Sair do dólar para apostar no prefixado

Para muitos investidores, a dúvida do momento é abandonar as posições em dólar e migrar para alternativas vinculadas aos juros prefixados. O motivo é embolsar os ganhos obtidos com a desvalorização do real e reposicionar os investimentos para lucrar com a possível queda das taxas de juros de longo prazo.

As aplicações em fundos de investimento dos clientes do segmento Personnalité do Itaú ilustram o tamanho da dificuldade.

Desde o começo do ano, a quantidade de cotistas no fundo Itaú Personnalíté Dólar subiu de pouco menos de 3,5 mil para mais de 6 mil. Em contrapartida, o total de clientes no Itaú Personnalité Pré fez o caminho oposto e caiu de pouco mais de 7 mil para menos de 5,5 mil. O gráfico abaixo mostra essa evolução.

PreCambial

O fundo Personnalité Dólar acompanha a variação cambial e o Personnalité Pré segue de perto o IRF-M, um indicador que acompanha a rentabilidade dos títulos prefixados emitidos pelo Tesouro.

O gráfico abaixo ilustra o desempenho de uma aplicação hipotética de R$ 10 mil nas duas alternativas desde o começo do ano. A linha verde mostra o valor corrigido pela variação cambial e a linha azul representa a correção pelo IRF-M.

USDIRFM

A aplicação atrelada ao dólar rendeu mais de 50% no período. Já o investimento no IRF-M teve ganho de 5%. Esse resultado justifica a opção dos clientes do Personnalité.

Existe uma percepção de que as taxas de juros no Brasil estão exageradamente elevadas. Além disso, a esperança é que a cotação do dólar se estabilize.

Acertar o momento certo para mudar as aplicações financeiras é sempre uma tarefa difícil. De todo o modo, vale a pena acompanhar o que os outros estão fazendo.

Aumenta a demanda por fundos cambiais no varejo

O cada vez mais preocupante descontrole na condução da política econômica do país já vai provocando reflexos nas aplicações dos investidores de varejo. Do começo de agosto ao dia 18 de setembro, o total de cotistas com posições nos principais fundos cambiais oferecidos pelos bancos de rede subiu de 13 mil para 17 mil.

BB, Caixa Itaú e Santander lideram o segmento de carteiras indexadas ao dólar. No entanto, Bradesco e Safra, bem como distribuidores independentes, tais como XP e Gradual, também possuem produtos acessíveis aos pequenos poupadores.

O gráfico abaixo compara a evolução da quantidade de cotistas de quatro importantes fundos cambiais. Todos possuem comportamento semelhante.

FundosCambiais

O eixo vertical indica a quantidade de cotistas de cada fundo. O eixo horizontal marca o tempo. A queda brusca ocorrida em 31 de agosto é decorrente de erro na divulgação das informações que deverá ser corrigido posteriormente.

Após um primeiro salto entre fevereiro e março deste ano, a quantidade de cotistas ficou relativamente estável. Mais recentemente o interesse dos aplicadores foi renovado.

O cenário vai ficando cada vez mais complexo para a gestão dos investimentos. Em contrapartida, os instrumentos de proteção para as aplicações estão cada vez mais disponíveis.

Faz pouco sentido o BC segurar o dólar

Fase final da campanha, especulação com o ”kit eleições” e apostas buscando antecipar o resultado das pesquisas de intenção de voto podem justificar as atuais intervenções do Banco Central no mercado cambial.

A longo prazo, porém, a política de “swaps” para segurar a cotação do dólar não é sustentável.

A maior qualidade da política econômica do governo Dilma foi tentar corrigir a excessiva valorização do Real. Do ponto de vista financeiro, o efeito foi despertar, pela primeira vez em muitos anos, o interesse dos brasileiros por uma carteira de aplicações fora do país.

O padrão da política econômica nos anos anteriores era uma combinação de juros internos altos e taxa de câmbio baixa. Uma função importante dos juros era atrair capitais externos para financiar as compras realizadas pelos brasileiros no exterior.

O dólar barato proporcionava o aumento do poder de consumo e a sensação de bem estar. O que é sempre bom para a popularidade do governo.

Nesse ambiente, a principal justificativa para investir no exterior era evitar o risco da instabilidade econômica e política local. O custo de oportunidade era alto, porque a diferença de rendimentos podia ser extremamente elevada.

O ganho das aplicações financeiras varia conforme o risco. O gráfico abaixo mostra o retorno em períodos móveis de 48 meses de dois indicadores de renda fixa.

O “Barclays US Aggregate 5-7 Yr TR” mede o retorno total de uma carteira de títulos com prazo de 5 a 7 anos, emitidos em dólares por empresas de primeira linha ou pelo governo americano. O “Barclays EM USD Agg Brazil TR USD” acompanha a valorização de uma carteira de papéis brasileiros emitidos em dólares.

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Na média, os papéis brasileiros renderam cerca de 2% ao ano acima dos títulos americanos. A contrapartida para o maior risco foi o retorno mais atrativo.

Investir fora do Brasil, no entanto, ainda é para poucos. As aplicações podem demandar elevado montante financeiro inicial ou as estruturas jurídicas e fiscais para viabilizar a remessa dos recursos podem custar caro.

Para o investidor brasileiro, o produto mais acessível são os fundos cambiais. O gráfico abaixo compara a rentabilidade média das carteiras com a variação do dólar, também em períodos móveis de 48 meses. O rendimento é em reais.

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As linhas são praticamente coincidentes. Significa que, investindo nos fundos cambiais disponíveis no mercado local, o investidor brasileiro deixa de ganhar a remuneração dos títulos emitidos no exterior. Em compensação, consegue economizar os custos que envolvem a transferência de recursos para fora do país.

Outro ponto que chama a atenção no gráfico é a oscilação do rendimento. No período entre agosto de 2008 e julho de 2012, por exemplo, os fundos cambiais renderam quase 8% ao ano.

No entanto, no período entre março de 2009 e fevereiro de 2013 o rendimento foi negativo, de -4% ao ano. Já nos períodos de 48 meses encerrados desde julho de 2013 até agosto de 2014, o rendimento médio dos fundos cambiais tem ficado em aproximadamente 6% ao ano.

Os dados históricos mostram que as aplicações indexadas ao dólar possuem grandes variações. Em contrapartida, a análise prospectiva parece indicar que a margem do governo de usar o câmbio valorizado para administrar a política econômica chegou ao limite.

Nesse ambiente, convém ficar atento. Novos produtos financeiros indexados ao dólar e fundos de investimento com estratégias mais elaboradas podem ficar mais acessíveis ao investidor.