Tempo para definição dos objetivos

O momento é de cautela. Se os novos gestores da política econômica tiverem êxito, a inflação em 2015 irá cair, a cotação do dólar subirá para perto dos R$ 3 e o crescimento econômico será significativamente superior ao do ano passado.

No eventual cenário em que tudo dará certo, o investidor pode ganhar com as aplicações em títulos públicos de longo prazo, investimentos indexados à variação cambial e em ações de companhias com atuação nos setores com resposta mais rápida às variações do ciclo econômico.

Mas existe um problema. O consenso, hoje, é de que não existe um conjunto de medidas capaz de garantir, com segurança, o resultado mais favorável para o desempenho da economia. E algumas metas do governo podem se tornar conflitantes.

Arte Rumo

Apesar de toda a boa vontade com a nova equipe dos ministérios da Fazenda e do Planejamento, a readequação das políticas que levaram à queda das atividades produtivas e ao desequilíbrio das contas fiscais e externas é um processo que tende a demorar. E se as pressões políticas para resultados imediatos forem grandes, é possível que ocorram frequentes mudanças de rota.

Portanto, a contrapartida de potenciais ganhos a longo prazo com o eventual sucesso da nova política econômica é a perspectiva de muita oscilação na cotação diária dos ativos financeiros.

Para evitar esse desconforto, a melhor proteção para o sobe e desce dos mercados nos momentos de incertezas está nos títulos de renda fixa atrelados aos juros de curto prazo. Papéis privados indexados ao Certificado de Depósitos Interfinanceiros (CDI) e títulos públicos vinculados à taxa Selic cumprem a função de garantir o valor das aplicações conforme as condições momentâneas.

Algumas modalidades, tais como as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) ou as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), possuem a vantagem adicional da isenção do imposto de renda (IR). Mas é preciso cautela.

Se empresas privadas ficarem inadimplentes, os papéis emitidos estarão sujeitos a reestruturações do fluxo de pagamentos. Ou até mesmo calotes. Conhecer e entender o significado das avaliações de risco de crédito e da nota atribuída ao emissor do papel pode ajudar a evitar eventuais prejuízos.

Cenário econômico recessivo é prejudicial para as atividades empresariais. Especialmente se o peso da dívida e dos pagamentos com os encargos de empréstimos forem grandes.

Os títulos públicos, pelo menos em teoria, não correm o risco de reescalonamentos. No entanto, é possível que os custos para a execução das transações, cobrados pelos intermediários financeiros, acabem diminuindo a rentabilidade total da operação. Encontrar instituições com despesas de corretagem atrativas é fundamental para aumentar a lucratividade.

Mas se a preocupação for preservar os investimentos em relação à inflação, as melhores opções são as aplicações indexadas ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Também nesse caso existem as alternativas com títulos privados ou públicos. E, novamente, é preciso cautela com a qualidade dos emissores.

Um cuidado adicional com os papéis indexados à inflação é adequar o prazo de vencimento com o objetivo da aplicação. Os títulos com previsão de resgate em período relativamente curto – de até quatro anos, por exemplo – tendem a oscilar menos e a oferecer maior proteção do que os de longo prazo.

Títulos com previsão de resgate acima de cinco anos apresentam grandes oscilações nos momentos de incerteza. E podem gerar prejuízos se forem vendidos no meio do caminho.

Uma opção que também não pode ser descartada é travar o atual ganho prefixado por determinado período. Principalmente considerando que as taxas de juros praticadas estão em patamar elevado.

A partir da análise das variações da taxa Selic que ocorreram no passado, parece ser uma aposta relativamente segura garantir ganhos de dois dígitos nas operações de renda fixa. Especialmente para o prazo de cerca de dois anos.

Na renda variável, ao que tudo indica, será mais comum nos depararmos com retornos extremos para ações de diferentes companhias. O processo de ajuste da economia brasileira, a queda dos preços das commodities e a normalização da política monetária americana são fatores que terão impactos diferentes sobre os negócios das empresas listadas na BM&FBovespa.

Para fazer as escolhas corretas, será fundamental avaliar os detalhes do desempenho operacional de cada companhia. Os relatórios de análise das corretoras podem ser uma excelente fonte de informação.

Alternativamente, uma solução é escolher fundos de investimento de gestores com comprovado histórico de acerto em suas decisões.

As possibilidades para 2015 são grandes. O fundamental para atingir sucesso nos investimentos é definir, antes de mais nada, objetivos estratégicos.

Para tanto, é importante combinar as necessidades individuais com o cenário macroeconômico, mantendo um determinado nível de precaução para o caso de as projeções se afastarem muito da rota que foi originalmente traçada.

Os investimentos depois das eleições

O fim da disputa eleitoral tem potencial para estimular mudanças nas atuais preferências dos investidores. Na renda fixa, existe grande probabilidade de que o tradicional conforto desapareça. Investimentos com liquidez imediata ou rendimentos com isenção fiscal, atrelados aos juros de curto prazo e com ganhos superiores à inflação não são sustentáveis numa economia equilibrada. A conta para o país simplesmente não fecha.

Logo, a alternativa para tentar manter o retorno no caso da queda dos juros seria ampliar o prazo do investimento. Ou, então, aplicar em fundos com estilos de gestão adaptados ao novo ambiente, especialmente se a economia brasileira ingressar num novo ciclo de desenvolvimento.

Na bolsa, a especulação de curto prazo com os papéis do “kit eleições”, formado por ações de estatais e bancos, está com os dias contados. Outras estratégias, tais como a aposta no desempenho de companhias com melhores perspectivas de crescimento das receitas e dos lucros, tendem a ocupar o espaço.

Num cenário otimista, para suprir as novas demandas dos investidores por aplicações diferenciadas, ofertas públicas de ações e outras operações com títulos e valores mobiliários ficariam mais frequentes. E a diversificação poderia ter lugar de destaque nos portfólios, desde que os riscos fossem corretamente identificados.

No entanto, apesar do potencial clima de otimismo com o fim do período eleitoral, não se pode descartar a chance de as coisas darem errado. Uma possibilidade é o próximo governo ser obrigado a fazer um ajuste mais forte e simultâneo no balanço de pagamentos e nas contas públicas. Nesse caso, a consequência seria uma combinação de alta do dólar, crescimento econômico baixo e inflação acima do atual patamar. Os melhores investimento financeiros nesse cenário são, necessariamente, diferentes.

Ao que tudo indica, a melhor alocação para os investimentos nos próximos meses dependerá da forma como o futuro governo, independentemente do vencedor da eleição de domingo, irá promover os ajustes na economia brasileira. Nessa altura da corrida presidencial, já ficou claro que as políticas efetivas dos candidatos só serão conhecidas com o passar do tempo.

A contrapartida é que o atual ambiente gerou muitas incertezas. A reação dos investidores para conviver com esse clima foi o aumento das posições em aplicações com liquidez imediata.

Reportagem de Angela Bittencourt e Lucinda Pinto, do Valor, ilustra esse fato, destacando o aumento do volume de operações compromissadas do Banco Central. Estima-se que o atual montante de aplicações junto ao BC é de R$ 920 bilhões, ou 20% do PIB. É um recorde histórico.

Uma das funções do BC é regular a liquidez do sistema financeiro. As operações entre a autoridade monetária e os bancos são comuns e servem para dar previsibilidade às atividades bancárias.

O excesso de recursos do sistema financeiro estacionado no BC é sintoma de falta de confiança. A remuneração dos bancos poderia ser maior se os valores estivessem aplicados em operações de empréstimos ou em títulos públicos ou privados.

O atual período eleitoral é marcado por sinais contraditórios. Por exemplo, apesar do excesso de recursos aplicados no curto prazo, os juros se mantêm em patamar relativamente estável. A Selic está em 11% ao ano desde a reunião do Copom do início do mês de abril. Ainda mais relevante é observar o comportamento da diferença entre as taxas das Notas do Tesouro Nacional (NTN), considerando os títulos prefixados (série F), e os papéis indexados à inflação (NTN-B série B), ambos com vencimento acima de cinco anos.

A relação entre os juros prefixados da NTN-F com vencimento em janeiro de 2021 e a remuneração da parcela acima da inflação da NTN-B para agosto de 2020 tem ficado aproximadamente constante. Desde julho deste ano a diferença oscila ao redor de 5,8% ao ano.

A disputa eleitoral parece não ter influência acentuada sobre o comportamento esperado para a inflação nos próximos anos. A perspectiva é de que o novo governo manterá uma política econômica equilibrada.

Já no câmbio, mercado tradicionalmente mais volátil, a sinalização foi diferente. A cotação subiu de R$ 2,20 no início de julho para R$ 2,45 mais recentemente. Isso ocorreu mesmo com o intenso volume de intervenções do BC.

Disputa

No curto prazo, a tendência é que a inflação suba. Mas tudo indica que ainda permanecerá abaixo da rentabilidade das aplicações atreladas ao CDI.

Para o futuro, se houver coordenação das políticas econômicas no próximo governo, é possível que os esforços do Ministério da Fazenda e do BC sejam intensificados para reduzir inflação e fazer a economia crescer novamente. Nesse caso, alongar as aplicações, garantindo o atual nível de juros, tanto dos títulos prefixados quanto dos indexados à inflação, pode proporcionar bons lucros.

Esse cenário é incerto. Assim, a despeito da expectativa para a política econômica do novo governo, é importante ficar atento às oportunidades de investimento, inclusive avaliando as novas modalidades que podem surgir.

Contas externas em observação

Na segunda feira, dia 24 de março, está prevista a divulgação, pelo Banco Central (BC), dos números do balanço de pagamentos referente ao mês de fevereiro. É o documento no qual são contabilizadas as transações do Brasil com o resto do mundo.

Apesar do esperado déficit recorde de cerca de R$ 85 bilhões no período de 12 meses com despesas relacionadas ao pagamento de juros, dividendos e remuneração de serviços, as demais contas devem registrar saldos positivos expressivos. O resultado final é o aumento do saldo das aplicações em moeda estrangeira, contabilizado na conta de reservas internacionais no conceito caixa.

Os dados das reservas internacionais são divulgados em intervalos menores e os valores até 19 de março já estão disponíveis. Desde 31 de dezembro aumentaram em quase R$ 6 bilhões. Foi uma das maiores altas nos últimos meses e sinaliza que, talvez, a pior fase da crise de confiança do mundo com o Brasil pode ter ficado para trás.

No entanto, para voltar à situação anterior às turbulências, o BC precisa quitar as operações de swap cambial. São derivativos financeiros que representam um passivo equivalente a US$ 84 bilhões.

As barras do gráfico abaixo mostram a evolução das reservas internacionais, considerando as operações de swap do BC. A linha vermelha representa a cotação média mensal do dólar, conforme divulgadas no código Ptax.

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Para conter a alta do dólar o BC realizou diversos leilões de swap cambial a partir de junho de 2013. O recuo do dólar foi acompanhado pela redução das reservas internacionais, quando considerados os derivativos.

O desafio do BC é manter a cotação do dólar equilibrada e, ao mesmo tempo, reduzir o estoque de swaps no mercado. São dois indicadores que merecem um acompanhamento cuidadoso ao longo dos próximos meses.

Por enquanto com Dilma, o melhor é dólar e consumo

É consenso que a condução da política macroeconômica no governo Dilma mudou em relação aos períodos anteriores. Além disso, houve reflexos internos das intervenções promovidas pelos bancos centrais dos países desenvolvidos, que fixou em praticamente zero as taxas de juros de curto prazo nas principais economias.

A consequência para o investidor brasileiro foi a alta dos ativos atrelados ao dólar e a valorização dos papéis de empresas do setor de consumo. Adicionalmente, o aplicador foi obrigado a conviver com grandes oscilações dos principais ativos financeiros.

No período entre 31 de dezembro de 2010 e 19 de novembro de 2013, o Ibovespa chegou a perder 37% entre máxima atingida em 12 de janeiro de 2011 e a mínima, no fechamento do mercado de 3 de julho de 2013. O indicador ainda acumula queda de mais de 20%.

O IMA Geral, indicador de renda fixa que mede a rentabilidade média de uma carteira diversificada de títulos públicos também disponíveis no Tesouro Direto, chegou a cair quase 6% entre 8 de maio e 16 de junho de 2013. No período total a valorização é de 31,26%, acima do CDI e da inflação.

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A modalidade mais rentável no período foi a média dos Recibos de Depósitos Brasileiros – BDRs na sigla em inglês. São títulos negociados no Brasil vinculados a ações de companhias estrangeiras. Os papéis brasileiros que representam empresas estrangeiras valorizaram 96% no período.

O pior momento para os investidores em BDRs ocorreu entre 7 de janeiro e 2 de setembro de 2011, quando o indicador caiu 37%. No dia  7 de dezembro de 2011, no entanto, 208 dias úteis após o pico, a cotação recuperou o ponto máximo anterior.

O índice dos fundos imobiliários (IFIX) teve um desempenho razoável no período, apesar da queda de mais de 20% entre fevereiro e agosto de 2012. A alta total foi de 41%, mas quem investiu nas máximas do começo do ano ainda acumula prejuízos.

Os indicadores revelam o retrato de um período que acabou sendo altamente conturbado. Maior clareza para os investimentos dependerá das orientações da política econômica que será seguida no período final do governo Dilma.

O momento exato de investir em dólares

Desde o fim de junho até o início de setembro, a quantidade de cotistas com aplicações nos fundos cambiais oferecidos pelos principais bancos de varejo subiu 40%. No período, o dólar se valorizou 3% e atingiu o pico de R$ 2,45 no dia 22 de agosto. Pouco tempo depois, a cotação recuou para a faixa de R$ 2,30.

O dólar vem subindo desde julho de 2011, quando atingiu a mínima de R$ 1,53. Mas foi a alta recente que detonou a onda de interesse dos aplicadores de varejo por investimentos nos fundos cambiais.

ComprarErrado

Todo ano o Brasil gasta cerca de US$ 80 bilhões para fazer frente a compromissos externos com a importação de serviços e o pagamento de juros, lucros e dividendos. Esse déficit é financiado pelo saldo da balança comercial — a diferença entre as exportações e as importações de mercadorias — e com a entrada dos investimentos estrangeiros diretos, que contribuem para aumentar a capacidade produtiva.

Como nos últimos anos o país também tem captado recursos por meio de empréstimos contraídos no exterior e de investimentos em carteira — aplicações de estrangeiros em títulos e valores mobiliários brasileiros —, o saldo líquido das contas externas tem sido sistematicamente positivo.

Para tentar estabilizar a cotação do dólar devido à entrada significativa de divisas, o Banco Central comprou quantidade expressiva de moeda estrangeira. Como consequência, as reservas internacionais estão, hoje, ao redor de US$ 370 bilhões.

O comportamento das contas do balanço de pagamentos brasileiro é o pano de fundo para a trajetória da cotação do dólar. E a política econômica do país vai sendo adaptada para corrigir eventuais desequilíbrios entre oferta e demanda pela moeda estrangeira.

Nos períodos de entrada maciça de dólares, quando a cotação recua e o real fica mais forte, a tendência é que o Brasil pratique juros mais baixos e a inflação caia. O efeito positivo é o aumento do consumo, devido ao crescimento do poder de compra dos salários. O resultado mais visível dos períodos de bonança é o aumento da presença de bens de consumo importados nas lojas e o crescimento dos gastos com viagens internacionais.

Em épocas de saída de divisas, em contrapartida, a cotação do dólar aumenta, o poder de compra dos salários cai e, como consequência, o consumo diminui. Para evitar o repasse para os preços internos da alta do dólar, os juros tendem a subir, o que acaba esfriando ainda mais a economia.

A principal razão para a alta do dólar no período recente é a possibilidade de retirada dos estímulos monetários nos Estados Unidos. A perspectiva é que o banco central americano reduza o programa de recompra de títulos em poder das instituições financeiras.

Com menor oferta de dólares na maior economia do mundo, os investidores internacionais reduziriam o apetite para aplicações em países emergentes. Essa percepção é reforçada pelo fraco desempenho dos ativos financeiros dos países menos desenvolvidos.

O Ibovespa, por exemplo, caiu cerca de 5% desde janeiro de 2012 até 9 de setembro de 2013. Por sua vez, o indicador S&P 500, que mede o desempenho da bolsa americana, subiu cerca de 30% no mesmo período.

O trunfo atual do governo brasileiro para continuar atraindo dólares para o país é o programa de licitação para concessão de rodovias, ferrovias, aeroportos e portos. Segundo estimativas, a movimentação de recursos pode chegar a R$ 200 bilhões.

Se as autoridades conseguirem colocarem prática o programa, contornando as resistências políticas, a tendência é que a cotação do dólar volte a cair. Além disso, os benefícios concretos decorrentes do aumento da produtividade da economia tendem a ampliar o leque de opções para os investidores.

É possível, por exemplo, que diversas empresas decidam expandir as atividades. Para tanto, poderiam tentar acessar o mercado de capitais e emitir títulos de renda fixa e ações. Um ciclo favorável para o preço dos ativos financeiros brasileiros poderia ressurgir.

Em meados do ano passado, a credibilidade da condução da política econômica ficou abalada pela percepção de que houve aumento do intervencionismo. Na época, muitos investidores aproveitaram para diversificar os riscos e as aplicações financeiras no exterior apareceram como alternativa.

A diversificação das estratégias de investimento é sempre aconselhável. No entanto, é preciso evitar decisões que impliquem comprar quando os preços estão perto dos pontos máximos. É fundamental entender o cenário para minimizar os riscos.