Cenário para 2018 é de “kit Brasil” capenga

A recuperação dos preços do petróleo e das commodities agrícolas no mercado internacional parece indicar que a economia global continuará aquecida no ano que vem, mesmo com a possibilidade, cada vez mais concreta, de aumento dos juros nos Estados Unidos.

E a Selic ainda alta no Brasil em comparação com os juros praticados no exterior sugere a perspectiva de que recursos externos continuem entrando no país. Essa combinação de fatores tende a pressionar para baixo a cotação do real em relação ao dólar em 2018.

A aposta na valorização do real é um dos três componentes do chamado “kit Brasil”. Os demais são posições visando tirar proveito da alta da bolsa e da queda dos juros de longo prazo.

Hoje é quase consenso que a possibilidade de valorização do Ibovespa e redução ainda mais acentuada dos juros irá depender do resultado das eleições de 2018. E, por consequência, das escolhas sobre o ritmo de condução das reformas que o país irá executar.

O problema é que o grau de incerteza do cenário eleitoral hoje é muito grande. Por exemplo, o próximo evento relevante será o julgamento, marcado para janeiro de 2018, que poderá confirmar, ou não, a condenação do ex presidente Lula e a subsequente decisão de seguir ou abandonar a disputa.

Como não existe nem mesmo uma concordância de quais são os candidatos competitivos, fica impraticável identificar as plataformas e programas de governo que poderiam consolidar a ainda tímida recuperação econômica. Nesse ambiente, a tradicional aposta no “kit Brasil” parece excessivamente arriscada.

Isso porque, apesar das boas chances de valorização do real em relação ao dólar, a alta da bolsa e a queda mais acentuada dos juros se mostram muito atreladas aos desdobramentos da corrida eleitoral. Em 2018, uma alternativa de investimento que pode ganhar força para os investidores com acesso aos produtos oferecidos no segmento de alta renda dos bancos e das plataformas de distribuição são os fundos internacionais com proteção cambial.

KitCapenga

Tratam-se de carteiras que possuem como política de investimento específica a aplicação dos recursos captados em outros fundos negociados no exterior. Estes, por sua vez, têm por objetivo comprar ativos negociados no mercado global.

Os fundos internacionais podem ser compostos por ativos de renda fixa (bonds), renda variável (ações) ou uma combinação de ambos (multiestratégia). As carteiras podem ser amplas ou restritas a ativos de determinados países, regiões, categoria de emissores ou moedas.

Para cada tipo de carteira existe um parâmetro de referência específico. Por exemplo, se o fundo de renda fixa operar no mercado americano, o índice de referência pode ser o Bloomberg Barclays Aggregate Bond TR USD.

Já se for um fundo de ações global, denominado em dólares mas sem as empresas que são negociadas no mercado americano, o índice de referência pode ser o MSCI All Countries World Index ex USA.

Uma característica importante que o investidor brasileiro precisa ficar atento ao escolher um fundo internacional é que existem milhares de índices de referência calculados por dezenas de provedores diferentes à disposição dos gestores. Geralmente o parâmetro escolhido pelo administrador do fundo é indicado no prospecto e nos demais materiais de divulgação.

A despeito da estratégia de investimento estabelecida, para o investidor brasileiro existe o risco da valorização cambial que, dado o cenário para o próximo ano, é alto. Para medir o impacto da valorização do real, considere no ano de 2016 em que o S&P 500 teve valorização de 11,96%. Entretanto o dólar caiu 16,54% em relação ao real, o que teria eliminado os ganhos para o investidor local com aplicação no fundo internacional.

Para solucionar esse problema, as gestoras internacionais passaram a oferecer os fundos no exterior atrelados à uma proteção cambial. Significa que, na prática, o ganho do investidor brasileiro é a variação do certificado de depósito interfinanceiro (CDI) mais a variação do fundo internacional menos o custo da proteção.

Com o objetivo de baratear o custo da proteção e deixar o fundo internacional mais atraente, a operação de proteção é feita no exterior. Nessa estrutura, é como se o investidor brasileiro estivesse fazendo o investimento internacional com um empréstimo. O ganho final da aplicação é a diferença entre o rendimento da carteira internacional menos a taxa “Libor” mais o “spread” de proteção. Isso tudo somado à variação do CDI.

Estratégias de investimento para depois do Copom

Existe consenso de que a taxa Selic será novamente reduzida na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) marcada para semana que vem.

O grande desafio, entretanto, é estimar por quanto tempo os juros permanecerão baixos e tentar estabelecer, com alguma segurança, as estratégias de investimento mais adequadas para o futuro. Para essa tarefa, o investidor pode buscar pistas avaliando as notas das reuniões do Copom, as projeções divulgadas no boletim do Focus e os indicadores do mercado de juros.

Essas três fontes de informação reúnem, respectivamente, a visão da autoridade monetária, as projeções dos economistas das instituições financeiras e as apostas dos operadores para o comportamento do preço dos ativos de renda fixa. A avaliação conjunta desses diferentes pontos de vista aumenta as chances de se conseguir uma boa rentabilidade para as aplicações.

Sem destino certo

Evolução da taxa Selic entre novembro/07 e outubro/17

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Fonte: Banco Central

A última comunicação do Banco Central diz, resumidamente, que a economia está operando com alto grau de ociosidade, o cenário econômico internacional é estável, a inflação corrente está controlada e as projeções para a inflação futura estão abaixo da meta. São essas as razões que tem orientado os cortes na taxa Selic nos últimos meses.

Por seu turno, a média da opinião dos economistas reunida no mais recente boletim Focus aponta para inflação de 4,02% em 2018, com crescimento econômico de 0,73% neste ano e de 2,58% no ano seguinte. No setor externo, as projeções são de saldo ligeiramente deficitário nas transações correntes, mas com superávit comercial e entradas significativas de investimentos estrangeiros diretos no país em 2017 e 2018.

Se o cenário previsto pelos economistas se concretizar, a taxa Selic continuará baixa e a cotação do dólar frente ao Real tende a ficar estável. O esperado crescimento econômico é positivo para o mercado de ações.

E para avaliar as apostas dos operadores, a Anbima, a associação das instituições financeiras, calcula e divulga o que no jargão de mercado é chamado de estrutura a termo das taxas de juros.

Trata-se de um modelo estatístico que tem como objetivo estimar a remuneração esperada para operações prefixadas e indexadas ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em diversos prazos. O parâmetro utilizado é o rendimento de mercado dos vários títulos públicos em circulação.

Os resultados encontrados são transformados em uma equação e representados graficamente. Devido ao formato curvo da linha do gráfico que relaciona cada período com o respectivo rendimento, a estrutura a termo das taxas de juros também é chamada de curva de juros.

Em função dos prazos de vencimento dos títulos, a estimativa para operações prefixadas está limitada a 2.268 dias úteis, que é equivalente a nove anos, assumindo que um ano possua 252 dias úteis. Já para as aplicações indexadas ao IPCA, as estimativas chegam até a 9.324 dias úteis, ou 37 anos.

Os cálculos para as taxas prefixadas descrevem uma linha decrescente e depois ascendente conforme o prazo da aplicação. Os juros são de 7,26% ao ano para resgate em até 21 dias úteis, caem para 6,70% ao ano para vencimentos de 126 dias úteis e começam a subir até atingir 8,23% ao ano para operações de dois anos, 9,15% ao ano para três anos e 10% ao ano para cinco anos.

Já para as aplicações indexadas, a taxa começa em IPCA mais 2,36% ao ano para negócios com resgate em um ano, IPCA mais 4,18% ao ano para vencimento em 3 anos e 4,78% ao ano para cinco anos. Para 10 anos a taxa é de IPCA mais 5,21% ao ano e permanece aproximadamente neste patamar para todos os demais vencimentos.

Outro parâmetro fornecido pela curva de juros é a chamada inflação implícita. Trata-se da diferença entre a taxa prefixada estimada para um determinado período e o juro dos títulos em IPCA com o mesmo prazo de vencimento.

A ideia é comparar a inflação implícita com as estimativas dos economistas. Conforme o caso, é mais rentável investir nos títulos prefixados ou indexados ao IPCA.

Nos últimos 10 anos, entre dezembro de 2007 e novembro de 2017, a taxa Selic oscilou entre a mínima de 7,25% ao ano até a máxima de 14,25% ao ano. No período entre julho de 2008 e maio de 2015, a variação acumulada do CDI em períodos de cinco anos foi menor que 10% ao ano, o atual patamar da taxa prefixada.

Todos esses cálculos possuem um objetivo comum: fornecer os parâmetros para avaliar o potencial de ganhos e perdas das estratégias de investir em títulos atrelados ao CDI, indexar as aplicações ao IPCA ou arriscar no prefixado ou na renda variável.

Conforme o cenário e a tolerância ao risco de cada investidor, as estratégias mais eficientes podem ser estabelecidas.

Maior risco não pressupõe retorno mais elevado

Se tudo acontecer conforme o esperado, daqui a cinco semanas o Comitê de Política Econômica do Banco Central deverá fixar a taxa Selic em 7% ao ano, o menor nível da série histórica iniciada em 1996. A principal dúvida, agora, é estimar por quanto tempo a taxa permanecerá em patamar tão baixo.

O fator determinante para a duração do futuro período de juros reduzidos será o comportamento da inflação. Hoje as previsões apontam para variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 3,1% para 2017 e 4,0% para 2018. Se a inflação nos próximos anos permanecer nesse patamar, a Selic tende a continuar baixa.

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A queda do IPCA foi consequência, em larga medida, da maior e mais prolongada recessão da economia brasileira. Segundo cálculos do Comitê de Datação dos Ciclos Econômicos (Codace), o período de retração começou no segundo trimestre de 2014 e terminou no último trimestre de 2016, provocando queda acumulada de 8,6% do PIB.

Com a recessão houve aumento do desemprego, diminuição dos salários e redução dos gastos empresariais com investimentos. Nesse ambiente, foi difícil reajustar preços ou tentar recompor as margens de lucro.

A recessão também contribuiu para acelerar o ajuste das contas externas. Isso porque a redução da demanda por produtos fabricados no exterior possibilitou ao país continuar acumulando reservas internacionais, o que provocou a queda da cotação do dólar em relação ao real. O dólar mais baixo foi um componente relevante para a queda da inflação.

A consequência negativa do ciclo recessivo foi o desequilíbrio das contas públicas e uma crise política de difícil solução.

É nesse clima que a equipe econômica tenta aprovar as reformas consideradas essenciais para recolocar o país numa trajetória de crescimento sustentável a longo prazo. E manter a inflação controlada, mesmo com a economia crescendo.

Para os investidores o atual cenário é de juros reais, acima da inflação, mais baixos. Se a Selic estacionar em 7% ao ano e a variação do IPCA não ultrapassar 4% ao ano, o ganho real será de aproximadamente 3% ao ano. É uma queda significativa em relação aos 8,8% ao ano registrados nos últimos 12 meses.

A queda dos juros tem estimulado a busca por ativos de risco. A bolsa subiu, os fundos multimercado registram captações expressivas, os negócios envolvendo Certificados de Operações Estruturadas (COE) deram um salto e os fundos imobiliários voltaram a entrar no radar dos investidores.

A premissa por trás desse movimento é que, para ganhar mais, é preciso correr mais risco. De fato, a avaliação empírica do comportamento das diversas classes de ativos financeiros mostra que ganhos maiores estão associados a oscilações maiores.

Tome o caso dos fundos de ações, a categoria mais rentável no ano. Todos registraram perdas expressivas no dia 18 de maio, quando foi divulgado o conteúdo da delação dos principais executivos do grupo JBS.

Houve casos de prejuízos de até 30% no dia que demoraram quatro meses para serem recuperados. No entanto, passada a pior fase, a rentabilidade acumulada no ano é altamente positiva.

A observação descuidada do desempenho dos ativos financeiros pode passar a ideia de que basta assumir mais risco para conseguir retorno mais elevado. Na edição de agosto / setembro de 2017 da revista Morningstar, Paul D. Kaplan desmistifica essa ideia.

Para o especialista a origem da confusão é a interpretação equivocada dos resultados obtidos nos modelos de otimização de carteira. A base teórica para encontrar a combinação mais eficiente entre risco e retorno é fundamentada nas ideias desenvolvidas por Harry Markowitz, considerado um dos mais importantes teóricos de finanças.

A hipótese é que, dada a rentabilidade passada e a oscilação do preço de cada ativo financeiro, é possível estabelecer as combinações mais eficientes entre todas as opções disponíveis. A única premissa é que, para um dado nível de retorno, o investidor sempre irá preferir a alternativa menos arriscada.

A partir daí é possível criar conjuntos de carteiras com o maior retorno possível para cada patamar de risco. No entanto, como os dados são calculados com base na variação histórica dos ativos, não é possível fazer uma extrapolação direta para o comportamento futuro.

Essa sensibilidade é fundamental. Para ter retorno mais alto é preciso correr mais riscos. Mas simplesmente investir em ativos mais arriscados não é garantia de maior retorno.

Controlando atalhos mentais e mantendo a racionalidade

Nem sempre as pessoas agem de maneira racional, ponderando cuidadosamente todos os pontos positivos e negativos antes de tomar uma determinada decisão. Com esse argumento simples, Richard H. Thaler conseguiu abalar muitos alicerces da teoria econômica e suas pesquisas lhe garantiram o prêmio Nobel de economia deste ano.

Thaler e Daniel Kahneman, outro vencedor da condecoração, desenvolveram conceitos e procuraram explicar as situações em que tendemos a agir de forma quase irracional. Com o passar do tempo, as ideias dos pesquisadores acabaram sendo incorporadas nas práticas do mercado financeiro.

A premissa é que sofremos de um problema cognitivo toda vez que precisamos tomar uma decisão que está fora do nosso escopo de habilidades. Ou, então, nos momentos em que não temos muito tempo para analisar profundamente o assunto.

Significa que quando estamos diante de certas situações, apesar de sermos inteligentes e buscarmos sempre a melhor configuração entre custos e benefícios, avaliando os diversos pontos de vista de maneira fria e lógica, acabamos nos perdendo no meio do caminho. A consequência é que nos embrenhamos por atalhos mentais que levam a resultados danosos.

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Os exemplos de vieses comportamentais elencados pelos especialistas são sempre divertidos e provocam empatia. Thaler, por exemplo, descreve o alívio geral quando retirou da mesa um pote de castanhas que seus convidados não conseguiam parar de comer, apesar de terem a consciência de que a atitude acabaria com o apetite para o jantar. Kahneman, por sua vez, usa o exemplo dos torcedores que incentivam o jogador de basquete que acertou quatro cestas de três pontos consecutivamente a tentar mais uma jogada, a despeito de sabermos o quanto é improvável cinco lances seguidos no alvo.

Esses tipos de comportamento são inerentes ao ser humano e podem ser explicados psicologicamente. A criatividade dos pesquisadores foi unir esse arcabouço teórico ao funcionamento da economia e das finanças.

Thaler deu um passo além ao propor ações pragmáticas. Já que não temos condições de analisar minuciosamente todas as alternativas, é natural imaginar que precisamos de um empurrãozinho para tomar as decisões mais acertadas.

Nessa linha, nos países com tradição mais liberal, foram criados grupos de trabalho para desenvolver ações que incentivassem as pessoas a fazerem a coisa certa.

Vem daí a ideia de adotar como padrão a opção do trabalhador de participar de um fundo de previdência oferecido pela empresa. Ou de colocar as frutas na altura dos olhos das crianças na cantina escolar, deixando os salgadinhos fora da vista.

No Brasil, devido à nossa tradição mais intervencionista, esse tipo de discussão sobre a regulamentação acaba tendo interesse mais teórico do que prático. Afinal, nos planos de previdência oferecidos pelas empresas, se não houver uma certa adesão mínima dos funcionários, os aportes corporativos não são dedutíveis do imposto de renda da pessoa jurídica. Outro exemplo é o FGTS, em que o trabalhador e a empresa são obrigados por lei a investir no fundo, mesmo com a remuneração sofrível.

A crítica mais contundente aos modelos desenvolvidos pelos teóricos da economia comportamental refere-se ao argumento de que o arcabouço está relacionado a um conjunto de técnicas de persuasão.

A argumentação é que os vieses cognitivos existem para serem explorados. Especialmente no mercado financeiro, onde os produtos são naturalmente complexos.

Tome o caso de um consórcio e tente avaliar até que ponto deve-se contar com a sorte para ser contemplado com o bem mais rapidamente. Ou do título de capitalização, onde existe a chance ganhar um bom dinheiro a partir de depósitos mensais pequenos.

Não fica bem certo quem deve dar um empurrão para as pessoas comprarem ou evitarem determinados produtos financeiros.

Mesmo as modalidades mais sofisticadas estão sujeitas a avaliações que podem ser carregadas de vieses. O que dizer do desempenho futuro de um fundo de investimento que conseguiu quatro trimestres consecutivos de ganhos acima da média? É o caso de aplicar mais recursos ou realizar os ganhos?

Em diversas situações é tentador apelar para os vieses cognitivos e tentar provar que o investidor comum não é capaz de entender todas as nuances do produto financeiro proposto.

Na dúvida, é prudente apelar ao bom senso. Se você não entende o funcionamento de uma determinada modalidade de investimento, não compre. Mas sempre vale a pena investir para conhecer. Até mesmo contratando um especialista independente para fazer as análises.

Condicionamento operante para investir no Ibovespa

Mesmo com a crise política, sinais ainda frágeis de recuperação econômica e lucro por ação das companhias abertas abaixo da média histórica, o Ibovespa atingiu o recorde de 76 mil pontos no pregão do dia 18 de setembro.

A aposta predominante é que a queda dos juros, a condução austera da política econômica e a falta de um substituto para viabilizar o possível afastamento do presidente Temer para que as denúncias oferecidas pela Procuradoria Geral da República sejam apuradas levarão a uma transição com relativamente poucos solavancos até a posse do novo governo em 2019.

No ambiente externo, o consenso é que a estabilidade da inflação em patamares muito baixos, mesmo com todo o aumento da oferta monetária promovida pelos bancos centrais dos países desenvolvidos, continuará postergando a alta das taxas de juros pelo mundo. E a ameaça nuclear da Coreia do Norte ainda é vista com certo desdém.

Neste cenário menos racional e mais emocional, os aspectos psicológicos ganham importância para explicar o rumo dos investimentos no mercado financeiro. O risco, em contrapartida, é surgir um certo condicionamento para aceitar que a alta das bolsas e demais ativos de risco seria um fenômeno natural e inevitável.

Um dos campos da economia comportamental é o estudo de como os estímulos influenciam nossas atitudes. Esse tipo de análise é usado, principalmente, para identificar e tentar prever o comportamento do consumidor.

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A ideia é que para um determinado estímulo, existirá uma resposta que poderá ser reforçada por um outro estímulo. Isso ocorre de forma planejada com o objetivo de, por exemplo, aumentar a eficácia das vendas.

O pesquisador Gordon R. Foxall desenvolveu um arcabouço teórico que chamou de modelo de perspectiva comportamental, BPM na sigla em inglês. A base da argumentação é que é possível influenciar o comportamento do consumidor por meio do desenvolvimento de diversas relações que, na psicologia, se chama de condicionamento operante.

Resumidamente, a teoria descreve que por meio de uma combinação de estímulos chamados de reforços e punições, positivos e negativos, é possível moldar um determinado comportamento.

Para entender o conceito, imagine que o objetivo de uma determinada ação seja fazer com que as pessoas dirijam de maneira segura. O reforço positivo é a recompensa que a pessoa recebe se agir conforme o objetivo proposto.

Nesse exemplo, a economia de combustível que será conseguida se o motorista respeitar as velocidades sugeridas será um reforço positivo. É um ganho financeiro palpável.

Já o reforço negativo é a eliminação de algo desagradável caso a atitude correta seja tomada. No exemplo isso ocorre quando o motorista afivela o cinto de segurança e o som desagradável do apito disparado pelo sistema de segurança do veículo é eliminado.

A punição positiva é quando uma multa é aplicada por excesso de velocidade. E a punição negativa acontece quando a carteira de motorista é cassada após uma série de infrações graves e a pessoa fica proibida de dirigir.

A partir da aplicação destes conceitos, os especialistas em economia comportamental desenvolveram uma série de análises para definir modelos de comportamento. Muitas delas podem ser aplicadas ao mercado financeiro.

A recente alta do Ibovespa, de quase 100% desde 31 de janeiro de 2016 pode ser encarada como um reforço positivo. A rentabilidade passada das aplicações tem um forte poder de atração de novos recursos e de alimentar novas altas do mercado.

Um exemplo de reforço negativo é o fim da restrição para aplicação em um fundo rentável. Isso ocorre principalmente nos fundos multimercados, quando carteiras que estavam fechadas para aplicações reabrem ou quando produtos antes restritos a clientes institucionais passam a ser oferecidos nas plataformas de varejo dos distribuidores.

O investidor que sacou recursos da bolsa nos momentos de baixa do mercado tende a encarar a alta recente como uma punição positiva, já que amargou uma perda que poderia ter evitado.

E quando o Banco Central reduz a taxa Selic, a queda da remuneração das aplicações indexadas aos juros de curto prazo (CDI ou Selic) pode ser vista como uma punição negativa. O investidor deixa de ter a possibilidade de obter ganhos elevados e com baixo risco.

Nesse atual ambiente de incertezas, é prudente tomar cuidados extras e delegar parte da gestão dos recursos a um administrador profissional. Tentar acertar os altos e baixos do mercado parece excessivamente arriscado.

Alta do Bitcoin realça demais ativos virtuais

Imagine que você acumulou uma pequena fortuna comprando o equivalente a R$ 5 mil em bitcoins em janeiro de 2013 e hoje seu investimento valha cerca de R$ 10 milhões. Qual a melhor estratégia daqui para frente?

Se resolvesse seguir as recomendações de um consultor financeiro, a decisão seria diversificar os investimentos. É essa lógica que começa a movimentar os negócios com ativos virtuais no mundo.

Um mercado vibrante de ofertas iniciais de moedas (ICOs na sigla em inglês) vem sendo desenvolvido progressivamente. Segundo reportagem da revista “The Economist”, montante equivalente a mais de US$ 2 bilhões foi alocado nessas modalidades desde 2013.

As moedas virtuais vendidas em oferta pública são, na verdade, um meio de pagamento que serve para comprar os produtos e serviços comercializados pelas companhias que emitiram esses ativos. São chamadas, também, de “tokens”.

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Para entender a mecânica, considere uma empresa interessada em gerar energia elétrica a partir da utilização de painéis solares. A companhia poderia, em tese, emitir uma moeda virtual, por exemplo o solar, que seria usada apenas para aquisição da energia produzida pela própria empresa.

Se o projeto efetivamente der certo e a demanda por energia renovável subir, o solar tende a valorizar. E os investidores que compraram a moeda na oferta inicial realizariam um lucro expressivo.

Para a empresa, a vantagem é fazer uma pré venda da energia futura que ainda não foi produzida. E usar os recursos captados para financiar a empreitada.

Se a emissão da moeda virtual da companhia elétrica fosse trocada apenas por bitcoins, sem o envolvimento de moedas tradicionais tais como o real ou o dólar, é provável que os órgãos reguladores tivessem pouco poder para regulamentar a transação. Isso ocorreria tanto com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) do Brasil quanto a Securities and Exchange Commission (SEC) dos EUA.

Potencialmente, um mundo financeiro diferente, mais acessível e menos regulamentado poderia surgir em decorrência do crescimento do mercado de moedas virtuais. Qualquer investidor que se interessasse pelo projeto de uma determinada empresa poderia comprar ativos virtuais emitidos por essa companhia.

Conceitualmente, a forma de financiamento da operação da companhia elétrica hipotética não é nada inovadora. Estruturas financeiras envolvendo a antecipação de receitas futuras para viabilizar a captação de recursos para o desenvolvimento de um empreendimento são relativamente comuns no mercado de capitais.

O que promete ser revolucionário é a ampliação do acesso a esse tipo de operação para empresas e investidores de maneira generalizada. A expectativa dos futuristas é de um amplo processo de desintermediação institucional.

Isso seria possível a partir da chamada internet dos valores e da tecnologia “blockchain”. Para discutir o assunto, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo organizou o evento “Revolução Blockchain”, no fim de agosto.

O encontro trouxe Don Tapscott, considerado um dos pensadores mais influentes do mundo, que apresentou sua visão otimista sobre os impactos do blockchain. Para o especialista, os governos podem ter um papel ativo na defesa da privacidade dos cidadãos difundindo o uso da nova tecnologia.

Hoje, ao realizarmos qualquer transação na internet vamos deixando rastros pelo caminho. Essas informações são coletadas e apropriadas pelas empresas gigantes do setor de tecnologia, tais como Facebook, Google e Amazon, que lucram com esses dados.

No relacionamento entre governos e cidadãos, o blockchain acena com uma forma mais eficiente e rápida na prestação de contas. Ou mesmo na execução de políticas públicas.

Empresas que processam pagamentos, bancos e demais instituições financeiras estão empenhados em entender e desenvolver aplicações para o blockchain. No mínimo para entender os impactos da nova tecnologia e adaptarem seus negócios a tempo.

Nesse ambiente futurista, otimista e pouco regulamentado, o investidor deve ter cautela com as promessas de ganhos rápidos e estratosféricos com as moedas virtuais. A rentabilidade passada tem sido um forte atrativo para convencer os mais céticos.

A maioria dos investidores perdeu a oportunidade de lucrar com a alta do bitcoin. Agora, a lista de ativos virtuais que se apresentam como alternativas para recuperar o ganho que ficou para trás aumenta dia a dia.

Entretanto é prudente seguir o exemplo dos bancos e, antes de investir em qualquer moeda virtual, entender profundamente os impactos reais do blockchain para os investimentos.

Retorno do investidor é diferente de ganho do fundo

Quase dois terços dos fundos de ações registraram rentabilidade acima do Ibovespa no período de janeiro a julho deste ano, conforme indicado pelos mais variados rankings.

A análise de uma amostra mais específica, reunindo 261 carteiras com um mínimo de 100 cotistas, patrimônio líquido acima de R$ 50 milhões e potencialmente acessíveis aos investidores, indica que a média de ganho dos fundos foi 2,7 pontos percentuais superior à variação do principal indicador da bolsa brasileira.

Apesar do excepcional desempenho obtido pelo conjunto de gestores, uma boa parte dos cotistas desses fundos não conseguiu os mesmos retornos listados nas tabelas de rentabilidade. De forma surpreendente, o ganho percebido por diversos investidores foi menor do que o apresentado pelas carteiras.

Do ponto de vista prático, quando analisaram os extratos dos investimentos, muitos perceberam que o desempenho das aplicações foi inferior ao que foi divulgado pelo fundo. A falta de entendimento sobre essa defasagem pode gerar insegurança a respeito da conveniência de manter a aplicação.

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A explicação para a diferença de rendimentos está relacionada com o momento em que o investidor tomou a decisão de aplicar em determinada carteira. Como a rentabilidade passada é um forte chamariz para atrair mais investidores, um volume grande de aplicações tende a ocorrer após um período de maior rentabilidade do fundo.

Essa é a regra geral. Apesar de todas as ressalvas, o desempenho anterior estimula o aumento da captação de recursos para a carteira.

Imagine o caso prático de um fundo que teve excelente desempenho no primeiro trimestre do ano. Com o destaque conseguido em função da divulgação dos números de rentabilidade, o esperado é que ele atraia mais recursos nos períodos seguintes.

Entretanto, como o desempenho dos gestores tende a ser cíclico, é provável que a rentabilidade no restante do ano acabe sendo inferior àquela que foi obtida no primeiro trimestre, em termos relativos. Nesse caso, para o desconforto dos novos investidores, o pior desempenho acontece justamente durante os meses em que o fundo captou mais recursos.

Boa parte dos investidores fica, então, com a sensação de que tomou a decisão de aplicar no momento errado. Sem parâmetros e na falta de uma análise consistente, há o risco de escolhas erradas.

Existe um padrão para estimar o retorno do investidor em fundos de investimento. Segundo a metodologia usada pela Morningstar, o objetivo é calcular uma taxa de retorno que igualaria o patrimônio final do fundo conforme divulgado nas demonstrações contábeis, a partir do patrimônio inicial e considerando todos os fluxos de captação e resgates.

Feitas as contas para os fundos de ações integrantes da amostra anteriormente definida, constata-se que a diferença média entre o retorno do investidor e a rentabilidade dos fundos no período de janeiro a julho deste ano foi negativa. De fato, os fundos mais rentáveis atraíram mais recursos, mas não conseguiram manter o bom desempenho após o aumento do patrimônio.

A média da diferença entre o retorno do investidor e o ganho dos fundos foi de -3,9 pontos percentuais. A mediana, uma estatística que busca amenizar os efeitos extremos, foi de -2,1 pontos percentuais.

O fato de o retorno do investidor ser menor do que o desempenho do fundo no período completo não é, necessariamente, negativo. Desde que os ganhos totais do investidor superem os principais índices de referência do mercado, esse custo pode ser suportável.

Mas não foi o que aconteceu no período analisado. A diferença entre a média do retorno do investidor e a rentabilidade do Ibovespa foi de -1,2 pontos percentuais.

De forma intrigante, apesar da média do retorno dos fundos ter superado com folga o rendimento do Ibovespa, o retorno médio do investidor em fundos foi inferior ao indicador.

A maneira consistente de encarar a diferença entre o retorno do investidor e o ganho dos fundos é reavaliar periodicamente os objetivos do investimento. Além de escolher um bom fundo de um gestor confiável, é fundamental manter bem definido o motivo daquela aplicação financeira.

É natural que os fundos mais rentáveis acabem se destacando e chamando a atenção. Mas em vez de admirar a capacidade do gestor, mais importante é identificar como aquele fundo pode ser útil para compor a estratégia global da carteira.

Bitcoin e “blockchain” desafiam os investidores

O ativo financeiro virtual mais famoso da internet é o bitcoin. Por meio de uma tecnologia chamada “blockchain”, todas as transações envolvendo bitcoins são registradas eletronicamente numa espécie de livro caixa criptografado.

A principal característica do mecanismo é que o registro dos negócios não é centralizado ou administrado por uma única instituição. O histórico das transações é armazenado em blocos que somente se encaixam se for utilizada certo tipo de chave.

E para haver a efetiva liquidação das operações, a cadeia de transações deve ser validada pelos demais participantes do mercado, que precisam confirmar a veracidade da chave divulgada. O desenvolvimento dessa intrincada engrenagem é atribuído a uma pessoa – ou a um grupo – que usou o pseudônimo de Satoshi Nakamoto.

Na prática a tecnologia do “blockchain” implica mudança significativa na forma como a internet pode ser utilizada. Em vez de distribuir e compartilhar informações, passa ser possível a transferência eletrônica da propriedade de ativos.

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Por essa razão, a expectativa é que, no futuro próximo, será construída uma internet dos valores. Nesse novo ambiente, ao enviar um arquivo contendo determinado código, a propriedade do bem será automaticamente transferida.

É possível imaginar diversos usos para a tecnologia, tais como operações no mercado financeiro, transações de comércio internacional e a compra e venda de imóveis.

Concretamente, hoje já existem 16,5 milhões de bitcoins no mercado. Por construção, o estoque máximo de bitcoins emitidos será de 21 milhões.

Até que o número limite seja atingido, os verificadores das transações, chamados no jargão do mercado de mineradores, podem criar bitcoins conforme o volume de cálculos executados. A rede de mineradores é que garante o processamento das transações e o crescimento do mercado.

Ninguém foi capaz, pelo menos por enquanto, de invadir o sistema para criar bitcoins falsos. Isso tem garantido a confiança na segurança da estrutura e atraído novos participantes.

Nas operações bancárias tradicionais, o banco é a instituição responsável pelo controle do livro caixa das transações. E cobra tarifas por esse serviço.

Por exemplo, para enviar um TED ou DOC, o banco exige o pagamento de determinada remuneração. O mesmo acontece para manter a conta corrente ativa e emitir extratos.

As operadoras de cartão de crédito também cobram para processar as transações entre lojistas e consumidores. O mesmo acontece com as bolsas de valores e de mercadorias para administrar a posição de cada investidor.

Em algumas transações os custos podem ser tão altos a ponto de inviabilizar as operações de pequeno montante, como no caso das transferências internacionais de valores financeiros.

Uma das ideias do bitcoin, portanto, é baratear os custos das transações. A consequência pode ser o aumento no volume de negócios.

Por exemplo, um desenvolvedor de softwares no Brasil pode contratar os serviços de um programador na Ucrânia e pagar pelo trabalho por meio da transferência de bitcoins. Nessa situação o bitcoin é usado como um meio de troca.

Considerando que a atual estrutura da internet já viabiliza a troca de arquivos sem barreiras geográficas, o uso em larga escala do bitcoin teria o efeito de estimular o comércio global de bens e serviços.

Dado que o bitcoin possui cotação tanto em dólares quanto nas demais moedas mundiais, o programador ucraniano do exemplo poderia optar por manter parte de sua remuneração recebida do desenvolvedor brasileiro em bitcoins, como uma poupança. Nesse caso o bitcoin também teria a função de reserva de valor.

Por fim, a decisão do programador ucraniano poderia ser a de gastar parte dos bitcoins na compra de produtos e serviços para serem consumidos no dia a dia.

Mas, nesse caso, a tarefa seria mais complicada. Apesar de existirem formas de se gastar os bitcoins, a incerteza em relação ao valor real de um produto ou serviço com preço denominado em bitcoins é muito alta. Por isso, o bitcoin ainda não serve como uma unidade de conta.

Mesmo não sendo uma moeda, o bitcoin possui um valor especulativo. A cotação de um bitcoin saltou de pouco menos de US$ 300 em julho de 2015 para cerca de US$ 2 mil em julho deste ano.

Para negociar os bitcoins, vale o alerta: como em todo investimento especulativo, é fundamental conhecer os riscos envolvidos e ficar atento para não ser o último a sair.

Como usar fundos de investimento para aumentar o retorno

Desde junho de 2013, o Brasil vive ciclos de instabilidade política, manifestações populares e as consequências das investigações no âmbito da operação Lava Jato.

No lado real da economia, o país entrou na pior recessão da história e registra taxas recordes de desemprego. Nesse período de turbulências, a variação dos principais ativos financeiros foi intensa.

Após oscilar na faixa entre R$ 2,14 e R$ 2,40 até outubro de 2014, o dólar atingiu a máxima de R$ 4,12 em setembro de 2015. A cotação voltou a cair até a mínima de R$ 3,08 em fevereiro de 2017 e agora a moeda é negociada no patamar de R$ 3,30.

Já o Ibovespa, o principal indicador da bolsa, oscilou na maior parte do tempo entre 45 mil e 55 mil pontos até chegar à mínima de 38 mil pontos em janeiro de 2016. Depois, marcou a máxima de 68 mil pontos em fevereiro de 2017 e atualmente está no patamar de 62 mil pontos.

A taxa Selic, por sua vez, subiu de 8% ao ano para 14,25% ao ano até outubro de 2016, quando o Banco Central iniciou o período de redução dos juros. A taxa básica atualmente está em 10,25% ao ano e a previsão é de mais cortes pela frente.

Longe dos Emergentes

Nesse ambiente extremamente volátil, é natural que o investidor busque ajuda dos profissionais do mercado financeiro para ter maior segurança em suas decisões. No entanto, mais importante do que correr atrás da rentabilidade, é fundamental estabelecer uma estratégia consistente.

Para exemplificar como a instabilidade afeta os ativos financeiros, considere o desempenho dos fundos de investimento classificados na categoria multimercado. As carteiras possuem ampla liberdade para escolher os ativos potencialmente mais rentáveis. Os gestores trabalham com as variações da taxa de juros, Ibovespa e dólar, além de ativos negociados no exterior.

Entre junho de 2013 e junho de 2017, a rentabilidade de uma aplicação indexada à variação do certificado de depósitos interfinanceiros (CDI) foi de 58%. Essa é a modalidade mais tradicional do mercado e acessível a praticamente todos os investidores, com diferenças de remuneração conforme a instituição ou o produto financeiro selecionado.

Já a mediana do retorno dos principais fundos multimercado com histórico completo para o período foi um pouco maior, de 59%. Na linguagem do mercado, a mediana do retorno dos fundos foi de 102% do CDI. Os dados são da Morningstar e incluem o total de 217 carteiras.

A dispersão de rentabilidade foi grande. O melhor fundo multimercado teve rentabilidade de quase 100%, equivalente a 172% do CDI. O pior apresentou rendimento de 33% no período, pouco menos de 60% do CDI.

Avaliando o desempenho passado, é possível concluir que além de habilidade ou sorte para escolher as melhores carteiras, o investidor precisou manter a calma e o sangue frio. Todos os melhores fundos passaram por períodos relativamente longos de rentabilidade sofrível.

Entre os fundos de ações a história não foi muito diferente. A rentabilidade do Ibovespa foi de apenas 14% no intervalo analisado, aproximadamente igual à mediana do retorno de 237 fundos de ações.

A diferença para os multimercados é que a dispersão da rentabilidade dos fundos de ações foi maior. A pior carteira teve prejuízos de 30% e a melhor teve ganhos de 80%. Foram desconsiderados os fundos que foram liquidados ao longo do período.

A lição que fica é que não basta correr mais risco para, necessariamente, obter mais retorno no longo prazo. O período de quatro anos é relativamente longo e ainda assim muitas carteiras arriscadas tiveram prejuízo.

Outro aspecto relevante é que, muitas vezes, o desempenho de fundos da moda acaba se mostrando inconsistente ao longo do tempo. O argumento de que um gestor brilhante decidiu montar sua própria “asset” independente e o investimento é uma oportunidade única deve ser avaliado com cautela.

Por uma série de razões que não tem relação com a capacidade individual, fundos de bons gestores podem não conseguir a rentabilidade almejada. Na dúvida, é recomendável agir com prudência.

O ponto positivo é que os fundos de investimento que possuem uma estratégia sólida e possível de ser compreendida são excelentes oportunidades de diversificação. Mas para identificar um bom fundo, o investidor precisa ter a sua própria estratégia.

O primeiro passo é estabelecer o horizonte de investimento. Em seguida, definir o percentual da carteira que será alocado em renda fixa ou variável. Depois, elencar os tipos de ativos e indexadores que farão parte do investimento.

A partir daí é possível selecionar os fundos mais adequados para a execução da política de investimento estabelecida.

Investir se tornou negócio mais arriscado após Lava Jato

A forte alta do dólar em relação ao real e a queda expressiva do preço das ações e dos títulos públicos brasileiros em 18 de maio, um dia depois que o presidente Michel Temer foi envolvido em acusações pela JBS, marcou o ápice de uma marcha que começou em março de 2014.

Desde que a Operação Lava Jato inaugurou a fase ostensiva, investir no Brasil passou a ficar cada vez mais arriscado.
Uma das maneiras de estabelecer o risco dos ativos financeiros é medir o grau da oscilação diária dos preços.

Ao aplicar hoje num título de renda fixa vinculado aos juros de curto prazo, por exemplo, a expectativa é que no fim de um ano a rentabilidade atinja por volta de 8,6%. A variação diária é bem pequena e, no fim, a acumulação das taxas tende a garantir o retorno próximo ao esperado.

Já o investimento na Bolsa é muito menos previsível. A rentabilidade diária do Ibovespa, o principal índice do mercado brasileiro, pode facilmente ultrapassar a marca de 1%, para cima ou para baixo.

A consequência é que, no fim do período de um ano, o rendimento total da aplicação em ações pode ser muito diferente do que foi originalmente imaginado. O risco está associado à dificuldade de prever a rentabilidade futura.

Os especialistas do mercado financeiro desenvolveram um método para estimar o risco dos ativos, conhecido no jargão como volatilidade. Por esse critério, é possível comparar diferentes riscos nos mais variados mercados.

ArteVolMSCI

Até o começo de 2014, a volatilidade do mercado de ações no Brasil era, em média, 50% maior do que nos demais países emergentes. Desde março de 2014, essa diferença vem aumentando e atingiu o pico de sete vezes em 18 de maio. Além da intensificação da Lava Jato, houve uma eleição apertada, o impeachment e a troca do governo nesse período.

A redução do risco político é fundamental para reduzir as surpresas com os ganhos das aplicações financeiras.

Artigo originalmente publicado na Folha de São Paulo