O sucesso da captação de R$ 1 bilhão de debêntures emitidas pela mineradora Vale colocou em xeque o senso comum de que o investidor brasileiro possui apenas visão de curto prazo. O vencimento dos títulos varia de 7 a 15 anos e a empresa usará os recursos para financiar a expansão das atividades operacionais. Quase 90% do volume da emissão foi comprado por mais de 2 mil pessoas físicas.
O desejo de conseguir proteção contra a inflação, a vantagem de não pagar Imposto de Renda (IR) sobre os rendimentos da aplicação e o alto grau de reconhecimento da companhia foram os fatores decisivos para o sucesso da operação. Uma demanda crescente por papéis indexados aos índices de inflação vem sendo criada devido às dúvidas sobre a real capacidade do governo em manter a alta dos preços em patamares controlados. A oferta da Vale preencheu justamente essa lacuna.
Além disso, é consenso entre os aplicadores de que o imposto de renda que incide sobre o rendimento das operações financeiras é um assunto complexo. A forma de tributação, com várias alíquotas que mudam conforme o prazo da operação, confunde e atrapalha o investidor que busca a alocação mais eficiente para o seu capital.
Desse modo, em vez de concentrar seus esforços para manter a composição mais eficiente de sua carteira, o aplicador também precisa administrar o prazo decorrido de cada título. Por isso, devido à simplicidade, as alternativas isentas de IR vêm ganhando popularidade.
E como a Vale é uma das maiores empresas do país, passou pelo processo de privatização e possibilitou que os trabalhadores pudessem comprar ações usando parte do saldo depositado no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), terminou construindo uma sólida reputação entre os investidores.
A combinação desses fatores fez com que a companhia conseguisse captar recursos com taxas mais baixas do que as oferecidas pelo Tesouro. O parâmetro de referência para a operação foram as Notas do Tesouro Nacional da série B (NTN-B), que são corrigidas pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e rendem também mais uma taxa prefixada de juros.
A emissão foi dividida em quatro séries. A primeira foi vendida com taxa de 6,46% ao ano. A remuneração da segunda série foi de 6,57% ao ano, a taxa da terceira chegou a 6,71% ao ano e o retorno da quarta série alcançou 6,78% ao ano. Para todas as séries, além das respectivas taxas, a remuneração total é acrescida da variação do IPCA.
No dia 10 de fevereiro, data da publicação do anúncio de início da distribuição, o rendimento das debêntures de cada uma das séries estava aproximadamente 0,1 ponto percentual abaixo das NTNs-B de prazo equivalente.
No entanto, considerando o efeito do IR sobre os rendimentos dos títulos públicos e comparando o retorno das duas modalidades, as debêntures acabam levando vantagem. Assim, o rendimento líquido dos papéis das três séries mais curtas superava em 1,6 ponto percentual a NTN-B equivalente. E o ganho relativo da série mais longa era de 1,2 ponto percentual.
Um ponto importante a ser acompanhado é a liquidez dos títulos. Como o incentivo das pessoas físicas foi a isenção do IR, os papéis saíram sem o prêmio sobre o risco de crédito. É pouco provável que os investidores institucionais, que não têm o benefício fiscal, comprem títulos da Vale com rentabilidade inferior aos papéis públicos. O volume de transações no mercado secundário, então, tende a ser pequeno.
De qualquer forma, o sucesso da emissão da Vale mostra que as boas alternativas de investimento estarão sempre no radar dos aplicadores e com potencial para atrair o interesse de milhares de brasileiros.
Geralmente a questão tributária é deixada de lado pelos investidores que não querem ou não tem tempo de aprofundar em estratégias para reduzir a mordida do leão.
Mas reduzir o gasto com tributos é fundamental para ampliar a rentabilidade dos investimentos.
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