Contas externas em observação

Na segunda feira, dia 24 de março, está prevista a divulgação, pelo Banco Central (BC), dos números do balanço de pagamentos referente ao mês de fevereiro. É o documento no qual são contabilizadas as transações do Brasil com o resto do mundo.

Apesar do esperado déficit recorde de cerca de R$ 85 bilhões no período de 12 meses com despesas relacionadas ao pagamento de juros, dividendos e remuneração de serviços, as demais contas devem registrar saldos positivos expressivos. O resultado final é o aumento do saldo das aplicações em moeda estrangeira, contabilizado na conta de reservas internacionais no conceito caixa.

Os dados das reservas internacionais são divulgados em intervalos menores e os valores até 19 de março já estão disponíveis. Desde 31 de dezembro aumentaram em quase R$ 6 bilhões. Foi uma das maiores altas nos últimos meses e sinaliza que, talvez, a pior fase da crise de confiança do mundo com o Brasil pode ter ficado para trás.

No entanto, para voltar à situação anterior às turbulências, o BC precisa quitar as operações de swap cambial. São derivativos financeiros que representam um passivo equivalente a US$ 84 bilhões.

As barras do gráfico abaixo mostram a evolução das reservas internacionais, considerando as operações de swap do BC. A linha vermelha representa a cotação média mensal do dólar, conforme divulgadas no código Ptax.

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Para conter a alta do dólar o BC realizou diversos leilões de swap cambial a partir de junho de 2013. O recuo do dólar foi acompanhado pela redução das reservas internacionais, quando considerados os derivativos.

O desafio do BC é manter a cotação do dólar equilibrada e, ao mesmo tempo, reduzir o estoque de swaps no mercado. São dois indicadores que merecem um acompanhamento cuidadoso ao longo dos próximos meses.

O momento exato de investir em dólares

Desde o fim de junho até o início de setembro, a quantidade de cotistas com aplicações nos fundos cambiais oferecidos pelos principais bancos de varejo subiu 40%. No período, o dólar se valorizou 3% e atingiu o pico de R$ 2,45 no dia 22 de agosto. Pouco tempo depois, a cotação recuou para a faixa de R$ 2,30.

O dólar vem subindo desde julho de 2011, quando atingiu a mínima de R$ 1,53. Mas foi a alta recente que detonou a onda de interesse dos aplicadores de varejo por investimentos nos fundos cambiais.

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Todo ano o Brasil gasta cerca de US$ 80 bilhões para fazer frente a compromissos externos com a importação de serviços e o pagamento de juros, lucros e dividendos. Esse déficit é financiado pelo saldo da balança comercial — a diferença entre as exportações e as importações de mercadorias — e com a entrada dos investimentos estrangeiros diretos, que contribuem para aumentar a capacidade produtiva.

Como nos últimos anos o país também tem captado recursos por meio de empréstimos contraídos no exterior e de investimentos em carteira — aplicações de estrangeiros em títulos e valores mobiliários brasileiros —, o saldo líquido das contas externas tem sido sistematicamente positivo.

Para tentar estabilizar a cotação do dólar devido à entrada significativa de divisas, o Banco Central comprou quantidade expressiva de moeda estrangeira. Como consequência, as reservas internacionais estão, hoje, ao redor de US$ 370 bilhões.

O comportamento das contas do balanço de pagamentos brasileiro é o pano de fundo para a trajetória da cotação do dólar. E a política econômica do país vai sendo adaptada para corrigir eventuais desequilíbrios entre oferta e demanda pela moeda estrangeira.

Nos períodos de entrada maciça de dólares, quando a cotação recua e o real fica mais forte, a tendência é que o Brasil pratique juros mais baixos e a inflação caia. O efeito positivo é o aumento do consumo, devido ao crescimento do poder de compra dos salários. O resultado mais visível dos períodos de bonança é o aumento da presença de bens de consumo importados nas lojas e o crescimento dos gastos com viagens internacionais.

Em épocas de saída de divisas, em contrapartida, a cotação do dólar aumenta, o poder de compra dos salários cai e, como consequência, o consumo diminui. Para evitar o repasse para os preços internos da alta do dólar, os juros tendem a subir, o que acaba esfriando ainda mais a economia.

A principal razão para a alta do dólar no período recente é a possibilidade de retirada dos estímulos monetários nos Estados Unidos. A perspectiva é que o banco central americano reduza o programa de recompra de títulos em poder das instituições financeiras.

Com menor oferta de dólares na maior economia do mundo, os investidores internacionais reduziriam o apetite para aplicações em países emergentes. Essa percepção é reforçada pelo fraco desempenho dos ativos financeiros dos países menos desenvolvidos.

O Ibovespa, por exemplo, caiu cerca de 5% desde janeiro de 2012 até 9 de setembro de 2013. Por sua vez, o indicador S&P 500, que mede o desempenho da bolsa americana, subiu cerca de 30% no mesmo período.

O trunfo atual do governo brasileiro para continuar atraindo dólares para o país é o programa de licitação para concessão de rodovias, ferrovias, aeroportos e portos. Segundo estimativas, a movimentação de recursos pode chegar a R$ 200 bilhões.

Se as autoridades conseguirem colocarem prática o programa, contornando as resistências políticas, a tendência é que a cotação do dólar volte a cair. Além disso, os benefícios concretos decorrentes do aumento da produtividade da economia tendem a ampliar o leque de opções para os investidores.

É possível, por exemplo, que diversas empresas decidam expandir as atividades. Para tanto, poderiam tentar acessar o mercado de capitais e emitir títulos de renda fixa e ações. Um ciclo favorável para o preço dos ativos financeiros brasileiros poderia ressurgir.

Em meados do ano passado, a credibilidade da condução da política econômica ficou abalada pela percepção de que houve aumento do intervencionismo. Na época, muitos investidores aproveitaram para diversificar os riscos e as aplicações financeiras no exterior apareceram como alternativa.

A diversificação das estratégias de investimento é sempre aconselhável. No entanto, é preciso evitar decisões que impliquem comprar quando os preços estão perto dos pontos máximos. É fundamental entender o cenário para minimizar os riscos.