Disputa pela medalha de aplicação mais rentável do ano

Uma competição acirrada vem sendo travada pelo posto de investimento mais rentável do ano no mercado brasileiro.

Tanto as ações negociadas em bolsa quanto os títulos emitidos pelo Tesouro Nacional indexados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) com vencimento no longo prazo acumulam ganhos expressivos até julho de 2016. Por enquanto a vantagem é da bolsa, mas a situação pode mudar.

O gráfico abaixo compara o rendimento acumulado do Ibovespa e do indicador IMAB5+. O Ibovespa reflete o comportamento das ações mais negociadas na BM&FBovespa.

Já o IMAB5+ mede o desempenho de uma carteira composta por Notas do Tesouro Nacional da série B (NTNB) com data de vencimento maior que cinco anos. No Tesouro Direto, o sistema de negociação de títulos públicos via internet administrado pelo Tesouro Nacional, os papéis são chamados de Tesouro IPCA+.

Medalha

Depois de acumular queda de mais de 6% em janeiro, o Ibovespa mostrou recuperação expressiva. Nos meses seguintes, com a exceção de maio, o indicador teve ganhos sempre superiores a 5%. Até o dia 20 de julho o rendimento acumulado marca 30,51%.

Maio também foi ruim para o IMAB5+, que teve variação negativa. Entretanto, nos demais meses a rentabilidade foi sempre positiva. No total, o ganho acumulado no ano está em 24,07%.

Para efeitos de comparação, a variação do Certificado de Depósitos Interfinanceiros (CDI), o principal parâmetro de referência para a rentabilidade das operações de renda fixa, ficou em pouco mais de 1% ao mês no mesmo período. O ganho acumulado no ano é de 6,7%.

O gráfico mostra, ainda, que o rendimento do IMAB5+ tem oscilado menos do que a rentabilidade do Ibovespa.

Para o futuro, dois fatores apontam para o aumento dos lucros das companhias brasileiras e a consequente valorização adicional das ações negociadas no Ibovespa.

Sob a perspectiva externa, a recuperação recente do preço das commodities sinaliza maior dinamismo da economia mundial. Esse fato é positivo para as empresas operando no Brasil devido à possibilidade de aumento das transações internacionais.

Pelo lado interno, existe a percepção de que a crise brasileira caminhe para uma solução. Isso eventualmente melhoraria o ambiente de negócios no país.

O ganho das NTNBs, por sua vez, decorre da expectativa de redução da atual diferença entre as taxas de juros e inflação. O raciocínio é que a severa recessão dos últimos dois anos combinada com o esforço para reequilibrar as contas públicas levará, forçadamente, a um ajuste na economia brasileira.

Atualmente, o ambiente mundial é de juros baixos e inflação controlada. Com um mínimo de organização interna seria possível criar as condições para uma redução significativa da diferença entre a taxa Selic, atualmente em 14,25% ao ano, e a variação do IPCA, que foi de 8,84% nos últimos 12 meses.

Em termos de fundamentos para a avaliação do preço dos ativos, as ações das companhias, de uma forma geral, são cotadas com base em um multiplicador sobre o lucro ou as receitas. Quanto menor a taxa de juros, maior o multiplicador. E quanto maior o lucro ou a receita, maior o preço da ação.

Consequentemente, um cenário de aumento dos lucros e redução dos juros é positivo para o investimento em ações.

Já a cotação dos títulos de renda fixa de longo prazo reflete o desconto a valor presente do fluxo futuro dos pagamentos previstos. Existe, então, uma relação inversa entre os juros de mercado e o valor do título.

Para exemplificar, considere a NTNB com vencimento em 2050 e pagamento semestral de juros de 6% ao ano sobre o valor nominal, conforme estabelecido pelo Tesouro Nacional. Quando o título é cotado a 6% ao ano, o valor de mercado é igual ao valor nominal. Mas se o rendimento de mercado cai para 5,9% ao ano, o valor de mercado do papel aumenta em 1,4%.

Significa que para cada 0,1 ponto percentual de queda do rendimento do título, o valor de mercado aumenta 1,4 ponto percentual. Essa alavancagem torna a aposta nos títulos de longo prazo altamente volátil, porque pequenas mudanças no rendimento multiplicam o valor de mercado do papel.

Em contrapartida, essa característica aproxima o comportamento dos títulos de renda fixa de longo prazo à trajetória do rendimento das ações. E justifica a comparação direta das duas modalidades de investimento.

Objetivamente, a aposta na NTNB leva vantagem em um cenário mais simples, de queda dos juros reais (acima da inflação). Para que a bolsa continue subindo, é preciso ainda que as perspectivas de lucros das empresas aumentem.

2 pensamentos sobre “Disputa pela medalha de aplicação mais rentável do ano

  1. Gostaria de entender a precificação do mercado com relação a uma queda da TAXA SELIC, de onde vem a relação: “que para cada 0,1 ponto percentual de queda do rendimento do título, o valor de mercado aumenta 1,4 ponto percentual”? Todos os títulos pré e pós do Tesouro funcionam dessa forma?

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