O risco da falta de credibilidade

Ministro da Fazenda demissionário e campanha política da atual presidente bombardeando a independência do Banco Central (BC) são os novos combustíveis para alimentar a oscilação do preço dos ativos financeiros.

O ambiente vai se tornando cada vez mais propício para especular com o “kit eleições”. Os fundos de ações locais não embarcaram na estratégia. E continuam mantendo as carteiras concentradas nas ações com melhores perspectivas a longo prazo.

O risco, no entanto, é que os grandes fundos multimercados e as tesourarias dos bancos comecem a montar posições para explorar as contradições do atual governo. Uma combinação de alta da inflação com subida do dólar é o resultado mais frequente quando ocorre uma perda de confiança generalizada na condução da política econômica.

Por enquanto, dois fatores impedem a deterioração mais acentuada do cenário. O primeiro é a perspectiva de que a candidata governista perca a eleição. O segundo é a maleabilidade das convicções políticas dos governantes quando estão no poder.

Como tem sido apontado, o presidente Lula, mentor da presidente Dilma, manteve Henrique Meirelles, banqueiro, no comando de um BC razoavelmente independente durante seus oito anos de mandato. Sinal de que o atual discurso contra a autonomia do BC pode ser apenas uma bravata.

O próximo governo terá que enfrentar as consequências do reajuste do preço dos combustíveis e do custo das passagens dos transportes urbanos. Para controlar a inflação será preciso disciplina fiscal e, eventualmente, aumentar os juros.

Adotar uma política conservadora depois de massacrar o “neoliberalismo da candidata ambientalista patrocinada por banqueiros” pode causar problemas de credibilidade para o novo governo da presidente Dilma. Postergar ainda mais os ajustes parece uma alternativa fora de questão.

O Brasil precisa administrar uma dívida interna de quase R$ 3 trilhões, sendo que aproximadamente R$ 700 bilhões são rolados no curto prazo pelo BC. Além disso, existe o desafio de financiar o déficit no balanço de transações correntes internacionais.

É compreensível que a estratégia eleitoral da presidente Dilma seja manter a preferência de quase 50% dos votos entre a faixa da população com renda familiar de até dois salários mínimos.

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O excesso de simplificação do discurso político, no entanto, pode provocar efeitos colaterais. O risco de perda de credibilidade pode ficar alto se o abuso de compromissos eleitorais atingir um ponto de difícil reversão.

Por enquanto, as promessas ainda estão dentro das margens de tolerância dos administradores de recursos.

Um pensamento sobre “O risco da falta de credibilidade

  1. As convicções na área econômica da presidente, não devem mudar, mesmo porque, ela não convive com opiniões contrárias à sua. Estamos vendo a situação econômica do país deteriorar-se, sem uma estratégia de médio e longo prazo. A mediocridade nesse contexto chegou a limites inaceitáveis. Como planejar num contexto dessa natureza?

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