A confirmação do novo ministro da Fazenda sinaliza uma significativa mudança no rumo da política econômica do governo Dilma. Mas os desafios da nova equipe são grandes.
Para os investidores, o atual ambiente demanda cautela. Enquanto as novas medidas não forem implementadas e os resultados avaliados, é mais prudente administrar as emoções e concentrar a carteira em aplicações de baixo risco e prazo curto.
Os números atuais da economia brasileira são ruins. O crescimento econômico é baixo, o déficit público é alto, a inflação vem se mantendo acima do centro da meta, o desequilíbrio das transações com o exterior é elevado e o volume recorde de aplicações em operações compromissadas começa a atrapalhar a rolagem da dívida pública.
Não é uma situação catastrófica, mas está longe de ser um ambiente confortável. O lado positivo é que o Brasil tem profissionais experientes para enfrentar conjunturas difíceis, como é o caso do futuro ministro Joaquim Levy.
O ajuste inevitável em períodos de descontrole da economia é uma combinação que envolve cortes de gastos públicos, aumento de impostos e elevação dos juros. Quando a receita dá certo, a cotação do dólar tende a cair e os títulos públicos longos podem registrar expressiva valorização.
Os índices das ações da bolsa de valores e o preço dos imóveis costumam demorar mais tempo para se recuperar. O intervalo depende da intensidade dos ajustes e da credibilidade da equipe do governo.
Mas há contrapartidas, especialmente no curto prazo, na forma da redução do nível de atividade e da geração de empregos. Isso porque a lucratividade das empresas fica menor em um cenário de juros mais altos e maior taxação.
O grande trunfo do governo Dilma, e que em larga medida garantiu a reeleição, é o baixo desemprego. A disputa por trabalhadores tem proporcionado seguidos aumentos do salário médio acima da inflação.
Esse fato, somado à maior facilidade para obter crédito pessoal, criou um ambiente que vinha garantido a expansão do consumo das famílias em ritmo acelerado. A campanha da presidente foi hábil em capturar esse sentimento da população e conseguiu um bom contraponto aos resultados macroeconômicos ruins.
Agora, passada a disputa eleitoral, o momento é de correção de rumos. Os dados mais recentes sobre o Produto Interno Bruto (PIB), divulgados na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE), mostram novos sinais que indicam o completo esgotamento do antigo modelo.
Um dos principais motores da popularidade da presidente Dilma, o consumo das famílias cresceu 1,5% no acumulado dos últimos quatro trimestres encerrados em setembro de 2014, comparado ao mesmo período do ano anterior. É a menor taxa desde 2004.
O resultado do PIB parece ter sido a pá de cal sobre as discussões a respeito da eficácia da atual política de incentivos governamentais discricionários, intervenções setoriais e crédito subsidiado. Ao que tudo indica, a anunciada guinada na maneira de conduzir a economia está embasada no consenso de que a insistência na fórmula antiga poderia levar a uma crise de grandes proporções.
Daí a justificativa para a mudança dos gestores da política econômica, apesar de todo o violento discurso ao longo da campanha contra banqueiros e economistas neoliberais.
Sem dúvida, a nova política econômica teria mais credibilidade se estivesse sendo implantada por um novo governo, com orientação ideológica. Será preciso, então, mais esforço para conciliar o discurso da presidente Dilma com a prática imposta pelo Ministério da Fazenda.
Mesmo considerando as incoerências políticas, a reviravolta da posição do governo já repercutiu positivamente sobre os preços dos ativos, em especial nos mercados de renda fixa e câmbio. Os juros das Notas do Tesouro Nacional com taxas prefixadas ou indexadas à inflação caíram bastante nos últimos dias.
Mas ainda é muito cedo para cravar uma tendência. Um questionamento legítimo é imaginar se as novas orientações são apenas uma postura tática para enfrentar uma conjuntura mais difícil ou significa realmente uma reorientação estratégica das ações do governo. Essa dúvida só vai ser esclarecida com o tempo.
Uma primeira indicação da nova postura foi dada pelo Banco Central ao aumentar a taxa Selic logo na primeira semana após a reeleição. Outro aumento está previsto para esta semana. Mas é fundamental complementar as ações da política monetária com o ajuste fiscal que vem sendo preparado pela nova equipe econômica.
A combinação de juros altos com déficit fiscal é a receita para descontrole inflacionário, queda do valor de mercado dos títulos públicos e desvalorização cambial – o inverso do cenário atualmente imaginado. Assim, é prudente manter a paciência. Apostar no controle de risco e aproveitar as altas taxas de juros de curto prazo parecem ser as opções adequadas.
Se efetivamente a inflação cair e a situação econômica melhorar, novas oportunidades de investimento podem aparecer.