Lições de um prejuízo bilionário

A saga que envolveu a divulgação do balanço auditado da Petrobras mostrou duas importantes lições aos investidores.

A primeira é que a corrupção custa muito mais caro do que o valor desembolsado com as propinas. A segunda é que se o governo não acredita no mercado de capitais, a estratégia mais prudente é evitar comprar papéis de companhias estatais.

A Petrobras reconheceu baixa contábil de R$ 6 bilhões referente a “gastos capitalizados indevidamente”. Tratam-se de valores superfaturados, estimados a partir das investigações da operação “lava-jato” e que ocasionou a prisão de uma série de diretores da empresa.

Além disso, foram feitas provisões adicionais de R$ 45 bilhões em virtude, principalmente, das “perdas decorrentes de problemas de planejamento de projetos”. A motivação para esses erros de avaliação parece estar fortemente correlacionada com os atos de corrupção praticados em alguns setores da companhia.

No fim, a conta da má gestão apresentada pela nova administração aos acionistas da Petrobras ultrapassou R$ 50 bilhões. O prejuízo em 2014 foi de R$ 22 bilhões, um recorde para as empresas de capital aberto e que justifica a queda de 40% no valor de mercado da companhia no ano passado.

Os números finalmente revelados no balanço foram uma má notícia para os acionistas. E sugerem que a nova administração terá muito trabalho para recolocar a companhia no ritmo de crescimento rentável e sustentável.

Entretanto, a face mais negativa de todo o episódio foi o aparente descaso dos últimos governos com a robustez do mercado de capitais.

Diversos dos atuais acionistas da Petrobras compraram ações no âmbito do antigo Programa Nacional de Desestatização, que tinha por objetivo vender participações em companhias detidas pelo BNDES. Os pequenos investidores podiam comprar os papéis usando parte dos recursos depositados no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Depois das ofertas públicas de Petrobras e Vale, esse programa foi abandonado. Outra ideia era estimular a diversificação, incentivando a transferência de recursos para carteiras compostas por maior variedade de ativos. Esse objetivo também ficou pelo caminho.

Mais tarde, outro baque. A estrutura da operação de capitalização da Petrobras, na qual o governo diluiu os acionista minoritários sem participar com o dinheiro necessário para financiar a expansão da empresa,  gerou ressentimentos e desconfiança.

Devido ao balanço ruim, é possível que ocorra o fechamento do mercado internacional para captações da Petrobras. Para suprir essa lacuna de caixa, o governo pode voltar a acenar para o mercado de capitais local.

Um dos caminhos é a Petrobras oferecer debêntures de infraestrutura, isentas de Imposto de Renda. Todavia, dado o histórico recente, é recomendável que o investidor mantenha a cautela.

Diversificação é recomendável, mas prudência é essencial

Combinar a rentabilidade da aplicação com a segurança de embolsar o rendimento pactuado é a preocupação de todos que resolvem poupar para a aposentadoria.

Gestores profissionais de patrimônio têm um desafio adicional. Como administram recursos cujo objetivo é formar uma reserva para garantir a aposentadoria futura de milhares de trabalhadores, precisam equilibrar o retorno esperado da carteira com o fluxo de pagamentos previstos para quitar os benefícios programados.

Na essência, a ideia é simples. Quanto maior o valor da aposentadoria, maior deverá ser o montante acumulado durante os anos de trabalho.

Os gestores de fundos de pensão e previdência buscam equilibrar o fluxo de todas as contribuições ao longo do tempo com o total dos gastos com benefícios futuros.

O valor da aposentadoria depende do esforço de poupança do trabalhador e da taxa de juros que o gestor conseguir para os investimentos. Esse é o fundamento de todo plano de previdência, mas que muitas vezes não fica claro para o participante.

Nos fundos de aposentadoria do tipo benefício definido, o patrocinador garante o valor das aposentadorias. Eventuais deficit são administrados pela instituição responsável pelo plano. É o caso da maioria dos fundos de pensão e de todos os RPPS (regimes próprios de previdência social) que investiram em ativos originados pelo BVA.

Os prováveis prejuízos serão cobertos pelas empresas patrocinadoras dos planos ou por Estados e municípios.

Ao que tudo indica, a lógica do investimento em papéis do banco foi diversificar a carteira para conseguir retorno mais elevado. E a justificativa foi a queda das taxas de juros devido ao aumento da estabilidade da economia.

Em alguns casos, a concentração foi maior do que a média do mercado. Segundo informações do Ministério da Previdência, são cerca de R$ 3,5 bilhões de recursos investidos em fundos de direitos creditórios e de crédito privado, modalidades mais arriscadas nas quais se enquadram os títulos do BVA.

Em relação ao total dos RPPS, o montante representa 5% dos investimentos em renda fixa. Os institutos de Manaus, Rolim de Moura (RO) e Senador Canedo (GO), por exemplo, investiram mais de 10% das carteiras no BVA.

Diversificação das aplicações é sempre recomendável, mas a prudência na gestão dos recursos de milhares de trabalhadores é essencial para o equilíbrio do sistema de previdência no longo prazo.

Texto publicado originalmente na edição de 19/01/2014 do jornal Folha de São Paulo

Consórcio: tente evitar

Imagine um grupo de 30 pessoas que assume o compromisso de desembolsar R$ 1 mil por mês cada durante 30 meses. O grupo contrata um administrador para, mensalmente, recolher a contribuição de todos e sortear um dos participantes para receber R$ 27 mil. Pela regra estabelecida, cada membro só pode ser sorteado uma vez. Você participaria desse grupo?

Se você for uma pessoa cuidadosa com seu dinheiro, a perspectiva de desembolsar R$ 30 mil para receber R$ 27 mil não parece nada atraente. No entanto, é assim que funcionam os consórcios que, segundo reportagem da edição de setembro da ValorInveste, estão cada vez atraindo mais pessoas.

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