XP, BTG e aumento da importância dos ativos intangíveis

Está em andamento uma disputa judicial entre XP e BTG que atinge as respectivas redes de agentes autônomos de investimentos (AAI). É por meio da interação com esses profissionais que muitos clientes tomam suas decisões de investimento.

A XP foi pioneira na montagem de uma malha de AAIs independentes, mas vinculados aos produtos oferecidos pela corretora. Isso proporcionou uma ampla vantagem em relação aos concorrentes no mercado de distribuição de produtos financeiros para pessoas físicas.

O pano de fundo do embate entre as duas instituições financeiras pode ser entendido a partir do contexto descrito pelos economistas Jonathan Haskel e Stian Westlake no livro “Capitalism without Capital” (Capitalismo sem Capital, em tradução livre).

Para os autores, na economia moderna, a vantagem competitiva de países e empresas está atrelada, cada vez mais, aos investimentos em ativos intangíveis. São os esforços empreendidos na pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, design das mercadorias, conceito da marca, aspectos relacionados à organização da forma de execução das tarefas para a entrega dos serviços, qualidade do software utilizado pelas companhias e maneiras de como os dados do negócio são explorados.

Os investimentos em ativos tangíveis tais como prédios, galpões, máquinas e computadores continuam importantes, mas já não proporcionam grande diferenciação entre os empreendimentos.

Os investimentos em intangíveis possuem quatro características principais. A primeira delas é chamada de escalabilidade. É a propriedade de que os resultados de um determinado esforço possam ser reaproveitados repetidas vezes.

Um exemplo concreto é o software desenvolvido pelo Uber. Depois de pronto, o aplicativo pode ser usado em qualquer cidade do mundo em que a companhia tenha operações. É um flagrante contraste com as antigas empresas de rádio taxi que tinham capacidade para operar apenas em determinados bairros e regiões.

A segunda característica é que os custos envolvidos na criação de um ativo intangível são irrecuperáveis. Para entender, compare o resultado final de dois empreendimentos fracassados. Num caso, uma startup que investiu no desenvolvimento de um medicamento, mas não conseguiu a licença para comercialização. Em outro, um centro de distribuição que não atingiu o movimento mínimo para que o negócio se tornasse viável.

No caso da startup, o valor residual dos investimentos feitos ao longo de todo o período é próximo de zero, já que a maior parte foi direcionada às pesquisas que deram em nada. Já no centro de distribuição, o valor residual é o imóvel onde fica o galpão, que pode ser eventualmente reaproveitado em outra atividade. Além da possibilidade de venda dos equipamentos remanescentes.

A terceira característica dos intangíveis é que o conhecimento gerado por certa atividade ou empresa pode ser aplicado em outras áreas. E é difícil que o dono original da ideia tenha algum controle sobre a nova utilização. Um exemplo é o design do iPhone, que foi imitado com sucesso por outros fabricantes de telefones celulares.

Por último, os intangíveis são potencialmente geradores de sinergias. O exemplo dos autores do livro é o Epipen, um antialérgico comercializado na forma de uma caneta, simples de aplicar e associado a um marketing que realça os benefícios do produto.

Existem diversos desafios nesse novo ambiente dominado pelos investimentos em intangíveis. O mais aplicável no caso da disputa entre XP e BTG é a possibilidade de que a propriedade dos ativos intangíveis possa ser contestada.

Apesar de os AAIs atualmente vinculados à XP serem livres para cortar os laços com a corretora e buscarem novos parceiros, houve reconhecidamente um esforço desprendido ao longo do tempo para a construção dessa rede. Do ponto de vista da XP, o conjunto de AAIs formam um ativo intangível, mesmo sem ser efetivamente formalizado.

O BTG, por sua vez, busca adaptar a experiência acumulada pela XP no desenvolvimento da rede de AAIs para melhorar ainda mais o negócio e atrair alguns desses profissionais para baixo de seu guarda-chuva. É uma ambição legítima.

Já os AAIs, por serem independentes, buscam se associar às instituições que julguem capazes de lhes trazer maiores benefícios.

Os investidores devem encarar essa disputa sob o ponto de vista pragmático. Se a mudança do AAI de uma instituição para outra acrescentar em termos de segurança, diversificação e rentabilidade para suas aplicações financeiras, é um incentivo para mudar de conta. Caso contrário, o melhor é trocar de AAI.

Compra da XP evidencia padrões fiduciários e de adequação

Em várias transações comerciais, é perfeitamente aceitável que a remuneração do intermediário seja estabelecida na forma de uma comissão proporcional ao montante pago pelo comprador ao vendedor.

Um caso típico é o valor da corretagem nos negócios com imóveis. Ou a comissão recebida pelo vendedor de automóveis. Nesses casos, é raro haver questionamentos sobre eventuais conflitos de interesses.

Boa parte dos serviços financeiros envolve a intermediação entre partes interessadas em uma transação. Assim, o pagamento de comissões vinculadas ao montante negociado é frequente. A diferença é que, algumas vezes, isso ocorre de forma indireta.

Especificamente no segmento de fundos de investimento, a taxa de administração da carteira possui uma dupla finalidade. Serve para remunerar tanto a atividade de gestão dos ativos quanto o trabalho envolvido na distribuição de cotas e orientação aos clientes.

ArteXP

Do ponto de vista pragmático, o investidor tem à disposição diversas formas de aplicação. Cada modalidade possui determinada característica de risco e retorno. Cabe ao profissional financeiro selecionar as alternativas e indicar as melhores opções ao cliente, dado um determinado objetivo de investimento e um horizonte de tempo.

Como consequência da estrutura de remuneração com base no valor da transação, a lógica do corretor de imóveis, do vendedor de automóveis e, muitas vezes, do distribuidor de produtos financeiros acaba sendo a mesma: é mais rentável negociar o produto mais caro do que o mais barato.

Existe um atenuante, no entanto. Como a regra de bolso estabelece que o preço é diretamente proporcional à qualidade, pode não haver conflito entre os interesses do vendedor e do cliente se o negócio envolver a alternativa mais cara. A justificativa é que, simplesmente, o cliente comprou o melhor produto.

Mas é preciso cautela. A regulamentação separa as atividades dos intermediários financeiros conforme dois padrões de atuação.

O padrão fiduciário é quando os agentes das instituições financeiras agem conforme os melhores interesses dos clientes. Já o padrão de adequação é quando os profissionais financeiros possuem uma base razoável para acreditar que a transação recomendada é adequada para o cliente.

No segmento de administração de recursos, o padrão fiduciário é adotado para as atividades que envolvem a gestão dos fundos de investimento. O padrão de adequação é usado para regulamentar os negócios de distribuição de produtos financeiros.

O padrão fiduciário estabelece controles rígidos para o que pode e o que não pode fazer parte da carteira de um fundo. Por exemplo, devem ser claramente estabelecidos os percentuais máximos de ativos emitidos por companhias privadas, a estratégia para utilização dos instrumentos negociados no mercados futuros, opções e demais derivativos ou o montante dos ativos negociados no exterior.

O padrão de adequação obriga a instituição financeira a fazer uma avaliação do perfil do investidor e manter uma classificação de todos os produtos oferecidos. A exigência é que os produtos vendidos ao investidor sejam coerentes com o perfil de risco aferido.

O mercado de fundos de investimento vem passando por transformações importantes. Basicamente, existem duas maneiras de fazer a administração de recursos. Uma chamada de gestão ativa e outra conhecida como gestão passiva.

Na gestão ativa, o objetivo é encontrar as alternativas que podem proporcionar os maiores retornos dado as expectativas para os cenários futuros. Na gestão passiva a meta é simplesmente indexar a carteira a um determinado indicador de mercado.

Uma tendência global aponta para a redução do montante de recursos administrados na forma de gestão ativa e o crescimento do volume financeiro dos fundos com gestão passiva. Isso porque a relação entre o retorno e o risco da gestão ativa não tem se mostrado favorável e o custo da gestão passiva é significativamente mais baixo.

Como consequência, a margem para pagamento de rebates de taxa de administração para remunerar a distribuição de fundos vem diminuindo. A expectativa, então, é que a cobrança direta pela assessoria financeira aumente.

A aquisição da XP pelo Itaú Unibanco reforça uma tendência de separação das atividades de produção e distribuição de produtos financeiros. Falta ainda, no mercado brasileiro, o crescimento de uma atividade de assessoria financeira independente.

O negócio de distribuição de produtos financeiros caminha para se transformar numa atividade com padrão fiduciário, na qual os interesses dos clientes serão claramente colocados como prioridade. Até lá, é prudente que o investidor mantenha a devida cautela com as recomendações de investimento dos distribuidores.

Fundo XP S&P 500-2

Aplicar em ativos de renda variável sem correr o risco de perder dinheiro é sempre tentador. A contrapartida, no entanto, é a necessidade abrir mão de parte dos ganhos. Saber, com certeza, se vale ou não a pena, só no fim da operação.

A XP investimentos está promovendo a captação do fundo XP S&P 500 Capital Protegido 2 (Fundo XP S&P 500-2). A decisão de investimento deve ser tomada até o dia 16 de agosto de 2013.

Do ponto de vista prático, o Fundo XP S&P 500-2 é uma operação estruturada, que começa no dia 20 de agosto de 2013 e termina em 2 de janeiro de 2015. No período, são 500 dias corridos e 347 dias úteis.

O índice S&P 500 é calculado pela Standard & Poor`s e mede o retorno de 500 ações negociadas no mercado americano.

A estrutura da operação é a seguinte. Se, no vencimento, em 2 de janeiro de 2015, o índice S&P 500 cair abaixo do patamar da abertura do dia 20 de agosto de 2012, o investidor recebe o valor do principal, sem perdas. Se o índice subir mais de 30%, a remuneração do investidor é de 12%. E se o S&P 500 terminar entre zero e 30%, o investidor recebe a valorização do índice.

Hoje, no Tesouro Direto, a taxa de mercado da Letra do Tesouro Nacional (LTN) com vencimento em 1 de janeiro de 2015, um papel prefixado praticamente sem risco, é de cerca de 10% ao ano. Entre 20 de agosto e 2 de janeiro de 2015, o rendimento acumulado do título será de 14%.

A aplicação no Fundo XP S&P 500-2 pode ser comparada com o investimento na LTN 2015. Então, se o S&P 500 for negativo, o investidor recebe o principal de volta, mas deixa de ganhar 14% no período, que conseguiria caso investisse na LTN.

Se o índice subir até 14%, as perdas em relação ao rendimento garantido proporcionado pela LTN diminuem. A partir de uma alta superior a 14%, o ganho do Fundo S&P 500-2 começa a ser superior à aplicação na LTN. No entanto, se a alta do S&P 500 for maior do que 30%, a aplicação volta a perder do título público.

O gráfico abaixo ilustra os possíveis cenários. O ganho da operação estruturada que supera o rendimento do título público está representado no eixo vertical. No eixo horizontal está computada a possível variação do S&P 500 no período.

As áreas vermelhas indicam as faixas em que a operação estruturada rende menos do que a aplicação de renda fixa. Em azul, a área em que o Fundo S&P 500-2 supera a LTN 2015.

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O melhor cenário para o investidor é quando o S&P 500 sube mais do que 14% e menos que 30%. O ponto positivo é que a aposta tem risco conhecido e determinado.