Parâmetros para negociar debêntures da Vale

Os mais de 2 mil investidores que compraram as debêntures incentivadas da Vale, com rendimento isento de imposto de renda (IR), contabilizaram ganho de capital de 4% em poucas semanas. Quem não conseguiu adquirir os títulos na oferta inicial avalia, agora, a atratividade das cotações no mercado secundário.

A principal vantagem do papel é proporcionar, para os investidores sujeitos ao IR, ganhos maiores do que a remuneração das NTN-Bs de prazo equivalente. Se negociadas com a mesma taxa de juros, a isenção de imposto das debêntures incentivadas representa ganho de aproximadamente dois pontos percentuais em relação à remuneração após IR dos títulos públicos.

As debêntures da primeira série foram emitidas com taxa de juros de 6,46% ao ano mais a variação do IPCA. Na mesma data, a NTN-B com vencimento em 15 de agosto de 2020 era negociada com taxa de 6,64% ao ano.

Para avaliar a conveniência do investimento nas cotações atuais é preciso reunir informações relevantes para desenvolver as análises. Apesar de complexo, o site http://www.debentures.com.br, administrado pela Anbima, disponibiliza referências importantes.

A Anbima agrega as informações dos títulos de renda fixa negociados na Cetip, sistema privado de custódia e liquidação financeira de ativos. Os negócios são acordados diretamente entre as partes, sem a intervenção de terceiros, num modelo conhecido como mercado de balcão. É um mecanismo diferente das transações em bolsas de valores, em que as cotações são públicas e passíveis de interferência dos demais investidores.

Visando dar maior transparência para a formação dos preços e aumentar a segurança dos aplicadores, Cetip e Anbima disponibilizam dados referentes aos preços de liquidação dos negócios, cotações indicativas e características dos papéis.

No mercado de renda fixa, o parâmetro de referência para as negociações é a taxa de juros do ativo. No entanto, a liquidação financeira ocorre pelo preço unitário (PU) do papel. E conciliar taxa de juros com PU nem sempre é tarefa fácil. Para calcular o preço de um título de renda fixa corrigido pela inflação é necessário dispor de duas informações básicas: o valor nominal atualizado (VNA) do ativo e um calendário que indique o número de dias úteis entre a compra e a data do pagamento de cada cupom de juros e amortizações. Esse é o primeiro passo para calcular a taxa de retorno do investimento.

Para os profissionais do mercado, a Anbima oferece uma calculadora específica. Para os demais investidores, a saída é contar com uma assessoria especializada para evitar erros que possam gerar prejuízos. Se isso não for possível, é prudente consultar as cotações de, pelo menos, duas instituições financeiras de confiança.

Com base nas informações reunidas pela Anbima, é possível verificar que as debêntures da primeira série da Vale, negociadas na Cetip com o código VALE18, tiveram valorização expressiva, o que fez com que as taxas de retorno recuassem para até 5,52% ao ano.

O gráfico abaixo compara a taxa de retorno da VALE18 com a remuneração da NTN-B 2020 desde 12 de fevereiro. Fica evidente que parte da valorização do preço de mercado da debênture ocorreu devido à queda das taxas de retorno da NTN-B 2020 e outra parte foi gerada pelo aumento da diferença entre o rendimento dos dois títulos.

Vale18

A acentuada demanda pelos papéis da Vale, que derrubou as taxas de retorno em um primeiro momento, pode ser justificada pela vantagem da isenção do IR. No entanto, é importante definir parâmetros objetivos para evitar decisões precipitadas. Afinal, como mostra o gráfico, as cotações tendem a apresentar maior oscilação que o título público.

Existe um risco elevado ao comprar um título privado com prazo de vencimento tão longo. Se for preciso se desfazer do ativo em um momento ruim do mercado, a alternativa é vender para investidores qualificados, que possuem regra diferente para o recolhimento do IR. É importante acompanhar a evolução do mercado para identificar boas oportunidades de compra. E evitar armadilhas, reunindo a maior quantidade de informações possíveis.

Debêntures da Vale isentas de IR têm demanda expressiva

O sucesso da captação de R$ 1 bilhão de debêntures emitidas pela mineradora Vale colocou em xeque o senso comum de que o investidor brasileiro possui apenas visão de curto prazo. O vencimento dos títulos varia de 7 a 15 anos e a empresa usará os recursos para financiar a expansão das atividades operacionais. Quase 90% do volume da emissão foi comprado por mais de 2 mil pessoas físicas.

O desejo de conseguir proteção contra a inflação, a vantagem de não pagar Imposto de Renda (IR) sobre os rendimentos da aplicação e o alto grau de reconhecimento da companhia foram os fatores decisivos para o sucesso da operação. Uma demanda crescente por papéis indexados aos índices de inflação vem sendo criada devido às dúvidas sobre a real capacidade do governo em manter a alta dos preços em patamares controlados. A oferta da Vale preencheu justamente essa lacuna.

Além disso, é consenso entre os aplicadores de que o imposto de renda que incide sobre o rendimento das operações financeiras é um assunto complexo. A forma de tributação, com várias alíquotas que mudam conforme o prazo da operação, confunde e atrapalha o investidor que busca a alocação mais eficiente para o seu capital.

Desse modo, em vez de concentrar seus esforços para manter a composição mais eficiente de sua carteira, o aplicador também precisa administrar o prazo decorrido de cada título. Por isso, devido à simplicidade, as alternativas isentas de IR vêm ganhando popularidade.

E como a Vale é uma das maiores empresas do país, passou pelo processo de privatização e possibilitou que os trabalhadores pudessem comprar ações usando parte do saldo depositado no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), terminou construindo uma sólida reputação entre os investidores.

A combinação desses fatores fez com que a companhia conseguisse captar recursos com taxas mais baixas do que as oferecidas pelo Tesouro. O parâmetro de referência para a operação foram as Notas do Tesouro Nacional da série B (NTN-B), que são corrigidas pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e rendem também mais uma taxa prefixada de juros.

A emissão foi dividida em quatro séries. A primeira foi vendida com taxa de 6,46% ao ano. A remuneração da segunda série foi de 6,57% ao ano, a taxa da terceira chegou a 6,71% ao ano e o retorno da quarta série alcançou 6,78% ao ano. Para todas as séries, além das respectivas taxas, a remuneração total é acrescida da variação do IPCA.

No dia 10 de fevereiro, data da publicação do anúncio de início da distribuição, o rendimento das debêntures de cada uma das séries estava aproximadamente 0,1 ponto percentual abaixo das NTNs-B de prazo equivalente.

No entanto, considerando o efeito do IR sobre os rendimentos dos títulos públicos e comparando o retorno das duas modalidades, as debêntures acabam levando vantagem. Assim, o rendimento líquido dos papéis das três séries mais curtas superava em 1,6 ponto percentual a NTN-B equivalente. E o ganho relativo da série mais longa era de 1,2 ponto percentual.

DebVale

Um ponto importante a ser acompanhado é a liquidez dos títulos. Como o incentivo das pessoas físicas foi a isenção do IR, os papéis saíram sem o prêmio sobre o risco de crédito. É pouco provável que os investidores institucionais, que não têm o benefício fiscal, comprem títulos da Vale com rentabilidade inferior aos papéis públicos. O volume de transações no mercado secundário, então, tende a ser pequeno.

De qualquer forma, o sucesso da emissão da Vale mostra que as boas alternativas de investimento estarão sempre no radar dos aplicadores e com potencial para atrair o interesse de milhares de brasileiros.