Mercado de ações difícil nos últimos anos

Por qualquer parâmetro que se avalie, o desempenho das ações brasileiras nos últimos anos foi muito ruim. Desde 31/10/2010, data da eleição da presidente Dilma, até o fim de fevereiro de 2014 a rentabilidade do Ibovespa foi de -33%, o IBrX perdeu 17%, o índice Midlarge Cap (que acompanha as maiores empresas) caiu 10% e o Small Cap (focado nas companhias de menor porte) registrou baixa ainda maior, de quase 20%.

Houve exceções. Quem aplicou R$ 1 mil distribuídos igualmente entre Ambev, Cielo e Telefônica mais do que dobrou o capital no período, acumulando R$ 2.267. Mas quem escolheu Gerdau, BM&FBovespa e Oi saiu no prejuízo, resgatando apenas R$ 689.

É razoável que o retorno das aplicações em renda variável apresente forte oscilação e muita dispersão entre os diferentes papéis. Isso ocorre por duas razões principais.

A primeira é que existe muita incerteza sobre a capacidade de qualquer empresa conseguir manter o mesmo patamar de rentabilidade ao longo dos anos. Na busca de pistas sobre o desempenho futuro, os resultados trimestrais são avaliados minunciosamente assim que divulgados. O efeito colateral é que muito ruído de comunicação acaba sendo produzido, aumentando as incertezas.

O segundo motivo é que fatores específicos podem afetar uma companhia de maneira diferente de sua concorrente. A melhor capacidade de gestão, o acesso mais eficiente à modalidades de financiamentos ou a ênfase na pesquisa de novas tecnologias podem garantir uma real vantagem para determinada empresa, valorizando as cotações acima da média do mercado.

De qualquer forma, o cenário macroeconômico tem um impacto fundamental no resultado das empresas. E os últimos anos foram particularmente atribulados no Brasil.

O gráfico abaixo resume uma das facetas das idas e vindas da política econômica nos anos recentes. A linha azul mostra a evolução da taxa Selic e a linha vermelha indica a inflação acumulada em períodos de 12 meses, medida pelo Índice Nacional e Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

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No início do mandato da presidente Dilma, a taxa Selic estava fixada em 10,75% ao ano e a inflação acumulada em 12 meses girava em torno de 6%. Após diversas tentativas implantar mudanças no modelo econômico para diminuir a diferença entre juros e inflação, a taxa básica está atualmente em 10,5% ao ano e O IPCA acumula 5,6%.

Essa sensação de que o país não evoluiu de maneira significativa nos últimos anos pode ser uma das explicações para o fraco desempenho da bolsa no período.

Não significa que os investidores devam descartar esse tipo de investimento. Mas é preciso cautela.

13 pensamentos sobre “Mercado de ações difícil nos últimos anos

  1. Ótimo artigo. A tendência atual é o mercado acionário piorar muito. A China vem desacelerando, e continuará; a Zona do Euro e o Japāo continuam devagar quase parando; a recuperaçāo dos E Unidos continuará lenta. Adicionem-se a isso maior meta de superavit primario e maior selic, ambas ardorosamente defendidos pela linha editorial do Valor, e o resultado inexorável será maior desemprego, menores PIB, investimento, consumo, e lucro das empresas, até fechamento de muitas, e consequentemente, queda no preço das açōes. O governo reduziu o superavit primario em 2013 para melhorar o PIB, foi bem sucedido, se nāo teria sido ainda pior para a Bolsa, mas a inflaçāo nāo cedeu, e se cobra dele maior superavit, e maior selic, e cada um destes, pior ainda juntos, levam a menor PIB, péssimo para a Bolsa. Eu ia dizer que o último a sair da Bolsa apague a luz, mas talvez nem isso precise de fazer porque pode haver racionamento, o que também é mal para a Bolsa. E o timing das minhas observaçōes nāo é incorreto.

    • Jurandir, a bolsa é cíclica e altos e baixos fazem parte da evolução dos ativos, sabendo escolher você encontrará boas oportunidades de investimento, mas é preciso focar nos fundamentos das empresas e não operar por noticias que somente interessa aos especuladores de curto prazo, um verdadeiro casino e um vicio como em todos jogos de apostas.
      Focar no longo prazo e acompanhar o desempenho das empresas escolhidas, com certeza lhe trará bom retorno. Esqueça noticias e foque nos números dos resultados.

      • Resposta muito apropriada. Ocorre que em ambiente macroeconomico adverso, até mesmo ačōes de boas empresas podem cair, e se a pessoa pode aguardar para comprar mais adiante a preços menores, enquanto ganha na renda fixa, parece bom fazer isso. E esse “longo prazo” é expressāo vaga, e é sabido que no “longo prazo” muitas açöes boas vāo para o buraco. Você negocia transbrasil, Varig, Vasp, etc? Pois é, elas nem sequer existem mais. E há exemplos nos E Unidos, comparando dez anos depois.

  2. O desempenho das Bolsas segue muito o “espírito de manada”. Independentemente de acertos ou erros, de focar em fundamentos. Claro que alguns mais safos ou inteligentes podem se sair bem. Mas isto ocorre em qualquer situação.
    Mas na média, a BOVESPA neste período tem seguido o espírito de manada (seja da retirada de aplicações do exterior, seja do posicionamento pessimista obsessivo de analistas e aplicadores locais, mais antenados em cxampanhas eleitorais do que na realidade).
    Menos mal que os ventos agora parecem estar soprando desde outro lado.
    Aguardemos…

  3. O momento que a bolsa passa é delicado; estamos observando uma estagnação no mercado de capitais há pelo menos uns 3 anos… não somente o mercado acionário, mas também nos valores dos ativos dos fundos imobiliários. Isto é resultado do cenário macroeconômico mundial e nacional. As políticas fiscal e monetária no Brasil estão deixando muito a desejar; o aparente menosprezo ao tripé macroeconômico nos está custando caro; a falta de incentivos ao investimento produtivo refletem a queda generalizada dos ativos (com pouquíssimas exceções).
    E ainda neste ano temos uma situação “sui generis”; copa do mundo e eleições. Vamos “torcer” para o caldo não entornar ainda mais.

    • Maior superavit primario e selic mais alta sāo piores para açōes. O atial governo tentou baixar as taxas de juros, é acusado de ter feito isso artificialmente. Tentou fazer superavit menor, foi criticado. Leio assidua e extensivamente o Valor, o qual, a meu ver, reflete os interesses do mercado financeiro de juros e cambio, que se contrapöe ao ao do mercado acionário. E quem o lê, se influencia, e o apoia, fica contra o mercado acionario…

    • O combate à inflačāo por meio da alta de juros e maior superavit primario é contra o mercado acionario. Voce apoia?

  4. mdagosto,

    Ok. Uma métrica que eu gosto de avaliar é o dividendo sobre o custo(YoC). Cielo e Ambev me deixaram muito satisfeito como acionista nos últimos anos.

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