionam conforme o esperado.

Usando diversos exemplos pitorescos de situações do dia a dia, dois vencedores do Prêmio Nobel de economia lançaram, recentemente, um livro sobre a economia da manipulação e do logro. A ideia desenvolvida pelos economistas, George Akerlof e Robert Shiller em “Phishing for Phools” (sem tradução para o português) é que o mercado nem sempre converge para uma situação ideal de equilíbrio.

Os autores usaram uma analogia com os “emails” que recebemos solicitando clicar em determinado “link” para, por exemplo, atualizar os dados cadastrais da conta bancária. O objetivo dessas mensagens é roubar dados pessoais.

Em inglês, o nome dessa atividade é “phishing”, termo que busca passar a ideia de uma pescaria mal-intencionada. Akerlof e Shiller desenvolveram o conceito de “phishing equilibrium”.

Trata-se de uma situação de mercado perfeitamente legal e dentro das regras econômicas, mas com potencial de causar prejuízos aos desavisados.

Considere a oferta de cartões de crédito sem custos de manutenção. Muitos verão a alternativa como uma oportunidade para reduzir os gastos com tarifas bancárias. Outros, entusiasmados com a possibilidade de conseguir mais crédito, podem ser tentados a se endividar no crédito rotativo e acabar pagando juros elevados.

O equilíbrio financeiro da empresa de cartões de crédito ocorre porque os ganhos decorrentes dos juros cobrados no financiamento dos gastos excessivos de alguns que usarão o crédito rotativo irão compensar os custos operacionais dos cartões daqueles que não se endividam.

Nesse equilíbrio, os mais gastadores subsidiam os mais controlados. A empresa de cartões consegue “pescar” alguns mais desavisados para financiar a expansão da participação no mercado.

No mundo de investimentos, se você tem R$ 5 mil para aplicar, nos bancos de varejo provavelmente terá acesso apenas a fundos com taxa de administração de 2,5% ao ano. Com R$ 1 milhão, conseguirá taxas muito mais baixas.

Ou, se desejar investir em títulos públicos com tarifas mais baixas, provavelmente terá que abrir mão da estrutura do Tesouro Direto e adquirir os papéis diretamente da carteira da corretora. Talvez a conta chegue quando você precisar vender os títulos, antes do vencimento.

O conceito de equilíbrio desenvolvido pelos autores não chega a ser revolucionário. No entanto, a sistematização das situações em que essa “pescaria” pode ocorrer ajuda na preparação para os momentos de decisão.

Da mesma forma que, hoje, conseguimos detectar as mensagens eletrônicas potencialmente perigosas, os conceitos desenvolvidos no livro de Akerlof e Shiller podem evitar perdas no mercado financeiro.

Afinal, no longo prazo, um ganho adicional de 2% ao ano pode fazer uma grande diferença no patrimônio acumulado para a aposentadoria. É essencial saber onde estão os conflitos, para não fazer papel de bobo.

Phishing

Nova classificação Anbima confunde

A nova organização dos fundos de investimento imposta pela Associação Nacional das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) é ruim.

Um dos principais problemas é a possibilidade de que carteiras com política de investimento semelhante sejam classificadas em categorias distintas. E que fundos incluídos na mesma classe possam ter características substancialmente diferentes, como a tributação.

Segundo a cartilha da nova classificação, o objetivo foi agrupar os fundos em três níveis. O primeiro considera a classe dos ativos: renda fixa, ações ou multimercados, por exemplo. O segundo, os riscos que o investidor estará correndo ao aplicar naquela carteira, tais como o prazo de vencimento dos títulos ou o vínculo com determinados índices de mercado e o terceiro, as estratégias de investimento usadas na gestão do fundo.

A ideia foi boa, mas houve falhas na implementação. Na renda fixa os problemas foram maiores. Um fundo DI pode ser corretamente classificado tanto como “indexado” quanto “duração baixa”, o que prejudica as comparações.

Uma confusão desnecessária é não identificar os fundos de curto prazo, que não contam com o benefício fiscal da redução do imposto de renda sobre os ganhos. Eles ficam na mesma categoria das carteiras que podem ter a alíquota do imposto reduzida a 15%, de acordo com o prazo de permanência.

Outro destaque negativo é a quantidade de classes na renda fixa, que passaram a ter nomes obscuros e com pouco significado para o investidor comum. Se já é difícil entender como se comporta um fundo DI, imaginar o que pode acontecer com uma carteira classificada como “duração baixa grau de investimento” ou a diferença para um fundo “duração média soberano” fica além da capacidade de quase a totalidade dos aplicadores.

A base para a segmentação dos fundos de renda fixa foi o prazo médio de recebimento do fluxo de caixa dos títulos que fazem parte da carteira, ponderados pelo valor presente de cada ativo. É um cálculo que apenas o gestor pode fazer e virtualmente impossível de ser verificado por terceiros. O nome desse indicador é “duração”.

Conceitualmente, quanto maior o prazo médio, mais intensa é a oscilação diária das cotas do fundo. Para a Anbima, as carteiras podem ter duração baixa, média, alta e livre.

As referências para a definição da duração média e alta são aquelas do IRF-M e do IMA-G, dois índices calculados pela associação. O problema é que o IRF-M mede o desempenho de títulos prefixados e o IMA-G inclui ainda papéis indexados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e vinculados à taxa Selic.

Da maneira como foi estruturada, a classificação permite que dois fundos com a mesma duração tenham risco substancialmente diferentes. Basta que um deles concentre as aplicações em títulos prefixados e outro em papéis indexados ao IPCA.

Se o objetivo era criar um desafio para estimular a educação financeira, a estratégia tende ao fracasso. O esforço do investidor que buscar compreender o significado da “duração” do fundo pode, na prática, não ser recompensado. Ao contrário, é possível que desestimule a curiosidade, por gerar mais dúvidas.

Para a Anbima os fundos de renda fixa podem ser, ainda, do tipo soberano, grau de investimento e livre, de acordo com os papéis que fazem parte da carteira. O resultado é que a variedade de combinações amedronta. São 12 possibilidades que levam em conta em conta as quatro alternativas de duração com as três opções para o risco de crédito. Isso sem contar os fundos “simples”, “indexados”, “investimento no exterior” e “dívida externa”.

No fim, a complexidade pode ser medida em números. De cinco tipos na classificação anterior (curto prazo, DI, renda fixa, renda fixa índice e crédito), agora o investidor tem que escolher entre 16 classes.

O mercado brasileiro não é tão amplo a ponto de tornar todas essas categorias relevantes. Uma solução é analisar o desempenho dos fundos agrupando as categorias, para não se perder no emaranhado de alternativas.

Segundo dados da Anbima, 46% do patrimônio dos fundos de renda fixa está alocado nas categorias duração baixa soberano ou grau de investimento. É possível generalizar e afirmar que são categorias idênticas.

Dada as condições atuais do mercado brasileiro, há pouca diferença no conjunto formado por duração média, alta e livre, soberano ou grau de investimento. A soma dessas categorias atinge 42% do montante. Também é seguro combinar essas carteiras.

Renda fixa indexado representa 6% do total e a categoria crédito livre de duração baixa, média, alta ou livre soma 5%. Simples, investimento no exterior e dívida externa reúnem 1% do patrimônio.

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Nas classes multimercado e ações não houve mudanças significativas, já que a maior parte dos fundos continua classificada como “livre”. Reúnem pouco mais da metade do patrimônio dos multimercado e 57% do total de ativos dos fundos de ações (desconsiderando os fechados).

A classificação “livre” dá ao gestor ampla liberdade para adotar as estratégias que julgar mais conveniente. O que, de certa forma, é o esperado pelo investidor que escolhe alternativas mais agressivas.

Nesse contexto, as classificações valor e crescimento, dividendos, sustentabilidade e governança, “small caps”, setoriais, macro, “trading”, “long and short” e juros e moeda acrescentam um certo tempero à estratégia de investimento adotada pelo gestor. Podem não ser cristalinas, mas não prejudicam o aplicador que busca maior risco.

Na renda fixa a situação é diferente. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central (BC) podem estar diante de um problema com potencial de se tornar grave.

Os fundos classificados como duração baixa, média, alta e livre, soberano ou grau de investimento reúnem R$ 1,2 trilhão de patrimônio. Basicamente a carteira desses fundos é composta por títulos públicos federais, operações compromissadas e papéis de bancos e empresas de primeira linha.

Dado o atual ambiente de negócios no Brasil, as dúvidas provocadas nos investidores com a reclassificação das carteiras pode detonar uma onda de resgate. É prudente reformular a forma de divulgação dos fundos pela Anbima. Não vale a pena correr riscos com assuntos relacionados à estabilidade financeira.

Sair do dólar para apostar no prefixado

Para muitos investidores, a dúvida do momento é abandonar as posições em dólar e migrar para alternativas vinculadas aos juros prefixados. O motivo é embolsar os ganhos obtidos com a desvalorização do real e reposicionar os investimentos para lucrar com a possível queda das taxas de juros de longo prazo.

As aplicações em fundos de investimento dos clientes do segmento Personnalité do Itaú ilustram o tamanho da dificuldade.

Desde o começo do ano, a quantidade de cotistas no fundo Itaú Personnalíté Dólar subiu de pouco menos de 3,5 mil para mais de 6 mil. Em contrapartida, o total de clientes no Itaú Personnalité Pré fez o caminho oposto e caiu de pouco mais de 7 mil para menos de 5,5 mil. O gráfico abaixo mostra essa evolução.

PreCambial

O fundo Personnalité Dólar acompanha a variação cambial e o Personnalité Pré segue de perto o IRF-M, um indicador que acompanha a rentabilidade dos títulos prefixados emitidos pelo Tesouro.

O gráfico abaixo ilustra o desempenho de uma aplicação hipotética de R$ 10 mil nas duas alternativas desde o começo do ano. A linha verde mostra o valor corrigido pela variação cambial e a linha azul representa a correção pelo IRF-M.

USDIRFM

A aplicação atrelada ao dólar rendeu mais de 50% no período. Já o investimento no IRF-M teve ganho de 5%. Esse resultado justifica a opção dos clientes do Personnalité.

Existe uma percepção de que as taxas de juros no Brasil estão exageradamente elevadas. Além disso, a esperança é que a cotação do dólar se estabilize.

Acertar o momento certo para mudar as aplicações financeiras é sempre uma tarefa difícil. De todo o modo, vale a pena acompanhar o que os outros estão fazendo.

Entre a aposta no dólar e a segurança do CDI

O preocupante descontrole na condução da política econômica do país já vai provocando reflexos nas aplicações dos investidores de varejo. Desde o começo de agosto até o dia 18 de setembro, o total de cotistas com posições nos principais fundos cambiais oferecidos pelos bancos de rede subiu de 13 mil para 17 mil aplicadores.

BB, Caixa, Itaú e Santander lideram o segmento de carteiras indexadas ao dólar. Bradesco e Safra, assim como distribuidores independentes, tais como XP e Guide, também possuem produtos acessíveis aos pequenos poupadores.

O aumento do interesse dos investidores precisa ser avaliado em perspectiva. O maior fundo cambial, em quantidade de cotistas, é o Itaú Personnalité Cambial Dólar, com cerca de 6 mil aplicadores. O fundo DI mais popular do segmento Personnalité do Itaú  reúne 110 mil cotistas.

A comparação sugere que, atualmente, apenas uma fração pequena dos clientes possui aplicações em fundos cambiais. Essa proporção é semelhante nas demais instituições.

A tendência dos números, entretanto, chama a atenção. O crescimento médio de 30% na quantidade de cotistas dos fundos cambiais em período tão curto não encontra paralelo em carteiras das demais categorias.

Mesmo com a alta expressiva nos últimos meses, os investidores continuam buscando ativamente proteção para a desvalorização do real. A decisão pode fazer sentido, visto que a perspectiva é que a oferta de dólares caia na contramão da demanda pela moeda.

A perda do grau de investimento do país tem o potencial de reduzir o fluxo de entrada de investimentos estrangeiros direto, já alertava o ministro Joaquim Levy em 29 de abril, em apresentação na Câmara dos Deputados. E a vigência da instrução CVM 555 a partir de outubro tende a facilitar o acesso dos brasileiros aos produtos oferecidos no mercado internacional.

Além disso, conforme mostrou o repórter Fernando Torres, do Valor, considerando a diferença histórica entre a inflação no Brasil e nos Estados Unidos desde outubro de 2002 – até então cotação recorde na história do Plano Real –, o dólar, em termos reais, equivaleria hoje a R$ 6,83 – o que significa que há espaço para valorizações adicionais.

A despeito da razão para o investimento em ativos atrelados ao dólar, é importante ter em conta que a aplicação oscila acentuadamente. Nos últimos 15 anos, a variação cambial ocorrida em intervalos móveis 12 meses foi sempre elevada. E em metade das vezes foi negativa.

O pior momento para investir em dólar ocorreu entre janeiro e dezembro de 2009, quando a moeda americana caiu 25% em relação ao real e a cotação diminuiu de R$ 2,32 para R$ 1,74. O dólar continuou em baixa até atingir a mínima de R$ 1,56 em julho de 2011. A partir de então a moeda começou a trajetória de alta, até atingir as máximas históricas recentes.

A alternativa para fugir da volatilidade do dólar é manter as aplicações vinculadas à variação do Certificado de Depósitos Interfinanceiro (CDI), que guarda estreita relação com a taxa Selic. A vantagem é que, com o histórico de juros elevados no Brasil, em poucas ocasiões a estratégia produz arrependimento.

O gráfico abaixo compara a diferença entre a variação cambial e o CDI em períodos móveis de 12 meses desde setembro de 2000. As barras azuis indicam os momentos em que a variação cambial superou o CDI. As barras vermelhas mostram quando a rentabilidade do dólar foi menor do que o indicador da renda fixa.

DolarCDI

A quantidade de barras vermelhas é cerca de duas vezes superior ao número de barras azuis. Significa que, no passado, foi mais comum ganhar com a aplicação em CDI do que com o investimento em dólares.

Uma terceira opção é buscar o equilíbrio entre o custo de oportunidade do CDI e a proteção contra a desvalorização do real. A forma de implementar essa estratégia é por meio de operações estruturadas.

No atual ambiente de oscilações extremas do dólar, a oferta deste tipo de alternativa tem se multiplicado. O BNP Paribas, por exemplo, lançou recentemente o fundo Momentum FX Range.

O objetivo da aplicação é proporcionar uma remuneração de cerca de 160% da taxa prefixada desde que a cotação do dólar não ultrapasse um intervalo de aproximadamente 5% para cima ou para baixo em relação à data do início da operação.

Para cada dia em que a taxa de câmbio termine fora do patamar especificado, a rentabilidade do fundo cai. No pior cenário, o rendimento é nulo.

A XP, por sua vez, oferece aos clientes que já possuem dólares, e lucraram com a alta, a possibilidade de assegurar o ganho sem vender a moeda. Por meio de operações no mercado de derivativos, o objetivo da estratégia é comprar, sem custos, um seguro contra a queda do dólar. A contrapartida da estrutura é abrir mão de parte do ganho, caso a moeda estrangeira continue subindo.

Especialmente no momento atual, as decisões devem considerar os riscos e os objetivos do investimento. O maior impacto da crise que atravessamos é o aumento da complexidade dos fatores que precisam ser levados em conta antes de decidir pela melhor aplicação financeira.

O ponto positivo é que existem uma série de produtos financeiros disponíveis para a diversificação dos investimentos. Entretanto, uma avaliação criteriosa das alternativas é essencial para evitar decisões equivocadas.

Aumenta a demanda por fundos cambiais no varejo

O cada vez mais preocupante descontrole na condução da política econômica do país já vai provocando reflexos nas aplicações dos investidores de varejo. Do começo de agosto ao dia 18 de setembro, o total de cotistas com posições nos principais fundos cambiais oferecidos pelos bancos de rede subiu de 13 mil para 17 mil.

BB, Caixa Itaú e Santander lideram o segmento de carteiras indexadas ao dólar. No entanto, Bradesco e Safra, bem como distribuidores independentes, tais como XP e Gradual, também possuem produtos acessíveis aos pequenos poupadores.

O gráfico abaixo compara a evolução da quantidade de cotistas de quatro importantes fundos cambiais. Todos possuem comportamento semelhante.

FundosCambiais

O eixo vertical indica a quantidade de cotistas de cada fundo. O eixo horizontal marca o tempo. A queda brusca ocorrida em 31 de agosto é decorrente de erro na divulgação das informações que deverá ser corrigido posteriormente.

Após um primeiro salto entre fevereiro e março deste ano, a quantidade de cotistas ficou relativamente estável. Mais recentemente o interesse dos aplicadores foi renovado.

O cenário vai ficando cada vez mais complexo para a gestão dos investimentos. Em contrapartida, os instrumentos de proteção para as aplicações estão cada vez mais disponíveis.

Vai e vem no BB Siderurgia

Aplicar no BB Siderurgia FIC FI é para os fortes. Os mais de 10 mil cotistas que reúnem o montante total de R$ 33 milhões no fundo não podem se queixar de monotonia.

Em 2012 o fundo rendeu 9,69% e em 2013 o rendimento foi de 7,86%. Mas, em 2014, o valor da cota caiu pela metade. Em 2015, até setembro, o fundo caiu outros 26%. Agora em outubro houve uma recuperação acentuada e a alta supera 27% no mês.

O gráfico abaixo ilustra a evolução de uma aplicação hipotética de R$ 10 mil feita há três anos, em 18 de setembro de 2012.

bbsiderurgia

A Lâmina de Informações Essenciais informa que a aplicação mínima no fundo é de R$ 200 e a taxa de administração é de 2% aa. O fundo é destinado aos clientes do BB que pretendam investir no setor de siderurgia.

De acordo com as informações da Morningstar, a carteira investe no BB Top Setorial Siderurgia, que por sua vez aplica 60% da carteira nas ações da CSN, Usiminas e Gerdau.

Definitivamente, um fundo para quem gosta de emoções.

Quatro fundos para investir, se a situação melhorar

Hoje, é impossível prever o que pode acontecer com o governo Dilma. A falta de coordenação política, ambiente econômico recessivo e propostas erráticas para criação de novos impostos estão minando a confiança sobre a capacidade dos dirigentes de adotar medidas para equilibrar as contas públicas.

Apesar de tudo, o Banco Central tem se mostrado determinado na tarefa de reduzir a inflação. Se a política da autoridade monetária tiver sucesso, os juros irão cair e surgirão oportunidades de ganhos com taxas prefixadas.

Antes de definir o momento certo para apostar nos juros prefixados, é fundamental conhecer os instrumentos financeiros mais indicados.

No segmento de fundos de investimentos, Caixa, Santander, BB e Itaú possuem carteiras com montante de investimento inicial acessível e que tendem a ganhar com a queda dos juros. O histórico de rentabilidade mostra fundos com estratégias atreladas à variação do Índice de Renda Fixa do Mercado (IRFM), indicador que acompanha a evolução das taxas prefixadas.

Uma primeira opção é o Caixa FIC Absoluto Pré RF Longo Prazo. O fundo tem aplicação mínima inicial de R$ 1 mil, é destinado a pessoas físicas ou jurídicas e a taxa de administração é de 1,1% ao ano.

A Lâmina de Informações Essenciais (LIE) afirma que o objetivo da carteira é acompanhar a variação do Certificado de Depósitos Interfinanceiros (CDI). No entanto, o desempenho nos últimos cinco anos tem sido diferente do parâmetro de referência informado.

O material promocional do fundo parece esclarecer a confusão. A estratégia de aplicar, no mínimo, 51% do patrimônio líquido em ativos financeiros ou modalidades operacionais que resultem em taxas prefixadas explica a maior correlação da carteira com o IRFM.

Apesar da divergência de informações deixar o aplicador desconfortável, o risco do investimento parece aceitável.

O Santander possui um fundo com características semelhantes ao da Caixa. A LIE do Santander Pré Renda Fixa Longo Prazo informa que o valor mínimo de aplicação é de R$ 20 mil, a taxa de administração é de 1% ao ano e pessoas físicas ou jurídicas podem investir.

Assim como o fundo da Caixa, o desempenho da a carteira é comparada com o CDI na lâmina, apesar de ser mais correlacionado com a variação do IRFM.

Um ponto negativo é a possibilidade de cobrança da taxa de performance de 20% sobre o que exceder a variação do CDI. Talvez o parâmetro mais justo, neste caso, fosse a variação do IRFM.

Para os clientes do segmento Estilo do BB, está disponível o BB Renda Fixa Pré LP Estilo. A aplicação inicial é de R$ 20 mil, mas o BB adota um critério chamado de “visão integrada”. Se o cliente tiver esse montante em outros produtos, a aplicação no fundo é liberada.

A LIE do fundo diz que a taxa de administração pode variar de 0,80% ao ano a 1,30% ao ano sem, no entanto, esclarecer os motivos. Outro ponto que merece atenção é a divergência sobre o valor mínimo da aplicação, que na lâmina é de R$ 50 mil e sem menção à “visão integrada”.

Ainda, segundo a LIE, o fundo não cobra taxa de performance e o rendimento histórico nos últimos cinco anos tem ficado por volta de 90% do IRFM.

A quarta opção é para os clientes do segmento Personnalité do Itaú. Segundo a LIE do fundo Itaú Personnalité Renda Fixa Pré Longo Prazo, a aplicação mínima é de R$ 100 mil, a taxa de administração é de 1% ao ano e não há cobrança de taxa de performance.

Em termos comparativos, de acordo com os dados da Morningstar, a rentabilidade anualizada nos últimos três anos foi de 6,62% para o BB Pré Estilo, 6,61% para o Itaú Personnalité Pré, 6,47% para o Santander Pré e 5,24% para o Caixa Absoluto.

Maior dinamismo para os investidores

O funcionamento dos fundos de investimentos e o exercício profissional de administração de carteiras são atividades regulamentadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A partir de 1º de outubro deste ano, as normas serão atualizadas.

As principais novidades incluem a reformulação da nomenclatura dos fundos, a flexibilização das modalidades de operações permitidas nas carteiras e a necessidade de maior transparência aos investidores. A consequência das regras elencadas nas instruções 554, 555 e 558 será o aumento da responsabilidade dos cotistas e gestores.

Houve a simplificação da classificação dos fundos, que serão divididos em apenas quatro categorias: renda fixa, ações, cambiais e multimercado. Em contrapartida, para marcar a diferenciação entre as estratégias de investimento de cada carteira, a CVM criou o conceito de “sufixos”.

Assim, o tradicional fundo de renda fixa que tem por objetivo perseguir a variação diária das taxas do certificado de depósito interfinanceiro (CDI), conhecido popularmente como fundo DI, mudará de nome. Será chamado, oficialmente, de fundo de renda fixa referenciado CDI.

Mas se o prazo máximo a decorrer dos títulos da carteira for de até 375 dias e a média do vencimento de todos os papéis, de apenas 60 dias, o fundo terá que adotar o sufixo curto prazo, sem usar a nomenclatura referenciado. Isso mesmo se o principal fator de risco da carteira for o CDI, por exemplo.

Se o fundo de renda fixa aplicar pelo menos 80% do patrimônio em títulos da dívida externa da União, terá que adotar o sufixo Dívida Externa. Essa classe é semelhante aos antigos fundos de investimento no exterior (Fiex) e pode se tornar uma interessante alternativa.

Existe, ainda, a possibilidade de usar, como sufixo, a expressão “simples”. Para tanto, o principal fator de risco deve ser a taxa Selic. Adicionalmente, pelo menos 95% do patrimônio tem que estar aplicado em títulos públicos ou papéis de instituições financeiras de primeira linha.

Caso exista a possibilidade de concentrar mais de 50% do patrimônio em emissores que não a União e o objetivo seja o de buscar um tratamento fiscal mais favorável, é obrigatório acrescentar mais dois sufixos. O nome incluirá as expressões crédito privado e longo prazo.

O fundo de renda fixa pode não usar sufixos, mas a política de investimento deve estabelecer que pelo menos 80% da carteira esteja atrelada a um fator de risco determinado. Tudo deve ser esclarecido em, pelo menos, três demonstrativos obrigatórios, descritos no quadro abaixo.

ArteDeOlho

Entre os fundos de ações, aqueles que compram “Brazilian Depositary Receipts” (BDR) nível 1 ou papéis de empresas listadas no mercado de acesso devem usar sufixos indicativos da estratégia. Os demais, assim como as carteiras classificadas como cambiais e multimercado, estão dispensados de sufixos específicos.

Em todas as discussões sobre a regulamentação de fundos de investimento, dois pontos sempre causam polêmicas: a possibilidade de cobrança de taxa de performance e a permissão para aplicação em ativos fora do país. A CVM permitiu ambos, desde que claramente informados.

O conceito da taxa de performance é alinhar a remuneração do gestor com o ganho do investidor. No entanto, esse arranjo pode gerar conflitos de interesse e ocasionar riscos para o aplicador.

John C. Hull, especialista em mercados derivativos, aborda essa questão no capítulo sobre fundos de investimento do livro “Risk Management and Financial Institutions”. O autor mostra que, em determinadas situações, a decisão racional do gestor é fazer apostas arriscadas com os recursos dos cotistas.

Na pior das hipóteses, se as posições derem prejuízo, os investidores assumem integralmente as perdas. Em caso de ganho, o gestor, por meio da taxa de performance, participa de parte dos lucros.

Para minimizar os conflitos, a CVM exige que alguns parâmetros sejam seguidos. O ganho adicional deve ser medido em relação a um índice de referência compatível com a política de investimento do fundo, o intervalo de cobrança deve ser de pelo menos seis meses e somente no caso de o fundo recuperar totalmente eventuais perdas ocorridas no passado.

As aplicações no mercado internacional podem ser feitas desde que o fundo adote o sufixo investimento no exterior. Como padrão, o limite dos ativos estrangeiros é de 20% do patrimônio.

Caso os investidores da carteira sejam considerados qualificados, de acordo com o padrão estabelecido pela CVM, o limite é de 40%. Pode chegar a 100% se a política de investimento do fundo for suficientemente explícita ou o se investidor tiver o selo de profissional.

No geral, as novas regras dos fundos de investimento garantem um maior dinamismo para os aplicadores e aumentam o compromisso com a divulgação e análise de informações precisas.

O limite da paciência do investidor

Ações são para o longo prazo, mantenha a estratégia que foi decidida no planejamento original e evite negociar nos momentos de forte turbulência para reduzir as chances de prejuízos. Essas são algumas das recomendações mais frequentemente oferecidas aos investidores pelos profissionais da área financeira.

O problema é que, em muitas ocasiões, a calma excessiva pode ocasionar perdas. Ou fazer com que você deixe escapar oportunidades de lucro. Manter uma posição além do tempo ideal ou demorar para identificar uma reviravolta reduz a rentabilidade da carteira.

Em apresentação na conferência sobre investimentos promovida pela Morningstar, no fim de junho em Chicago, Jeremy Grantham, um dos fundadores da gestora de recursos GMO, explicou a maneira como o mercado dá voltas e como isso é capaz de afetar a estratégia do investidor.

Para Grantham, existe um ciclo que começa no momento em que é formado uma espécie de consenso sobre a direção futura do preço dos ativos. Nesse instante, mesmo que de forma inconsciente, os investidores passam a desenvolver um comportamento de manada.

Citando Keynes, o gestor explica que a sabedoria universal indica ser melhor para a reputação fracassar junto com o mercado do que vencer contra ele. Essa característica da psicologia dos aplicadores é tema de amplos estudos em finanças comportamentais. O prazer de evitar uma perda decorrente de uma aposta equivocada é grande. Mas a dor de não comprar a ação que dobrou de preço, quando você sabe que todos os seus conhecidos investiram, é maior.

Assim, é mais confortável manter em carteira um ativo que todos têm do que correr o risco de ficar fora de uma boa oportunidade. Na pior das hipóteses, se a aposta der errada, é cômodo saber que muitos estarão na mesma situação.

A consequência do comportamento de manada é a distorção do preço dos ativos, que passam a ficar acima (ou abaixo) do que seria considerado como o valor justo, levando-se em conta todos os aspectos teóricos e práticos que envolvem a avaliação dos negócios.

Oportunidades, então, começam a aparecer. Ao avaliar as ações de uma empresa após uma alta expressiva, um investidor mais detalhista poderia identificar que o valor de mercado da companhia passou a ser maior do que o custo de reposição de todos os ativos contabilizados no balanço.

Idealmente, existiria a possibilidade de o proprietário da empresa vender suas ações na bolsa e, com os recursos, construir uma nova fábrica para concorrer com a antiga empresa. Como prêmio adicional, embolsaria a diferença.

No jargão financeiro, a venda de um ativo em um mercado específico e a compra de bem igual ou semelhante em uma outra transação por preço mais baixo é chamado de arbitragem. Se o processo puder ser repetido inúmeras vezes, é uma fábrica de fazer dinheiro.

Os investidores estão sempre atrás de oportunidades de arbitragens. A mera constatação de que o valor de mercado de uma companhia está acima do custo de reposição é suficiente para desencadear um processo de queda dos preços.

O inverso também acontece. Se for mais vantajoso comprar as ações de uma empresa negociada em bolsa do que construir uma nova fábrica, os investimentos no setor produtivo tendem a secar e o preço dos papéis das companhias em operação podem subir.

Por trás do ajuste ocasionado pelas possibilidades de arbitragens está a noção de que é questão de tempo para que as cotações cheguem ao valor justo. A premissa é que, uma vez identificada uma tendência para o preço dos ativos, em algum momento o valor de mercado será corrigido.

Mas não há como estimar o prazo para o acerto dos desequilíbrios. As bolhas financeiras e os períodos de depressão podem durar mais do que o inicialmente esperado.

O principal desafio para os gestores profissionais, então, é administrar a paciência do investidor. Mesmo que as posições da carteira sejam solidamente justificadas pelas análises dos especialistas, a tolerância a perdas do aplicador costuma ser pequena.
  
Para os administradores de recursos, o temor é que a paciência dos clientes  atinja o limite antes da maturação das estratégias que foram colocadas em prática. Isso provocaria uma onda de saques dos fundos com desempenho ruim e forçaria muitos profissionais a abandonar a atividade de gestão de ativos.

Grantham chama essa possibilidade de “risco de carreira”. Cientes dessa possibilidade, os próprios gestores mudariam as aplicações das carteiras e contribuiriam para o recomeço do ciclo de comportamento de manada.

ArteCiclo

Para o investidor, é importante manter o equilíbrio entre a paciência e a agonia. Conhecer as estratégias de investimento que estão sendo adotadas pelos administradores da carteira é um primeiro passo para embasar as decisões de maneira mais rentável.

Conhecer o ciclo do mercado e tentar antecipar os prováveis desdobramentos também podem evitar surpresas desagradáveis. É fundamental ainda conferir se o desempenho do gestor está em linha com as decisões que foram informadas.

Esses cuidados do investidor são particularmente importantes nessa época de incertezas políticas e econômicas.

Selic de 14,25% é abaixo do grau de investimento

A decisão do Comitê de Política Monetária de aumentar a taxa Selic para 14,25% ao ano tem um aspecto simbólico. Desde que o país atingiu o grau de investimento, em abril de 2008, nunca a taxa básica de juros esteve em patamar tão elevado.

Além de buscar derrubar a inflação, a estratégia do Banco Central parece ser a de preparar os aplicadores para a possibilidade de mais incertezas pela frente.

A linha azul do gráfico abaixo mostra a evolução da taxa Selic desde agosto de 2005 até julho de 2015. A linha laranja indica a evolução no período da nota de risco atribuída pela agência Standard and Poor’s.

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A nota atual do Brasil (BBB-) é o limite para o grau de investimento. Abaixo de BB+, o país é considerado como grau especulativo. Na última vez que a taxa básica de juros superou o patamar de 14,25% ao ano, a nota do Brasil era BB.

Diversos fatores podem afetar a taxa Selic e a nota do país. Mas a trajetória para a perda do selo de bom pagador parece estabelecida.