Corte da nota do Brasil pode ter efeito moderado em juros

As notas de crédito atribuídas pelas agências de classificação de risco têm impacto relevante sobre o custo da dívida de empresas e países. Quanto melhor a classificação, menor tende a ser o desembolso com os juros dos financiamentos, e vice-versa.

A S&P (Standard & Poor’s) está reavaliando a economia brasileira. A expectativa é que o Brasil não perca o grau de investimento, mas o conceito do país pode cair. As taxas dos títulos públicos de longo prazo, negociados no mercado secundário, já incorporam essa possibilidade.

O gráfico abaixo compara a remuneração das NTN-B (Notas do Tesouro Nacional Série B) para 2024 e 2035 com a evolução do risco Brasil, segundo os critérios da S&P. A nota “BBB-” é a mínima para que os títulos sejam considerados investimentos seguros.

RiscoBrasil

Desde 1994, início da estabilização da economia, a S&P e as demais agências de risco vêm aumentando a nota do Brasil. O grau de investimento veio em 30 de abril de 2008.

Em 17 de novembro de 2011, a S&P subiu novamente a nota do Brasil, para a atual classificação “BBB”. É uma margem mais segura em relação ao grau de investimento.

As taxas de juros das NTN-B fizeram caminho oposto. Em agosto de 2005, quando a nota do Brasil era “BB-“, a NTN-B com vencimento em 2024 remunerava inflação mais 9% ao ano. Na época, a taxa Selic (juro básico) era de 19,75% ao ano.

No período em que o país conseguiu a classificação mínima para o grau de investimento, a remuneração dos papéis ficou em cerca de 6% ao ano. A Selic no período oscilou de 8,75% a 13,75% ao ano.

A melhora seguinte da nota de risco contribuiu para queda mais acentuada da taxa dos títulos. Tanto a NTN-B para 2024 quanto a para 2035 passaram a oferecer remuneração de cerca de 4% ao ano.

O Banco Central também conseguiu reduzir a Selic ao menor nível histórico, 7,25% ao ano, no período de outubro de 2012 a abril de 2013.

Mais recentemente, porém, as taxas de juros voltaram a subir. Entre os fatores que aumentaram a aversão ao risco dos investidores em relação aos títulos brasileiros está a possibilidade de rebaixamento da nota pelas agências.

A política monetária também foi impactada. A Selic está em 10,75% ao ano e muitos analistas acreditam que continuará a subir.

Desde que o governo mostre capacidade de reação para corrigir os rumos da política econômica, a revisão da nota para “BBB-” pode ter um impacto moderado nas taxas dos títulos.

O temor, no entanto, é que os ajustes fiquem apenas para depois das eleições. Um cenário que aumentaria o custo financeiro do país.

Um ano em que até as estrelas tiveram perdas

Os rankings de fundos de investimento privilegiam a consistência. Afinal, ao delegar seus recursos a um gestor profissional, o que o investidor mais deseja é ganhar sempre, independentemente das condições de mercado.

A esperança é que os administradores de carteira tenham habilidade para identificar oportunidades de lucro nos mais diversos cenários. Se não for possível acertar todas as apostas, que pelo menos consigam evitar perdas nos momentos difíceis.

O ano de 2013 foi um duro teste. Mesmo os fundos mais bem avaliados pela Standard & Poor’s (S&P) amargaram períodos com prejuízos relevantes em certos momentos.

A avaliação das carteiras é feita com exclusividade para o Valor. A relação completa com os melhores fundos foi publicada em caderno especial na edição de 10 de dezembro. Os critérios de classificação premiam a previsibilidade do desempenho.

Fundos que atingiram a maior relação entre retorno e risco em determinado intervalo de tempo recebem a qualificação de cinco estrelas. Carteiras com comportamento equivalente à média do setor ganham três estrelas. Se o retorno for muito baixo ou a oscilação da rentabilidade muito alta, a nota máxima é de apenas duas estrelas.

Para o investidor, o ranking oferece um instrumento para comparar, de maneira simples, as alternativas disponíveis. Com a ressalva de que, como em toda simplificação, alguns detalhes podem não ser integralmente computados na avaliação.

A despeito de eventuais críticas aos critérios da metodologia, a análise mais detalhada do desempenho dos fundos premiados neste ano evidencia os efeitos das turbulências enfrentadas pelos investidores. E pode ser um sinal de alerta para o padrão das oscilações das aplicações financeiras daqui para frente.

Uma medida para dimensionar o risco do investimento é dada pela perda máxima verificada em determinado intervalo. Além disso, depois do prejuízo contabilizado, interessa saber quanto tempo demorou até que o investimento voltasse ao terreno positivo.

Aplicações pouco arriscadas tendem a proporcionar perdas pequenas e recuperação rápida. Em contrapartida, o padrão das modalidades com risco elevado envolve diversos períodos com prejuízos altos e recuperação demorada.

Para o investidor que não conta com a calma necessária para esperar pela recuperação dos mercados, que tenha perdido a confiança no gestor ou que, simplesmente, precisa sacar os recursos imediatamente, perdas momentâneas elevadas podem significar prejuízos definitivos. Por isso, os gestores se esforçam para evitar perdas das cotas.

Nos fundos de investimento, uma estratégia para amortecer possíveis perdas com apostas erradas é concentrar a carteira em papéis atrelados aos juros de curto prazo. Essa maneira de gerir a carteira é eficaz quando a taxa Selic é alta.

Os juros elevados garantem um colchão para a rentabilidade mínima da carteira. Mesmo se alguns investimentos mais arriscados não proporcionarem o retorno esperado, as perdas não serão suficientes para afetar de modo significativo o desempenho da carteira global.

Estratégias desse tipo foram aprimoradas pelos administradores de recursos brasileiros. E, também, sempre garantiram ótima posição nos rankings que premiam a relação entre retorno e risco, tal como o elaborado pela S&P.

O juro baixo na primeira metade de 2013, no entanto, obrigou os gestores a adaptar as posições para tentar obter melhores resultados. Alongamento do prazo das aplicações, apostas em operações estruturadas e investimentos em ativos negociados no exterior são exemplos de transações que passaram a fazer parte do arsenal dos gestores locais.

A consequência foi o aumento do risco. Dos dez fundos com cinco estrelas mais rentáveis no ano até o dia 11 de dezembro de 2013, todos registraram algum período de perdas. É um fato raro comparando com os rankings anteriores.

Foram consideradas, nesse levantamento específico, apenas as carteiras potencialmente acessíveis aos investidores, com mais de 100 cotistas e patrimônio acima de R$ 100 milhões. Todas conseguiram superar a variação da taxa Selic no período, que foi de 7,70%.

As maiores perdas foram registradas pelos fundos de ações. Mas mesmo os fundos multimercados mais conservadores tiveram algum período com prejuízo. Todos os dez fundos conseguiram voltar ao terreno positivo após sofrerem as quedas.

Daqui para frente, a tendência é que os juros sejam menores do que foram no passado, mesmo com as turbulências visíveis no horizonte. Assim, inevitavelmente, para aumentar os ganhos, os investidores terão que arriscar mais.

Em um mercado instável e com muita incerteza, a saída é dedicar tempo para conhecer a estratégia de cada gestor e avaliar constantemente o desempenho do fundo.