Não é segredo que o mercado financeiro tem antipatia pelo governo Dilma. O sentimento evoluiu até o ponto em que a possibilidade de derrota da presidente nas próximas eleições tornou-se uma estratégia de investimento popular, por meio da negociação com ações das empresas estatais.
Agora uma nova especulação começa a se consolidar, visando lucrar com a teoria de que o Banco Central (BC) pode reduzir a taxa Selic, mesmo com a inflação alta.
O jornalista Cristiano Romero, do Valor, detalha em sua coluna a lógica da argumentação a favor da redução da taxa básica de juros em um ambiente que reúne expectativa de inflação acima do centro da meta e crescimento econômico baixo. E aponta, também, para os riscos que envolvem a decisão.
De fato, as previsões para o IPCA, o índice oficial de inflação, e para o PIB, a principal medida para o crescimento econômico, tomaram sentidos opostos nos últimos meses. O gráfico abaixo ilustra esse comportamento.
No começo do ano passado, as estimativas indicavam inflação de 5,5% para 2014 e PIB com alta de 3,8%. Com o passar do tempo, a expectativa para a inflação subiu para 6,44% e a previsão para o PIB caiu para 0,97%.
É difícil atribuir a causa da deterioração do desempenho da economia a uma única razão. O mais razoável é supor que um conjunto de fatores acabou contribuindo para o atual cenário adverso.
Portanto, é pouco provável que apenas a redução da taxa Selic seja suficiente para reverter o estado geral de desânimo que envolve os negócios. Apesar disso, é essa a aposta que vai começando a ganhar corpo no mercado financeiro.
O principal fator que estimula a especulação na queda imediata da Selic é a atuação do BC em julho de 2011. Naquele mês, contrariando a maioria das previsões, o comitê de política monetária iniciou um ciclo de corte da taxa básica de juros.
Um ano depois, em julho de 2012, a Selic já tinha atingido o recorde de baixa, mas a autoridade monetária continuou a reduzir os juros. No fim do ciclo de cortes, a taxa básica havia atingido a mínima histórica de 7,25% ao ano. Foi motivo de orgulho para a presidente Dilma.
A comemoração durou pouco. Depois disso, a inflação voltou a subir e, mesmo contrariando os interesses imediatos do governo, o BC foi obrigado a elevar novamente a Selic até o atual patamar de 11% ao ano.
O investimento em papéis prefixados não é uma alternativa ruim neste momento. Mas é importante manter uma estratégia de investimento sólida e, preferencialmente, com o objetivo concentrado no longo prazo.
Apostas baseadas em histórias simples tem o poder de estimular os negócios. Mas podem ser danosas se as decisões de investimento não estiverem solidamente embasadas.
Se BC va a baixar a Selic, os investidores vai sair da Bovespa e das fundo de renda fixa. O real vai enfraquecer, o Dolar vai subir, e a inflaçào vai subir mais. Eu não acredito que o Banco Central vá fazer corte de juros. Eles já fizeram aquele corte em agosto de 2011, e deram com os burros n’água. Todo mundo condena o Banco Central pelo que fez. (Dilma Rousseff) Se ele fizer isso de novo, com inflação beirando os 6,5%, ele estará dando um tiro de misericórdia… São pessoas gabaritadas, doutores em economia, pessoas que ficarão trabalhando no mercado durante décadas. Essas pessoas não são malucas de afundar suas carreiras profissionais de uma maneira dessa. Acho que, de jeito nenhum vão fazer um corte de juros. Se fizerem, vou queimar minha língua…
Cambio: As ações que o Banco Central vem tomando nào são boas. Quando o dólar cai abaixo de R$ 2,20 ou sobe acima de R$ 2,40, o BC intervém. Parece que o BC quer que o câmbio fique nessa faixa. Novamente, o efeito sobre a inflação e a eleição são os grandes marcos. Eu acho que o BC deveria ter saído dessa política há algum tempo. Foi uma política que foi bem-sucedida no primeiro semestre do ano passado. Mas o BC precisaria deixar claro que vai intervir em situações de volatilidade, sem garantir a venda diária. Senão, o ajuste não acontece. Fica com déficit de conta corrente crescente. Para haver um ajuste, o câmbio deveria ir para o lugar, pois eu acho que ele está fora do lugar. E é bom lembrar que o câmbio sempre volta pro seu lugar: pode ser abruptamente, o que é ruim, ou lentamente, se você deixá-lo flutuar.