Ninguém segura a poupança

Em janeiro de 2014, a captação líquida da caderneta de poupança caiu 24% em relação ao mesmo período do ano passado. E o número de dias que registraram resgates maiores do que aplicações foi duas vezes maior do que os dias com captação positiva, igualando o pior desempenho para o mês, ocorrido em 2012.

Mesmo assim, os dados apontam que o volume mensal de depósitos foi de R$ 128 bilhões, o que representa crescimento de 13% sobre janeiro de 2013. E o saldo da aplicação chegou a R$ 603 bilhões, aumentando 20% no período.

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Com esses números iniciais e as turbulências do mercado, é possível que a poupança caminhe para um novo recorde de captação em 2014. Se é uma notícia boa ou ruim para o financiamento da dívida pública, ainda é um assunto em aberto.

Mas se os juros continuarem altos, os fundos DI devem superar o rendimento da caderneta, mesmo consideranddo o Imposto de Renda.

Defasagem entre CDI e Selic afeta R$ 1,4 trilhão em ativos

Nos primeiros nove meses de 2013, a rentabilidade média diária do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) foi equivalente a 96,4% da meta para a taxa Selic. No passado, os dois indicadores eram quase equivalentes.

O CDI é a base para a remuneração de aproximadamente 80% dos títulos privados em circulação no mercado, um montante de cerca de R$ 1,4 trilhão. A estimativa foi feita a partir dos dados do boletim mensal de renda fixa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Aberto e de Capitais (Anbima).

Já faz algum tempo que o mercado interbancário com lastro em depósitos interfinanceiros perdeu a representatividade. Atualmente são realizadas apenas dez operações diárias e nada indica que o volume de negócios irá aumentar a curto prazo.

Paradoxalmente, a emissão de títulos privados com remuneração indexada ao CDI tem crescido. Isso aconteceu porque, entre outras razões, novos instrumentos tais como LCIs e LCAs ficaram mais acessíveis aos investidores.

Além disso, o mercado de contratos futuros de DI negociados na BM&FBovespa passou a ser um parâmetro relevante para as decisões de política monetária. O setor privado e as autoridades monitoram de perto as transações com os derivativos.

Um ambiente em que poucos negócios influenciam de forma desproporcional a remuneração de enorme volume de transações financeiras preocupa. Na pior das hipóteses, a estabilidade do mercado financeiro poderia ser abalada.

Na semana passada, a defasagem do CDI diminuiu. Nos dias 9, 10 e 11 de outubro a relação para a meta da taxa Selic ficou acima de 98%. No entanto, ainda não há explicações concretas para esse movimento, conforme apontaram Angela Bittencourt e Lucinda Pinto no blog Casa das Caldeiras.

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Do ponto de vista pragmático, é cedo para avaliar se a defasagem entre CDI e Selic vai ser reduzida. De qualquer maneira, é prudente que o investidor leve em consideração que existe essa diferença no momento de estimar os ganhos potenciais das aplicações.

Assumir, por exemplo, que um fundo de investimento conservador renderá Selic menos a taxa de administração é um excesso de simplificação. No atual ambiente, é fundamental conhecer a forma de gestão da carteira para avaliar os riscos e a adequação da aplicação.

Mesmo prejudicados pelo descolamento do CDI em relação à Selic, há fundos referenciados DI no mercado com boa rentabilidade e que conseguem superar a poupança. Em setembro, por exemplo, foram 76 dentre 175 carteiras não exclusivas, potencialmente disponíveis para aplicação, com patrimônio líquido maior que R$ 10 milhões e mais de 100 cotistas.

Apesar de não ser a única característica a ser levada em consideração, o patamar da taxa de administração é importante. No caso dos fundos DI com melhor desempenho, a taxa média era de 0,4% ao ano.