A maneira ideal para diversificar as aplicações financeiras

O cenário de bolsa subindo com juros e dólar caindo é um forte incentivo para sair das tradicionais aplicações indexadas ao Certificado de Depósitos Interfinanceiros (CDI).

Bancos e corretoras tem sido ágeis em oferecer aos investidores opções para diversificar a carteira. Mas, muitas vezes, as ofertas são caras ou complexas.

Entre as diversas alternativas, as que mais têm chamado a atenção no momento são as aplicações em ações, títulos de renda fixa, fundos de investimento com estratégias agressivas e modalidades envolvendo os Certificados de Operações Estruturadas (COE).

Mas é preciso cautela para compreender os perigos envolvidos em cada opção. O simples aumento do risco da carteira não implica, necessariamente, maior rentabilidade.

Como regra geral, a diversificação das aplicações financeiras é positiva. Isso porque tem o potencial de proporcionar maior retorno e, ao mesmo tempo, diminuir a oscilação dos ganhos.

A ideia é que se determinado investimento tiver prejuízo num certo período, a rentabilidade dos demais ativos compensará aquela perda. Ao longo do tempo, a média do rendimento do conjunto das aplicações tenderá a ser favorável.

No entanto, para que estratégia funcione, é preciso evitar ativos cujas cotações subam e desçam todas ao mesmo tempo e com a mesma intensidade. No jargão de mercado, os ativos devem ter correlação baixa.

Suponha que você queira diversificar investindo em dois fundos de investimento multimercado que sigam, rigorosamente, o “kit Brasil”. Significa que ambos possuem partes da carteira comprada em títulos prefixados, vendida em dólar e aplicada em bolsa.

Como os dois fundos seguem a mesma política de investimento, não há diversificação. Se um fundo tiver prejuízo, o outro também registrará perdas.

Nesse caso hipotético é preferível concentrar a carteira, escolhendo somente um fundo. A diversificação produz apenas complexidade para o controle das operações.

Outra vantagem da diversificação é estabelecer alocações estratégicas, visando alcançar os objetivos de longo prazo. Um exemplo é a poupança para a aposentadoria.

É razoável manter parte dos investimentos destinados à aposentadoria em aplicações atreladas ao índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Isso garante a manutenção do poder de compra no futuro.

Ao destinar parcela da poupança para títulos tais como as Notas do Tesouro Nacional da série B (NTN-B) o investidor garante que o capital será corrigido pela inflação mais uma determinada taxa de juros. É uma forma de tentar atingir a independência financeira de maneira mais segura.

A diversificação também é interessante para aproveitar oportunidades de curto prazo. No jargão, essa forma de investir é chamada de alocação tática.

Considere o cenário atual de queda de juros e alta da bolsa que vem ocorrendo a despeito de todos os problemas políticos e econômicos do país. Apesar das incertezas envolvendo conjecturas sobre o potencial de crescimento dos lucros das empresas e a sustentabilidade da queda dos juros, existe uma oportunidade de ganhos no curto prazo.

Para tentar lucrar nesse ambiente mais otimista, a recomendação é investir em títulos prefixados e em ações negociadas na Bovespa.

Nos últimos meses o retorno tem compensado os riscos. O gráfico ilustra a rentabilidade e a volatilidade dos principais indicadores de mercado nos últimos 12 meses.

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Além do CDI, estão destacados outros quatro indicadores. O IRF-M e o IMA-B são índices que medem o comportamento de uma carteira de títulos públicos prefixados e uma cesta de NTN-Bs, respectivamente. A variação do dólar em relação ao Real e o desempenho do Ibovespa também estão assinalados no gráfico.

O retorno é medido no eixo vertical e o risco no eixo horizontal. A leitura do gráfico indica que, no período analisado, os ativos mais arriscados tiveram rentabilidade mais elevada. A exceção foi o dólar.

Em termos práticos, o investidor possui duas maneiras de diversificar os investimentos: por meio de bancos ou de corretoras.

Nos bancos, a tendência é que o investidor encontre pacotes fechados, sem muita possibilidade de ajustes das alocações para atender necessidades específicas. Além disso, os custos das alternativas oferecidas tendem a ser mais elevados.

Nas corretoras, é possível montar uma carteira individualizada. Mas é preciso possuir conhecimentos sobre as operações para evitar armadilhas e prejuízos.

Dependendo do perfil do investidor, ambas as possibilidades são recomendáveis.

A volta do lucro com os títulos longos

A alta dos juros nos últimos 18 meses, decorrente de ajustes para combater a inflação e adaptar a economia brasileira ao novo ambiente internacional, provocou um estrago na carteira dos investidores em títulos públicos de longo prazo.

No período entre o fim de janeiro de 2013 e o começo de fevereiro de 2014, o prejuízo causado pelos papéis que fazem parte do IMA-B chegou a quase R$ 100 bilhões. O indicador acompanha o valor de mercado das NTN-Bs, indexadas à inflação.

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A carteira do IMA-B é da ordem de R$ 700 bilhões e foi a mais prejudicada pela subida das taxas. A razão é o prazo médio dos títulos, de aproximadamente sete anos.

Na prática, o aumento do IPCA não foi suficiente para compensar a desvalorização dos papéis provocada pela alta dos juros. Essa diferença foi a razão para as perdas e representou um baque para quem acreditava que estava protegido contra a inflação.

No começo de 2013, a NTN-B com prazo de vencimento em 2022 chegou a ser negociada com taxa de IPCA mais 3,19% ao ano. Um ano depois, a remuneração havia subido para inflação mais 6,94% ao ano. O aumento de quase quatro pontos percentuais nas taxas de juros de mercado no período é o reflexo da desvalorização dos títulos. Um montante menor investido no presente passou a proporcionar ganho maior no futuro.

Apesar da discussão sobre se as perdas calculadas pelo valor de mercado dos títulos públicos são reais ou apenas contábeis, especialmente para quem não pretende se desfazer dos papéis antes do vencimento, o fato é que o mal estar dos investidores foi grande. No pior momento, muitos viram o valor das posições cair cerca de 15%.

As NTN-Bs também fazem parte das carteiras dos fundos de previdência, fundos de investimento e bancos. A desvalorização dos títulos, portanto, implica prejuízos que são, obrigatoriamente, reconhecidos nas demonstrações contábeis.

Os títulos prefixados tiveram comportamento semelhante, apesar da intensidade menor. A perda foi de aproximadamente R$ 15 bilhões entre maio e agosto de 2013. O principal fator que amorteceu o tamanho dos prejuízos foi o prazo médio menor. O valor da carteira do IRF-M, que mede o desempenho das LTNs e das NTN-Fs, é da ordem de R$ 800 bilhões.

Já as LFTs, atreladas à taxa Selic e representadas pelo IMA-S, não tiveram perdas. O valor total dos títulos é de quase R$ 400 bilhões.

Um cenário de prejuízos generalizados acaba minando a confiança nos rumos da política econômica. Há uma sensação de diminuição da riqueza, que reduz o interesse por empreendimentos de mais risco.

Além disso, a desvalorização dos títulos públicos afetou indiretamente o desempenho dos fundos imobiliários, pelo ajuste da relação entre o valor dos aluguéis e o preço das cotas. E pode ter contribuído ainda para o menor apetite dos bancos em renovar os empréstimos.

Felizmente, o segundo trimestre de 2014 marcou o início da recuperação dos preços das NTN-Bs. Entre 20 de março e 4 de julho deste ano, a carteira do IMA-B registrou ganhos de R$ 62 bilhões, anulando grande parte das perdas do passado.

O fator positivo é que, apesar da continuada incerteza sobre o rumo dos juros nos mercados internacionais, o rendimento da NTN-B para 2022 recuou um ponto percentual, para 5,90% ao ano. Os demais vencimentos tiveram queda semelhante.

Ao que tudo indica, começa a acontecer um efeito simétrico ao que ocorreu no passado. Como consequência, a reversão das expectativas tem gerado lucros para as apostas otimistas relacionadas ao controle da inflação e retomada econômica.

A natureza cíclica do comportamento dos ativos financeiros não é novidade. As análises dos históricos das cotações têm revelado, de forma sistemática, uma certa tendência de reversão para a média. Para o caso das taxas de juros, significa que toda vez que a remuneração dos títulos públicos sobe com muita intensidade, a perspectiva é que os rendimentos caiam no momento seguinte. O oposto acontece quando as taxas estão muito baixas.

Apesar dos aspectos cíclicos, é importante manter uma visão realista. A economia brasileira possui diversos desafios, sendo o principal deles o de mostrar a capacidade de crescer de forma consistente, sem gerar inflação ou desequilíbrios externos de grandes proporções.

Hoje, a equipe econômica não tem conseguido sinalizar que a estratégia que está perseguindo é suficientemente sólida a ponto de proporcionar os resultados almejados. E isso tem contribuído para acentuar a oscilação do preço dos ativos financeiros, tornando as decisões de investimento mais arriscadas.

Para enfrentar a atual conjuntura, é importante que o investidor tenha, ao seu alcance, um arsenal de opções táticas, para tirar proveito de oscilações de curto prazo. Assim, é fundamental estar atualizado sobre as modalidades de investimento disponíveis.

Não significa investir em todos os produtos financeiros que são oferecidos pelos profissionais do mercado. Apenas manter no radar as alternativas possíveis.

O fato é que, além dos aspectos cíclicos e do resultado das pesquisas eleitorais, o ambiente de negócios pode mudar e impactar o rendimento dos ativos financeiros.