Diversificação de acordo com Berkshire Hathaway

Os entusiastas das estratégias de investimento que enfatizam a busca ativa por maiores retornos com certeza foram surpreendidos com o teor da última carta de Warren Buffett, endereçada aos acionistas de sua companhia, a Berkshire Hathaway.

Um extrato da carta foi publicado na última semana de fevereiro. Considerado o investidor mais bem sucedido do mundo, Buffett sempre defendeu princípios simples para embasar as decisões de investimento. Mas, desta vez, parece ter radicalizado.

O argumento é que ninguém precisa ser um especialista em finanças para fazer boas aplicações. No entanto, para quem não tiver condições de entender detalhadamente as características da transação, o melhor é confiar nos produtos indexados a índices de mercado.

A recomendação para quem quer investir em ativos de risco, então, é comprar fundos atrelados ao S&P 500, índice que reúne 500 ações de empresas americanas. O fato de o indicador estar próximo à cotação recorde é irrelevante e nem sequer foi mencionado no texto.

Desde que a taxa de administração seja baixa, indexar é a melhor alternativa. A característica de um fundo de ações passivo é dar ao investidor a possibilidade de participar de diversos bons negócios, que foram duramente testados ao longo dos anos. Esse grupo de empresas merece um voto de confiança, pelo menos no mercado americano.

Buffett tem faro para fazer bons negócios. Cita o exemplo de dois investimentos pequenos em comparação à sua fortuna para enfatizar a importância de conhecer bem o terreno onde se pisa. Ele admite que comprou uma fazenda sem entender o funcionamento do setor agropecuário e um prédio de escritórios sem nunca ter visitado o imóvel. Mas ressalva que analisou detalhadamente o potencial de geração de caixa dos empreendimentos e acreditava que o preço era suficientemente baixo para produzir bons retornos. O que aconteceu.

O ponto de Buffett é que ele conseguiu atingir o sucesso porque desenvolveu seu método durante uma longa carreira. E foi hábil em aprender com os erros. Para o investidor que não tem tempo ou interesse de fazer experiências, a melhor decisão, portanto, é indexar a carteira.

E essa foi a recomendação que deu aos administradores da parte de sua herança que será destinada à mulher. Sugeriu aplicar 90% em um fundo com baixa taxa de administração vinculado ao S&P 500 e 10% em ativos com liquidez imediata.

O argumento de que investir em ações é mais rentável do que aplicar em títulos de renda fixa faz sentido do ponto de vista conceitual. Afinal, se as companhias não conseguirem gerar lucros acima dos juros de mercado, a tendência é de fecharem as portas. No Brasil, essa dinâmica relativamente simples ainda não deslanchou, pelo menos conforme capturado pela baixa popularidade dos fundos atrelados ao Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira. Desde 2007 até 2013, o índice teve ganho equivalente a 2,12% ao ano. O S&P 500, em comparação, rendeu 3,85% ao ano no mesmo período.

Hoje, a preferência dos aplicadores brasileiros é pelos fundos com gestão ativa, até por conta dos custos geralmente elevados com as taxas de administração das carteiras indexadas. A expectativa de quem aplica na bolsa passou a ser de ganhar mais do que o Ibovespa.

A maior distorção no Brasil continua sendo os altos juros. Mesmo na fase recente, em que a Selic se aproximou do patamar de um dígito, a rentabilidade de uma carteira composta por títulos de renda fixa emitidos pelo Tesouro Nacional foi de 11,21% ao ano, quase cinco vezes mais do que o Ibovespa.

Os títulos de renda fixa americanos, segundo o índice “Barclays Capital US Aggregate Bond Index”, renderam 4,91% ao ano entre 2007 e 2013. Mas foi um período excepcional, em que as taxas de juros caíram até níveis extremamente baixos devido à política monetária praticada nos EUA. Quando os juros de mercado caem, os títulos de renda fixa já emitidos se valorizam.

Buffett

Outra diferença entre os mercados nos EUA e no Brasil é que o S&P 500 representa melhor o conjunto da economia americana do que o Ibovespa em relação ao total das empresas brasileiras. Por essa razão, os investidores americanos têm mais facilidade para indexar a carteira de ações.

Mesmo assim, os alertas de Buffett podem ser adaptados ao ambiente brasileiro. Identificar bons negócios é sempre tarefa difícil e aplicar nesses empreendimentos envolve a gestão de uma série de riscos que podem, eventualmente, pulverizar o retorno esperado.

Em contrapartida, comprar e vender ativamente ações na bolsa é tarefa simples e realizada de forma cada vez mais eficiente. O problema dessa estratégia é que não há nenhuma garantia de que as apostas serão lucrativas. Pelo contrário. Diversos estudos apontam que a negociação constante aumenta acentuadamente os custos do investidor, que acaba tendo lucro inferior à média de mercado.

De qualquer forma, com a internacionalização do mercado de capitais, uma nova oportunidade parece aberta aos investidores brasileiros que preferem indexar as aplicações: comprar títulos de renda fixa emitidos pelo Tesouro Nacional e ações de companhias americanas que fazem parte do S&P 500.

Comida de tubarão

Existem 14 mil fundos de investimentos no Brasil, mas ninguém sabe dizer ao certo quantas carteiras estão efetivamente disponíveis para receber aplicações dos investidores. Os rankings dão algumas pistas.

Reportagem de Luciana Seabra, do Valor, listou os fundos com gestão ativa que conseguiram retorno de dois dígitos no ano passado. No total foram 41 carteiras.

Comparar a rentabilidade passada dos fundos de investimento é pouco eficiente para escolher a modalidade com maior potencial no futuro. Afinal, o desempenho histórico não garante os ganhos daqui para frente.

Mas esse tipo de levantamento possui uma vantagem: torna familiar alguns nomes. Isso é particularmente relevante em um mercado exageradamente pulverizado e que possui como característica a falta de anúncios e publicidade dos gestores.

Além disso, é importante conhecer as razões que fizeram com que algumas carteiras ficassem de fora do ranking. Na listagem da reportagem, foram eliminados os fundos com menos de 100 cotistas e patrimônio líquido inferior a R$ 50 milhões em 31 de dezembro de 2013.

É um critério arbitrário e que pode causar injustiças. Mas evita constrangimentos. Por exemplo, determinado fundo de um bom gestor que teve ótimo desempenho no ano passado não entrou na relação porque a carteira era muito pequena.

Apesar da rentabilidade acumulada de cerca de 20% no ano passado, o fundo deu prejuízo para a maioria dos cotistas. Desde o início até hoje, a perda foi de R$ 2 milhões.

Isso ocorreu porque a rentabilidade foi alta enquanto o patrimônio era baixo. No momento em que o montante da carteira começou  crescer, o desempenho piorou.

O gráfico abaixo ilustra a captação acumulada, no eixo da esquerda, e o rendimento total acumulado da carteira, no eixo da direita. Depois de receber aportes de mais de R$ 40 milhões, o fundo passou a sofrer com a queda da rentabilidade. Em curto período, as perdas chegaram a R$ 4 milhões.

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No atual ambiente extremamente volátil, é prudente escolher bem as aplicações em fundos para escapar de, involuntariamente, transformar os investimentos em ração para os grandes tubarões do mercado.

2014 tende a ser o ano da gestão ativa

Carnaval em março, copa do mundo em junho e eleições presidenciais em outubro parecem ser os ingredientes ideais para justificar o adiamento de todas as decisões no Brasil. No entanto, o ano de 2014 promete ser de muita ação para os investidores.

A recomendação mais frequente dos administradores de carteira é que uma faixa entre 40% a 60% dos investimentos esteja alocada em modalidades que envolvam algum tipo de gestão ativa dos recursos. Aplicações livres de imposto de renda com lastro em títulos privados, papéis públicos de longo prazo, fundos multimercados ou de ações e papéis negociados no exterior indexados ao dólar estão no topo da lista das principais sugestões.

Reportagem de Luciana Seabra, do Valor, mostrou o que pensam nove casas especializadas na gestão de patrimônio para pessoas físicas de alta renda. E apesar do tom preponderantemente conservador, a presença de ativos mais arriscados nas carteiras recomendadas é uma constante.

A tendência para 2014 é que o investidor aumente o leque das aplicações e diminua a participação nas modalidades mais tradicionais. A intenção é que a diversificação ajude a atravessar o período de incertezas previsto para o período e ajude a aumentar a rentabilidade total dos investimentos.

Mas é preciso cautela. A contrapartida do maior número de papéis diferentes na carteira é o aumento do risco, caso o mecanismo das novas modalidades não seja inteiramente compreendido.

É fundamental, antes de investir em alternativas desconhecidas, avaliar as características básicas do investimento para entender o que pode dar errado. Eventualmente as perdas potenciais estão além do que seria tolerável.

É praticamente certo que, para ter bons resultados em 2014, o investidor terá que caçar ativamente novas modalidades de aplicação dos recursos.

A estratégia de gestão ativa da carteira pode ser uma forma eficiente de aumentar a rentabilidade da carteira mesmo em momentos difíceis do mercado. Mas, para que o investidor tenha sucesso, o primeiro passo é ter a disposição e a dedicação necessárias para conhecer detalhadamente o funcionamento de cada nova modalidade disponível.